TRAVESSIA 7C – Atravessando Sete Corcovas do Dragão Ibitiraquire

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O papo de fazer a 7C surgiu derrepente, não sei bem como, andávamos falando em fazer o Agudos ou a Graciosa e “ cantando” o Jurandir Constantino pra nos guiar , além do mais eu e o Sergio já andávamos com uma saudade rasgada da Serra do Ibitiraquire e dos nossos amigos de lá . Acho que entre uma e outra sugestão o Jurandir Constantino em papo no chat do face resolveu que essa era uma boa. O Sergio topou na hora, e eu não ia perder , embora mais de 3 meses na mais completa inércia, sem fazer nada de atividade física que não fosse ir até o carro eu sabia bem que ia atrapalhar …. O bicho ia pegar com certeza, mas minha teimosia sempre foi maior que qualquer dificuldade…

A 7C não é pra qualquer vivente, não querendo me gabar agora por ter conseguido termina-la , até porque consegui mais na raça e no psicológico do que por condição física, mas ela é puxada e não é brincadeira fazer 7 montanhas , das consideradas grandes  em menos de 24 hs com um pernoite meio improvisado na chuva…
 
A previsão do tempo era preucupante: chuva no final de semana todo e trovoada! Me molhar não me importo, nem amassar lama na trilha,  mas raio?  O  Sergio seguia dizendo que ia fazer e  que era melhor que chovesse pois estava calor, o outro parceiro da empreitada era o Fred, que já havia feito a primeira 7C, numa versão mais curta : a 5C pois ele tinha desistido no Caratuva já que a anterior foi feita de ataque, duma vez só (não consigo imaginar isso), pois ele também estava bem decidido e não parecia muito preocupado com chuva também…Cada um seguiu a semana com seus afazeres e na sexta feira embora a previsão do tempo continuasse ruim, e eu ainda tentasse transferir pra uma data mais propícia por causa dos raios o Jurandir me deu a palavra final: “com raio ou sem raio vc vai fazer a 7C!”  Então tá, se ele falou ta falado né…Eu intimamente pensei que ainda na ultima hora eles pudessem desistir e como era o fim de semana que nossos camaradas Elcio Douglas e Helton Laufer  voltavam dos Andes, pensei que seria uma boa em vez de fazer essa travessia meio elétrica, podíamos ir recepcionar nossos amigos e ir comer pizza escutando suas aventuras dos Andes no Mercedário…Mas que nada…tudo continuou de pé e nosso amigo Elcio voltou antes do previsto, já na quinta feira e quase que foi com a gente, ele que é o autor do traçado da 7C.
 
Sexta feira , após uma passadinha na Decatlhon nova de Floripa , lá pelas 3 da tarde eu e Sergio botamos pé na estrada, ainda discutindo se íamos com mochila cargueira ou de ataque. Eu queria ir leve, já o Sergio não abria mão de nada, nem do miojo, fogareiro, facão, roupa de frio, de calor, capaceteeeeeee(modinha inventada pelo Fred), enfim ele fez um mochilão pesado e eu uma mochilinha rosa de ataque com saco de dormir pra bivacar e comida pra 2 dias, além do cantil, só , nem roupa pra trocar, nem anoraque, pensei: vou que nem o Elcio, se sentir frio , me meto no saco de dormir…… hehehehehe gracinha eu me comparando com o Elcio…Mantivemos contato com Fred e ele com Jurandir Constantino, vulgo, Jura que dizia que em Paranaguá chovia canivete, mas  que mesmo assim tudo de pé…
 
Umas 19 hs chegamos no posto perto do Bolinha e lá ficamos aguardando o Fred que estava ainda saindo do trabalho e tinha que arrumar a mochila…rsrsrs rapaz responsável, todo metódico, que sabe conciliar a vida de montanhista com a de pai de família, trabalho enfim…todos nós somos assim, fazemos peripécias pra poder alguns finais de semana se mandar pra serra…
 
O Fred apareceu com uma p.. cargueira também , até barraca ele levava, é pelo jeito a única minimalista era eu…mas ainda faltava o Jura, e assim nos mandamos pra Antonina aguardar nosso amigo que ao invés de pegar o busão da 19 hs pegou o das 23 hs, (atraso de nada) .  Chegando lá como faltava muito ainda fomos fazer um happy hour num bar comer frango frito, caipirinha, cerveja, pra depois após 5 horas de estrada e toda farrinha no bar ir subir os 7 cumes do Ibitiraquire kkkkkkkk , sim era isso mesmo que estávamos por fazer!
 
Nosso amigo, ídolo  e guia da montanha Jurandir Constantino que fez o Alpha Crucis com Elcio Douglas, desembarcou na rodoviária com uma mochila de ataque, um pouco maior que a minha e assim todos partimos pra deixar um dos carros no fim da travessia e outro no começo, nisso aí gastamos horas pra lá e pra cá kkkkkkkkkkkk depois ainda tivemos que escutar do Elcio que isso que fizemos era coisa de “bêbado de boteco” pois podíamos ter feito a travessia ao contrário afinal só ficaria 40% mais difícil começar subindo a Crista do Ferraria…..hehehehe só Élcio mesmo pra dificultar o que já demanda um esforço homérico . Bom começamos meio “alegrinhos” lá pelas 3:15 da manhã no Bolinha, dois atletas de montanha (Fred e Jura) um ciclista esporádico (Sergio) e uma ociosa a mais de 3 meses (eu), no começo a diferença do preparo físico já era notável, mas.. como era começo a coisa não era tão gritante assim e  ao amanhecer estávamos todos no Camapuã para um espetáculo no céu.
 
Após muita euforia pelo céu , nuvens e sol  realçarem ainda mais o relevo montanhoso , explodindo em cores fantásticas, registramos o que pudemos com fotos e tomamos nosso café, o fogareiro do sergio afinal fez seu sucesso e nossa felicidade de tomar café com leite  quentinho , e até cappuccino que o Fred chiquérrimo levou. O Jura parecia meio espantado acostumado a andar com o Elcio que nada leva além de frutas mas participou contente do nosso café quentinho…Próximo cume seria o Tucum, bem próximo e fácil de alcançar pois fica grudado no Camapuã, chegando lá fizemos nosso primeiro registro da jornada no livro do cume e seguimos pro Cerro Verde passando pela famosinha piramba  do Tucum, uma ladeira vertical que mais assusta que outra coisa pois é tranquila de passar.
 
Após essa descidinha radical se entra num vale antes de iniciar a subida pro Cerro mesmo que é tranquila de fazer mas pela hora adiantada da manhã , o calor já tomava conta e precisávamos tomar mais água e fazer mais paradinhas , eu e o Sergio pois os outros dois sempre bem adiantados de nós. Chegando no Cerro, tempo bom e aquele espetáculo de sempre no chamado anfiteatro do Ibitiraquire, a visão dali é diferenciada e após mais um registro no livro do cume resolvemos pegar a trilha pro Itapiroca…ahaaaaaa…ali que aconteceu o primeiro incidente, digamos assim fora do plano,  tínhamos deixado as mochilas supostamente na encruzilhada da trilha que levava pro Itapiroca um pouco distante  do cume, eu achei estranho pois da ultima vez esse local me pareceu mais próximo ao cume  e desta vez parecia bem mais longe…em todo caso segui os muchachos que disseram ser ali o local.  Fomos até o Cerro, assinar livro, foto e dale descer pra pegar as mochilas. Acontece que não era ali o local de pegar a trilha pro Itapiroca, logo Jurandir se deu conta e começou a buscar o local correto, Fred achava que era atrás, Sergio achava que era ali mesmo enfim , resolvemos buscar por ali a continuação da trilha e Jura e Fred subiram novamente pra procurar mais próximo ao cume, em 10 minutos Sergio e eu desistimos pois vimos que não era por ali mesmo e ao procurar nossos companheiros eles tinham sumido, me esguelei em vão pois eles não estavam perto. 
 
Após uns 20 minutos sem saber se continuar ou esperar avistamos os dois  uns 200 mts acima e fomos atrás, mas quando chegamos mais ou menos naquela altura eles tinham sumido novamente, bom não nos restava outra a não ser procurarmos nós mesmos a maldita continuação da trilha, ali no Cerro dá pra confundir um pouco pois tem vários caminhozinhos, mas Sergio seguindo instinto e puxando pela memória lembrou qual era a trilha e resolvemos prosseguir pois nossos amigos além de bem mais rápidos a essas horas já deviam estar bem adiantados, talvez na subida final do Itapiroca e nós ainda no Cerro Verde….aí o bixo começou a pegar pois estava quente, e aqueles bambuzinhos infernais enroscando na mochila , mais a subida interminável que é o Itapiroca e sem saber direito por onde andavam o Jura e Fred meio que nos abateu a moral, duvidas absurdas começaram a passar na cabeça, será que eles prosseguiriam no ritmo deles sem nós? 
 
Eles estariam nos esperando em algum ponto diferente do que pensávamos? Mas pegadas deles na trilha nos animaram novamente, ao menos estávamos no encalço deles..e dele subida do Itapiroca, dele bambuzinho enroscando, dele sol na cabeça…mas vamos em frente. Sede tomando conta, fome e finalmente chegamos numa bica onde encontramos um possível sinal dos companheiros, um sachê de repositor energético fechado bem no filete de água que saia da bica, avistado e interpretado pelo Sergio como preocupação deles com a gente…menos mal, quem sabe eles ainda nos esperavam no Itapiroca.
 
Chegando ao cume do Itapiroca quem estava cansada era eu, com calor e escutando trovoadas cada vez mais fortes cheguei a duvidar continuar porque raio em cume é um lance meio  ….desagradável  digamos assim.  O Sergio escutou uns gritos e avisou que eram eles, menos mal, logo estávamos todos juntos. Pra eles deve ter sido uma eternidade esperar, depois fiquei sabendo que o Fred subiu como um raio o Itapiroca , ficando o Jura a nos esperar por um tempo mas depois resolveu continuar a subida , portanto subimos todos separados
 
Mais um livro assinado ao som de trovoadas nervosas e nuvens pesadas no horizonte perguntei se eles pretendiam ir pro Caratuva naquelas condições ao que eles nem pestanejaram e responderam afirmativamente. Sergio mesmo com bolhas nos pés, assadura no meio das pernas,  meio que se animou com incentivo do Fred falando em ir rapidamente pro Caratuva montar barraca, comer algo quente e descansar , ligou o motorzinho extra-forças e começamos a descer o Itapiroca bem rapidamente . Logo estávamos subindo as encostas do Caratuva, mas aí o Sergio  começou a passar mal de novo com bolhas, dores abdominais, enjoo e começou a diminuir o ritmo, além do mais a mochila dele era bem mais pesada que a minha por isso eu estava bem a essa altura, o cansaço tinha ido embora e eu só queria chegar no cume do Caratuva pra descansar. Porém  com sergio subindo naquele mal estar fui ficando pra trás com ele e perdendo os outros de vista de novo. Lá pelas tantas começou a esfriar e pingar,   e a chuva que só ameaçava realmente caiu, quase no cume falei pra o Sergio botar um anoraque porque fiquei com medo que ele branco do jeito que tava baixasse a pressão e temperatura, aí escutei o Fred gritando : vamo embora pro cume montar barraca logo galera, faltam 300 mts só (na verdade faltava bem menos) a luz foi indo embora , água que Deus mandava e depois de um precioso tempo perdido conseguimos prosseguir, mas já era tarde , naquela escuridão, estando numa trilha alternativa , nada batida, ninguém achava mais nada e eu sugeri mesmo estando próximo ao cume que ficássemos ali, pois diferente do cume do Caratuva era um local coberto, protegido do vento e bem bom de acampar, principalmente pra nós que não tínhamos barraca. 
 
Aí Fred pirou : eu tenho que ir pro cume agora!  Pedi em vão pra ele ficar ali que era mais seguro pra todos, diante do tempo ruim, trovoada e vento não seria nada agradável dormir debaixo daquelas antenas uivantes do cume. Mas na verdade a preocupação do Fred era ligar pra esposa e saber da Lara que estava com apenas 1 mês de vida e ele acreditava que lá no cume poderia ter sinal … ficamos sensibilizados porém nada podíamos fazer : a TIM é um lixo e ninguém conseguia sinal pra ligar e nem era possível já sem luz prosseguir naquela mata fechada fora da trilha que estávamos….
 
Cada um montou sua “residência” temporária, e ficou bem certinho as 3 classes sociais ali : Fred com sua super barraca pra 10 era o “homem rico” , Jura com sua lona amarela  , isolante e saco de dormir era a classe média e eu e o Sergio era só saco de dormir e isolante afinal eu não tinha deixado ele trazer barraca, ele de teimoso trouxe só a parte de cima e dormimos ali bem em contato com a natureza, bichos e tudo mais, anoite eu senti uma coisa comprida se mexer embaixo de mim mas preferi nem ver o que era e dormi de novo. Já o Sergio ia escorregando pois estávamos sobre um declive e quando eu via ele tinha desaparecido por escorregar dormindo até a lona do Jurandir, pra não deixar ele assim , eu cutucava e ele voltava pro isolante só que numa dessas ele achou que meus dedos cutucando eram na verdade um rato e deu um salto se estapeando todo . Demos muita risada disso no meio da noite e por fim a gente dormiu e acordou meio tardinho já.  Eu e Jura fizemos um café maneiro no fogareiro do Sergio e o Fred fez sopa com linguiça …. do Sergio hauhauahauhaha ….
 
Bom juntamos as tralharadas e fomos pro pico com Frederico, digo pro pico do Caratuva e lá o dia tava magnífico, tiramos oitocentas mil fotos tentamos assinar o livro mas infelizmente os últimos que estiveram lá não deixaram a caneta….pena…agora já sei sempre levar caneta reserva pro cume.
 
A descida do Caratuva pro Taipabuçu  é uma piramba nervosa, estranha e meio perigosa, acho que bem mais que a decida do Tucum, não sei se foi impressão mas lá pelas tantas prendi uma perna numa raiz e o resto de ligamento que eu tinha no joelho esquerdo foi literalmente pro pau, fez clack e temi por alguns segundos que eu não pudesse terminar a trilha andando, ainda caída e sem força nem coragem pra tentar mexer o joelho , talvez tentando retardar o momento de descobrir que eu não poderia andar, fiquei parada por mais de um minuto e o Sergio perguntando se eu podia levantar, finalmente resolvi enfrentar a verdade e levantei…tentei firmar o joelho…fiquei de pé…dei um passo..outro, faltava mais da metade da decida do Taipá  e esse seria o meu ritmo até o fim dela, mais o medo do joelho sair do lugar que dor propriamente dita, isso eu nem sentia, e se sentisse nem fazia diferença. 
 
Infelizmente isso demandou triplo do tempo  de uma decida normal . O Fred e Jura já tinham sumido de novo não antes de combinarmos de nos encontrarmos novamente na transição Taipá –Ferraria, e que transição, era um bambuzal dos infernos, onde tínhamos que nos arrastar e lutar pra desvencilhar de verdadeiras armadilhas de bambu… Após isso estávamos subindo o Ferraria e assim meu joelho descansou já que subida por incrível que pareça não incomoda . Encontramos o Jura nos esperando após uns 10 minutos de subida e após dizermos que estava tudo certo, liberamos o homem pra ir na frente, o Jurandir parece um ninja das montanhas, é silencioso, quase não deixa vestígios e ao contrário de nós que quase nos matamos , lutando naquele bambuzal ele parece ser feito de alguma matéria que transpassa os bambuzinhos pois ele passa tranquilamente quase sem sair do traçado dele, não me pergunte como isso acontece mas é assim que é….fala pouco, conta uma outra história engraçada das andanças dele com figuras conhecidas do meio montanhístico , sempre com simplicidade mas muito bom humor, grande amigo, grande guia e  parceiro de trilha!
 
O Fred era o raio da trilha , parecia estar ou correndo ou indo atrás de alguém, , o homem de capacete ,  anoraque e mochila pesada parecia não ter cansaço e seguia sempre full , adrenado , ligado nas fitas e marcas da trilha, compenetrado e decidido ele parecia seguir um plano interno além do plano geral da equipe, um objetivo dele , bonito ver esse tipo de determinação numa pessoa,  só em alguns momentos ele parecia perder o foco, era justamente quando ele via seus planos certos sendo ameaçados por dois irreverentes e inexplicáveis seres como eu e o Sergio acostumados ao improviso rsrsrss ô paciência que esse Fred teve que ter com a gente, mas tudo é aprendizado e ele parecia conformado com isso também hahahahahahaha
 
Já na parte final da subida do Ferraria recebemos a visita ilustre de uma Jararaca gigantesca, bem enrolada no meio da trilha , e cabeça imponente armada pro bote, tiramos fotos da amiguinha nada sociável , desviamos e deixamos ela em paz como deve ser, seguindo em frente. Finalmente todos reunidos no Ferraria resolvemos iniciar a derradeira decida da Crista dos 500 anos.
 
Já eram quase 18 hs quando iniciamos e eu preucupada com a escuridão que viria logo e pouco conhecimento dessa trilha não tão batida em alguns pontos pedi ao Jura e Fred que não se afastassem tanto, meu joelho tava péssimo e na descida qualquer resvalada podia significar um final bem amargo pra essa travessia, pra todos nós, já que se eu quebrasse em qualquer ponto, só sairia dali com ajuda , mas pra que pensar em tragédia, bora pensar em solução né mesmo? Como a decida era lama pura e cheia de pirambas meu joelho bambeando e sem ligamento posterior não ia aguentar um erro que fosse, resolvi usar a Crista como escorregador onde eu pudesse e assim foi, desci as pirambas lamacentas no skibunda mesmo ou me pendurando nos galhos mais fortes , tirei minha corrente talismã do pescoço e botei no bolso traseiro da calça e lá se fomos descer a Crista. 
 
A trilha é boa, foi muito bem aberta pelo saudoso Jamil dos Santos que passou um bocado de trabalho pra deixa-la aberta e transitável, todos que passamos ali devêmos te-lo na lembrança pois foi um trabalho heroico e bonito o que ele fez nessa trilha, nossas mais gratas lembranças a ele por isso. Ainda com luz passamos num degrau perigoso onde é necessário cordas , meu parceiro e maridinho fofo  , safo que é nessas horas,  me ajudou a supera-las de boa , e mais 20 minutos a luz ia embora e a escuridão tornava a Crista mais imponente e difícil de ser vencida, na verdade não é difícil, mas é extenuante e interminável, lances e mais lances de pirambas , nivela e depois mais piramba e assim vc passa por horas numa mata cheia de bichos cada vez mais indignados com sua presença por ali.  Fred e Jura na frente , Fred cantando, chamando Dianaaaaa, Sergioooooo, uhuuuuuuuuuu, assoviando e assim íamos vencendo a decida interminável, certo momento eu já estava com um rasgo na parte traseira da calça  que meu marido achava muito sensual, mas eu percebi triste que minha corrente talismã guardado nesse bolso tinha virado lenda.
 
Derrepente senti uma picada no pescoço, dei um tapa e continuei…..mais uma picada! Falei Sergio veja o que tem no meu pescoço além das mil picadas de insetos diversos pelo corpo todo, aquela picada tinha sido mais doída, ele olhou e sem responder tirou com um tapa bem forte parecendo bem assustado, na hora ele disse que era uma lagarta, mas hj fui saber que se tratava de uma espécie de “ cobrinha”, como não morri até agora acho que não morro mais….
 
Meio que perdíamos a trilha por algumas vezes mas o Jura com seus sexto sentido de homem da montanhas sempre procurava nos lugares certos e logo estávamos na trilha de novo,  Fred o homem foco também soube encontrar várias vezes o rumo certo, já na finaleira eu e o Sergio fomos atacados por formigas “carnívoras”  e desesperados sendo comidos vivos íamos esmagando e tirando elas do corpo, acontece que elas pareciam renascer e cada vez mais pra cima, e eu deseperada não parava de gemer e reclamar das formigas me picando, isso deve ter tirado o Fred do sério e acabado com a ultima paciência dele mesmo pedindo licença meio que mandou eu  tirar a parte debaixo das minhas calças que é dessas que vira bermuda , foi engraçado pois ele falava como se fosse com uma criança que fez merda: “tira as calça Diana, agora tira as formigas”,  hahahahahahah, até que ele vendo que tinha acabado de tirar na canela e algumas tinham subido disse: então tira essas calças logo, ou pede pro Sergio tirar pra vc! Kkkkkkkkkk Pra que né o Sergio se esbaldou dando tapas na minha bunda , segundo ele “pra matar as formigas”!
 
Bom acho que depois disso foi o fim mesmo, pra finalizar tinha um espinheiro violento que tinha fechado a trilha, aí o que resolveu foi o facão do Sergio que nas mãos do Jurandir abriu rapidinho passagem pra sair daquele final medonho de trilha… Foi o último olhar de triunfo do Sergio que suportou minhas críticas quanto a levar fogareiro, roupa quente de reserva, barraca, facão…enfim tudo que ele levou foi usado e bem usado! Eu e minha escolha minimalista não tinha sido a melhor opção mesmo pra essa empreitada…
 
Ainda tínhamos longos quilômetros até a fazenda e aí sim as forças foram acabando, Sergio passando mal do fígado, e eu com joelho fudido, rasgada , picada e suja de lama, êeeee perrengue bom esse! Nossos amigos incansáveis pegaram chave do carro e foram na frente pois tinham muito mais gás pra isso e nós feridos de guerra fomos a passos lentos primeiro até o cruzamento e depois vendo que eles demoravam até quase a fazenda onde nossos amigos nos aguardavam já no carro.
 
Nós tínhamos que dirigir até Floripa e já eram 3 da manhã, por isso Fred gentilmente dirigiu pra que nós pudéssemos descansar levando Jura nosso guia para casa em Paranaguá pra depois irmos até o Bolinha resgatar o carro dele . 
 
Assim terminou nossa super aventura , como sempre cheia de histórias de superação do físico e do psicológico, mais uma pra ficar na memória ! Se a Travessia Transversal foi uma experiência mística e surreal a Travessia 7C pra mim foi a travessia da realidade crua onde tudo se apresentou para que pudéssemos pensar numa solução, provações e experiências transformadas em aprendizado. Sou grata por isso mais uma vez, por ter oportunidade de caminhar na serra com pessoas super especiais. Obrigada Jurandir Constantino, Frederico Costa Filho e Sergio Sampaio foi uma honra andar com vcs!
 
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