Resgate de Bernardo depende da justiça

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Mesmo que missão seja autorizada, será difícil chegar onde amiga deixou o brasileiro


BUENOS AIRES – As autoridades argentinas ainda não definiram se resgatarão o corpo do alpinista brasileiro Bernardo Collares Arantes, de 46 anos, que na segunda-feira sofreu um grave acidente quando descia o Monte Fitz Roy, em El Chaltén, na província de Santa Cruz, extremo sul da Argentina. Ele escalava o monte com a amiga Kika Bradford, que foi obrigada a deixá-lo na montanha, com hemorragia interna e provável fratura da bacia, para tentar buscar socorro. Kika chegou à base um dia depois. As más condições climáticas impediram o envio de resgate.

Por trás da decisão final, que está nas mãos da Justiça Federal da cidade de Río Gallegos, estão as graves dificuldades para se aproximar do lugar do acidente, os problemas climáticos que afetaram a área nesta semana, além dos riscos aos integrantes da missão de resgate. O Fitz Roy, uma agulha de granito, é um dos picos de escalada mais difícil na América do Sul.

“A Justiça até pode determinar que seja formada uma missão para resgatar o corpo. Mas aí vai aparecer um problema: quem estará disposto a subir até lá? Descer com um corpo ou uma pessoa ferida é uma tarefa complicadíssima. Seria mais ou menos como se o juiz ordenasse que alguém pulasse de um precipício. Não é fácil”, explicou ao Estado um integrante das forças de segurança da região que pediu para não ter a identidade revelada.

Bernardo – presidente da Federação de Montanhismo do Estado do Rio de Janeiro e vice-presidente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada – caiu quando a corda do rapel que usava soltou-se do ponto onde estava ancorada. Ele despencou 15 metros. As autoridades de Santa Cruz consideram remotas as chances de encontrá-lo vivo.

O oficial Irález, da Gendarmería (corpo com funções policiais em zonas de fronteira) em El Chaltén, disse ontem ao Estado, por telefone, que ainda não foi formada nenhuma “comissão para resgatar o corpo”.

Segundo Irález, “o resgate, se for realizado, será complexo, já que as condições climáticas ao redor do pico costumam ser adversas”. Para complicar, o lugar onde o alpinista caiu é de difícil acesso. Tentar chegar de helicóptero é praticamente impossível por causa dos fortes ventos – que poderiam arremessar o aparelho contra a montanha – e da falta de lugar para o pouso.

O oficial disse ainda que Bernardo e Kika não informaram à Gendarmería nem às autoridades dos parques nacionais sobre a perigosa escalada. “Não existe a obrigatoriedade de informar. No entanto, seria conveniente que as pessoas avisassem quando fazem esse tipo de escalada.”

Outras mortes. Em dezembro, um mês antes do acidente de Bernardo, houve outra morte na mesma região. O alpinista mexicano Mario Corsalini ficou preso em uma geleira quando fazia trekking. Em agosto passado, foi a vez do alpinista argentino Felipe González, que se perdeu na área do Passo Marconi. Seu corpo só pôde ser resgatado dois meses depois. Depois dos acidentes, os habitantes da região reclamaram com as autoridades argentinas sobre a falta de helicópteros para emergências.

Fonte: www.estadão.com.br

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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