RASGANDO A SERRA FINA AO MEIO!!! – P2

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O isolamento, a altitude acentuada, a escassez de água e espaço tornam a Serra Fina uma das travessias + difíceis e emocionantes do Brasil, cujo pto alto é a subida da Pda da Mina, pico culminante da Mantiqueira.

Fotos José Augusto C.



E lá partiram ambos, as 9hrs, retornando td aquilo q havíamos palmilhado ate então. Nesse meio-termo eu e o Guto ficamos descansando, explorando arredores, tomando conta das coisas do Ângelo ou simplesmente discutindo o ocorrido, enqto afastávamos mosquitos irritantes. O incidente nos havia deixado abalados: primeiro pq o Ricardo era quem tava melhor condicionado fisicamente e agora retornava antes da hora, segundo pq ele era o nosso navegador e usava gps como ninguém, havia plotado os ptos-chave da travessia e era o único q sabia manusear aquele trambolho q agora tava em nossas mãos, de enfeite!!! Ou aprendíamos a utilizá-lo ou nos virávamos estudando atentamente a carta q dispúnhamos p/ prosseguir. Havia um pto de acesso à crista fundamental (q chamamos de “Pto G”), q teríamos q achar de qq jeito, do contrario seriam + 2/3 dias de volta. C/ o Ricardo esse pto seria fácil de encontrar (mesmo c/ mau tempo), mas agora isso era incerto, contávamos apenas c/ nossa experiência em farejo de trilha, leitura de mapas e sorte, principalmente! Seja o q Deus quiser. Continuamos mesmo assim, decididos, afinal não esperamos 2 anos p/ voltar de mão abanando, s/ ao menos tentar chegar ao fim…

As 13hrs o Ângelo retornou, em meio aos espelhos d´água formados pelos poços, agora realçados pelo sol de inicio de tarde. Contou q deixou o Ricardo no inicio da estrada (onde saltamos do caminhão) e q este pareceu + conformado c/ a situação e em condições de retornar o restante a pé sozinho. Demos 1hr p/ nosso bravo Ângelo descansar e comer alguma coisa e as 14hrs, retomamos nossa pernada rio acima, mesmo tendo perdido quase meio-dia por conta do ocorrido.

Continuamos nossa escalaminhada, agora c/ atenção redobrada. O passo é lento e cauteloso procurando as melhores pedras para pisar. Chegamos então num belíssimo poção azul enorme, q teve de ser contornado pela direita, na base de muito trepa-pedra. Mais acima, alcançamos outro belo poço, desta vez na base de uma linda cachu, q por sua vez só foi possível ser transposta varando mato por sua íngreme encosta esquerda. Felizmente, logo o terreno nivelou e o caminhar tornou-se menos desgastante por um bom tempo, bastando apenas andar pelas pedras, num trecho bastante bonito.
Após passar pelo q foi a fundação de uma antiga ponte, o percurso ficou outra vez terrivelmente íngreme e acidentado, demandando escalaminhada atrás de escalaminhada!!! A partir daqui o avanço tornou-se lento devido à seqüência de cachus, poços e paredões rochosos verticais bloqueando nosso avanço a cada degrau vencido, q exigiam serem contornados varando a encosta íngreme de bambus na base do facão ou escalando mato na raça!

As 15:40 caímos num lindo poção aos pés de outra enorme e belíssima cachu, s/ possibilidade de ascensão direta pelas pedras. Daí tivemos q nos enfiar em sua íngreme encosta esquerda, e buscar meios de chegar ao alto da cachu, escalaminhando mato, s/ nos afastar muito do som do rio, ao nosso lado. Após muita ralação na floresta, estudar terreno e nos arrastarmos pelo quebra-corpo de uma pequena grota, conseguimos descer por uma encosta de bambuzinhos, ate cair novamente no leito do rio. Apesar do avanço lento, ganhávamos altitude num piscar de olhos!

Após escalaminhar + blocos desmoronados de pedras no caminho, do Guto novamente escorregar e cair na água, e do cansaço geral começar a bater em todos, resolvemos encerrar o expediente ao perceber q o terreno estabilizara outra vez. Logo encontramos uma encosta razoavelmente plana – um quase platô – em meio ao denso e espesso bambuzal na margem esquerda (1350m), e foi lá mesmo q jogamos as cargueiras. Assim, as 17:45, roçamos bem o local de forma a acomodar 2 barracas e uma rede, alem de preparar a janta antes da hora, exaustos daquele dia! Qdo a última claridade se extinguia por detrás da serra e os uivos da suave brisa chacoalhando o arvoredo já tomavam o ambiente, nos recolhemos a nossos “aposentos” p/ dormir quase 10hrs seguidas! Desta vez não tivemos o visu do céu estrelado por estarmos dentro de floresta fechada, mas tivemos como cia permanente os sons da mata e dos murmúrios do rio ao nosso lado.
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3º DIA – ESCALAMINHADAS EM MEIO À NEBLINA
Preguiçosamente, acordamos no raiar da alvorada, as 6:15hrs. O dia estava frio, nublado e nada promissor. Olhando vale abaixo podíamos ver perfeitamente um tapete de nuvens cobrindo td baixada, deixando apenas o topo das montanhas visíveis, tal qual ilhas rochosas num mar alvo. E assim q nossas mochilas engoliram td equipamento e após um rápido café, pusemos pé-na-trilha por volta das 7:30, no frescor daquela manha de sábado.

Inicialmente andamos tranquilamente por um leito plano de pedras, mas não tardou ao terreno ficar + íngreme. Daí foi um repeteco da tarde anterior: chega num poço/cachu, contorna o mesmo varando-mato pela encosta até retornar ao rio, e dali repetir o processo, ou escalaminhar os blocos de pedra no caminho. E assim sucessivamente. Mas ao reencontrar o rio, após descrever um grande semi-círculo pela encosta da mata p/ transpor um enorme poço, caímos em seu largo leito… seco!?

Continuamos em frente, mas daí veio a duvida se estávamos de fato indo pelo rio correto, uma vez q ouvíamos a água correndo bem + à esquerda, no meio da mata. Será q passamos alguma bifurcação desapercebidos? Foi ai q então paramos p/ pensar (1400m), examinar melhor o mapa, fuxicar o gps e nos separarmos p/ ver se estávamos no caminho certo. P/ complicar, uma forte neblina tomou conta do vale conferindo-lhe um certo charme jurássico, quase místico, mas tornando impossível avaliar a carta c/ o terreno a nosso redor. Como o Ângelo havia ido rio acima, eu fui na direção oposta apenas p/ chegar a conclusão q estávamos na direção correta e q a água q se ouvia era apenas alguma resurgencia do rio naquele trecho seco. Não sabendo por qto tempo ficaríamos s/ água, enchemos nossos cantis e seguimos adiante, agora escalaminhando forte as pedras c/ mto + facilidade pelo rio seco. Ou quase, já q a neblina se encarregava de umedecer de leve as rochas.

Não demorou a reencontramos a água correndo novamente pelo rio, logo adiante, apenas p/ sublinhar q estávamos no sentido correto. Após contornar uma bela cachu pela direita em meio à mata, vieram um longo trecho de subida de rio por gdes lajotas inclinadas e largas rampas de pedra, algumas das quais avançamos c/ ajuda da vegetação servindo de corrimão. Assim, as 11hrs tivemos um breve pit-stop p/ beliscar alguma coisa, sentados à beira de um enorme poção (1525m). O tempo ameaça limpar, mas era pura ilusão. O grosso nevoeiro insistia em perdurar ate o final do dia. Só torcíamos p/ q ele não perdurasse ate o dia sgte, pq ai sim a coisa complicaria.

Continuando a dura pernada, as 11:15 topamos c/ um riachinho despencando na forma de uma gde cachu no rio q palmilhávamos, à nossa esquerda (1571m), mas não desviamos nosso percurso, cujo ritmo e sentidos permanecem inalterados. Mais adiante o vale parece se afunilar num cânion, nos obrigando a bordejar os obstáculos sgtes através do mato da encosta. Contudo, cada obstáculo vencido acaba num lindo visu q justifica breves paradas p/ descanso e contemplação, mesmo c/ tempo enevoado! Mas qdo aparecem novos obstáculos, eis q o Guto, nosso “geógrafo-engenheiro”, tem a gde idéia de&nbsp, – ao invés de contornar pelo mato – improvisarmos “pontes” ou “escadas” seja c/ pedras ou troncos p/ seguir adiante, idéia q veio a calhar em + de uma ocasião. Entretanto, um paredão enorme logo adiante nos obriga a seguir pela íngreme encosta de mato, q por sua vez demandou o uso de corda pela 1ª vez na empreitada: feito lagartixa, Guto escalou a encosta p/ depois puxar as pesadas cargueiras c/ a corda, permitindo q depois escalássemos a piramba s/ maiores dificuldades! E nada da neblina se dispersar.

Após escalaminhar (c/ corda) um novo paredão vertical ao lado de uma cachu, resolvemos dar um novo tempo p/ descanso, as 14:30, agora ao pé de uma enorme garganta, na qual pareceu q estávamos literalmente emparedados (1745m) por duas enormes muralhas de rocha! O rio agora se espremia neste corredor de pedra q, por sua vez, sempre apresentavam fezes de algum bicho.

Dando continuidade à escalaminhada e apos contornar no mato uma enorme rocha partida no meio do rio, aparece na nossa frente uma muralha de rocha q podia ser vencida apenas num setor onde haviam lajotas inclinadas úmidas (e escorregadias) q davam acesso à continuidade do rio, logo acima (1770m). Novamente a corda foi fundamental p/ poder transpor + esta barreira, q parecia não ter fim. Foi ai q, as 16:30, a neblina se dispersou permitindo q um maravilhoso visu se descortinasse, pudemos apreciar td q havíamos subido ate então, c/ o estreito cânion serpenteando td vale, q se estreitava logo abaixo. Na baixada, td horizonte ainda estava tomado pela densa camada de nuvens que dançava ao embalo das brisas. Mas o melhor era poder vislumbrar o cume dos enormes maciços à nossa volta resplandecendo à luz do sol daquele final de tarde! Maravilhoso!

O dia quase findo nos lembrava da necessidade de parar. Perdidos em meio à admiração da paisagem e muitos cliques, constatamos q o local em q estávamos era o único razoavelmente plano p/ acomodar 2 barracas apertadas. Do lado de um enorme lajedo q nos serviu de cozinha e um poção tinindo de gelado q nos supriu da água necessária, foi ai q encerramos o expediente do dia, s/ pestanejar (1800m)! Não houve mta necessidade de roçar nada, o local era perfeito. No entanto, ali era bastante frio, havíamos subido o bastante já p/ sentir a mudança de clima, alem da vegetação, já q não haviam + arvores de gde porte, o q me obrigou a pernoitar na barraca do Ângelo. Assim q escureceu nos agasalhamos por completo pq o frio era de lascar. Preparamos nossa janta enqto a noite se coalhava de zilhoes de estrelas, q se refletiam no espelho d´água do poção ao nosso lado! C/ a noite tb vieram os mocózinhos – ratinhos selvagens&nbsp, – atrás de sobras, o q nos obrigou a levar td comida p/ dentro das barracas. Satisfeitos e vencidos pelo cansaço, na seqüência nos recolhemos à nossas humildes choupanas e dormimos a noite toda num sono só, apesar do frio q esteve próximo dos 4ºC.
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4º DIA – ESCALADA NERVOSA E CONQUISTA DA MINA
O domingo amanheceu radiante, c/ céu limpo e bastante promissor. Levantamos cedo na expectativa e ansiedade por achar o tal “Pto G” de acesso à crista, e de atingir o cume da Pda da Mina. Diferentemente do dia anterior, estávamos + confiantes e decididos, a navegação visual era perfeitamente possível já q agora podíamos avaliar a crista a seguir, cada vez + próximas. Alem disso, o Ângelo já sabia ler as coordenadas no gps, e o Guto podia precisar nossa posição na carta, principalmente através da altitude! Puro trabalho em conjunto! Enfim, nos sentíamos num “Nido de Condores” prontos p/ ataque deste&nbsp, “Aconcágua” tupiniquim. Animados, arrumamos as coisas, tomamos café e zarpamos as 7:30.

De cara tivemos q escalaminhar um mato p/ transpor uma pequena cachu, p/ depois seguir pelas pedras e bordejar uma colossal área de desmoronamento. Novamente no leito do rio, cada vez c/ menos água, uma bifurcação nos obriga a tomar a direita e, as 8:10, uma nova bifurcação nos leva à esquerda, sempre acompanhando o curso d´água. Entretanto, esta outra bifurcação era marcada por uma enorme cachu q deveríamos escalar ate o topo, q demandou novamente o uso da bendita corda. Após cautelosa escalaminhada, nos esgueiramos por uma estreita canaleta no paredão, adentramos numa pequena grota, ate emergir através de um buraco no alto da mesma, as 9hrs! A vista daqui de cima era fantástica: alem do rio serpenteando vale abaixo, víamos um espesso mar de nuvens atrás, na baixada.

A partir daqui o rio já quase nem água tinha, apenas pequenos filetes escorrendo aqui e ali. E como seu leito cada vez se reduzia +, ficou ate relativamente fácil seguir em meio as gdes pedras do percurso, bem + seco apesar de íngreme. Assim, galgamos sucessivos degraus em meio ao frescor de uma ultima mata alta, ate cair noutra bifurcação (1970m), as 9:50, onde obviamente tomamos à esquerda, segundo a carta. Algumas marcas de facão e vestígios de pisadas apenas nos cobriam de razão qto o sentido a seguir.

Daqui em diante avançamos desimpedidamente por um leito seco e logo através de uma pequena garganta, q foi vencida por sucessivas lajes inclinadas, ganhando altura respeitável. O trajeto se afunila mais, ate sermos espremidos por estreitas fendas (2100m). As 11:20, o visual muda por completo. Agora no aberto, a mata alta deu lugar a vegetação rala de altitude&nbsp, (caratuvas, capim e bambuzinhos) e as cristas e maciços pareciam estar ao alcance de nossos dedos, dourados pelo sol matinal, de tão próximos q estavam! Foi ai q o Ricardo ligou pelo celular, as 11:30, p/ nos contar de seu estado e q havia chegado bem, alem de nos desejar boa sorte.

Continua em RASGANDO A SERRA FINA AO MEIO!!! – P3 – a seguir.

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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