Podemos marcar nossas férias na montanha para dezembro de 2012?

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Depois de algumas Quilmes com meu irmão e um amigo de longa data em um Pub aqui perto de casa, e o assunto montanha ter cessado, entramos em complexos temas que só se discute nestes momentos, ou seja, falar abertamente sobre teorias do mundo antigo sem ser chamado de doido por familiares e amigos.


Falamos do suíço Erich Von Däniken e seu best-seller “Eram os Deuses Astronautas?”. Passamos por Isaac Asimov (Eu Robô), Atila Barros (eu) e o livro Badhezir, este sobre a Pedra da Gávea, Andy Wachowski (Matrix), Charles Berlitz, (autor de livros como “O Triângulo das Bermudas”), Reinhold Messner e o Pé Grande, e paramos no médico peruano Dr. Javier Cabrera Darquea, descobridor das Pedras de Ica. Juntando tudo isso o resultado final seria o fim do mundo como o conhecemos, não pelo aquecimento global ou uma guerra entre Espanha e Holanda, estamos falando do fim do mundo pelo calendário Maia, os Códices* desta civilização. Meu irmão Marco Barros, que acabara de desenterrar o livro de Charles Berlitz em meio a alguns outros livros que deixei na casa de nossa mãe, é tão aficionado por enigmas da humanidade quanto eu sou por arqueologia da America Latina. Chegar a um consenso sobre o fim do mundo com tantos nomes e livros é como escalar uma via muito difícil, olhar para baixo e descobrir que o cara que está te dando segurança deixou a corda frouxa enquanto fotografava a paisagem. Você sabe que não pode cair.

Voltando ao fim do mundo, que seria em 21 de dezembro de 2012, só para estragar os planos de fim de ano do pessoal que foge do Brasil para Patagônia em meados de dezembro para escalar (o fim do mundo não poderia ser em março ou abril?), vou tentar não cair e desmentir esta data cabalística.

Como diria nosso velho amigo Harrison Ford em seu melhor desempenho como Indiana Jones, se quer aprender algo, saia da biblioteca. Resumindo, a verdade esta lá fora (frase do bom agente Fox Mulder, do Arquivo-X). Seguindo esta linha de raciocínio do Dr. Jones, vamos desfazer o mito. Em nenhum dos 15 mil textos existentes dos antigos Maias, cultura mesoamericana pré-colombiana, estão escrito que em 2012 haverá grandes cataclismos. Essa crença foi originada em escritos esotéricos da década de 1970, daqueles mesmos autores que citei no inicio do texto.

Para entender melhor do que estamos falando, o sistema de escrita Maia que deu origem a toda essa confusão (geralmente chamada hieroglífica por uma vaga semelhança com a escrita do antigo Egito, com o qual não se relaciona) era uma combinação de símbolos fonéticos e ideogramas. É o único sistema de escrita do novo mundo pré-colombiano que podia representar completamente o idioma falado no mesmo grau de eficiência que o idioma escrito no velho mundo.

As decifrações da escrita Maia têm sido um longo e trabalhoso processo. Algumas partes foram decifradas no final do século XIX e início do século XX (em sua maioria, partes relacionadas com números, calendário e astronomia), mas os maiores avanços se fizeram nas décadas de 1960 e 1970 (quando se deu as especulações sobre o assunto 2012) e aceleraram daí em diante de maneira que, atualmente, a maioria dos textos maias pode ser lida quase completamente em seus idiomas originais. Lamentavelmente, os sacerdotes espanhóis, em sua luta pela conversão religiosa, ordenaram a queima de todos os códices Maias logo após a conquista. Assim, a maioria das inscrições que sobreviveram são as que foram gravadas em pedra e isto porque a grande maioria estava situada em cidades já abandonadas quando os espanhóis chegaram.

Para minha sorte, esta semana o diretor do Acervo Hieróglifo e Iconográfico Maya (Ajimaya) do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH), Carlos Pallán, confirmou minha teoria e disse que só em dois deles (códices) há “duas inscrições” que falam em 2012, mas “só como o final do período”. Atualmente restam apenas três destes livros e algumas outras páginas de um quarto, entre todas as grandes bibliotecas então existentes.

Perante este fechamento do ciclo, os profetas modernos afirmam que um buraco negro no centro da galáxia, quando se alinhar com o Sol, romperá o equilíbrio. Com isso, será modificado o eixo magnético da Terra e as consequências serão nefastas.

O cientista destacou em comunicado que estas versões apocalípticas foram geradas em publicações esotéricas nos anos 1970, as quais assinalavam o fim da civilização humana para 2012, data que coincide com o décimo terceiro ciclo no calendário Maia, no dia 21 de dezembro.

Pallán explicou que “para os antigos Maias, o tempo não era algo abstrato, era formado por ciclos e estes às vezes eram tão concretos que tinham nome e podiam ser personificados mediante retratos de seres corajosos. Por exemplo, o ciclo de 400 anos estava representado como uma ave mitológica”.

“Os Maias jamais mencionam que o mundo iria acabar. Jamais pensaram que o tempo terminaria em nossa época, o que nos reflete à consciência que alcançaram sobre o tempo, a partir do desenvolvimento matemático e da escritura”, destacou.

Acrescentou ainda que os Maias se preocupavam em efetuar rituais que de algum modo garantissem que o ciclo por vir seria propício, e, no caso particular de 2012, é notada uma insistência em que “ainda em data tão distante vai ser comemorado um determinado ciclo. Este foi o miolo da confusão”.

O arqueólogo disse que, no entanto, de acordo com os cálculos científicos atuais, a data astronômica precisa do fim de seu ciclo seria 23, e não 21 de dezembro, o que não muda muito, já que não teríamos Natal neste ano. Pensando melhor, também não teríamos o especial de fim de ano com Roberto Carlos e as festas de encerramento de algumas emissoras na virada de 2012 para 2013. Ficaríamos livres disto.

Benefícios á parte, Pallán também esclareceu que os Maias legitimavam seu poder mediante os calendários e vinculavam os governantes com esses ciclos e com deuses citados em relatos ancestrais ou em mitos. Ou seja, sacrifícios e mais sacrifícios em nome desta data, já que os Maias sacrificavam humanos e animais como forma de renovar ou estabelecer relações com o mundo dos deuses. Normalmente, eram sacrificados pequenos animais, como perus e codornas, mas nas ocasiões muito excepcionais (tais como adesão ao trono, falecimento do monarca, enterro de algum membro da família real ou períodos de seca) aconteciam sacrifícios de humanos. Nessas ocasiões as crianças entravam pelo cano, ou melhor, na faca. Estas eram muitas vezes oferecidas como vítimas sacrificais, pois acreditavam que essas eram mais puras. Mesma modalidade praticada por Incas e Astecas e outros ritos doentios que ainda perduram em nosso século.

Agora que a explicação do mito 2012 foi dada, restou só um filme muito fraquinho nas locadoras sobre este dia fatídico. Devemos lembrar que o mundo já acabou por profecias inúmeras outras vezes e ainda estamos aqui. Se forem os deuses astronautas e os Incas, Maias e Astecas descendentes de destes alienígenas, eu não tenho como afirmar, mas 2012 ficará só nos sites apocalípticos que estão hoje na internet. Esperamos que sim, assim posso marcar minhas férias de dezembro em paz.

Força sempre.

Atila Barros

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Sobre o autor

Atila Barros nasceu no Rio de Janeiro, e vive em Minas Gerais, cidade que adotou como sua casa. Escalador (Montanhista) há 12 anos, é apaixonado pelo esporte outdoor. Ele mantem o portal Rocha e Gelo (www.montanha.bio.br)

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