Travessia Marins x Itaguaré

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Não esperava fazer a travessia Marins x Itaguaré ainda esse ano, minha previsão pra ela era inverno de 2015 pois nesse ano já tinha meu calendário montado, mas fui convidada pelo grupo chamado Exploradores a realiza-la neste feriado do dia do trabalho. Haviam três vagas no carro e eu tratei de chamar meu namorado e meu amigo Thiago Henrique, ambos do grupo cabô cabô.O convite chegou meio em cima da hora, mas não pensamos duas vezes e aceitamos… eu ainda tinha 2 dias para ler relatos e olhar uns tracklogs. Essa é uma travessia muito técnica, e quando você ler em alguns relatos ” alguns trechos de escalaminhadas e desescalaminhadas” não se engane, não são poucos trechos, é quase a travessia toda. A sua mochila vai rasgar em alguns lugares e se você estiver com algo fora da mochila você chegará em Itaguaré sem nada, porque as pedras vão fazendo de tudo uma farofa… Chega de bla bla bla e vamos ao que interessa… o relato.

 
Saímos de São Paulo as 05:00h e somente paramos para um rápido café na estrada e seguimos para o acampamento Base do Marins (Milton).
 
Para chegar ao acampamento base você deverá seguir para o município de Piquete-SP. Pela Rodovia Presidente Dutra (BR 116) saída 51, seguir pela BR 459, passar por Piquete e logo em seguida (800 metros) virar à direita para a Estrada Viscinal José Rodrigues Ferreira que dá acesso à Vila dos Marins. Quando chegar ao fim do asfalto, que é na saída da Vila dos Marins, suba à esquerda (foto abaixo) até o final da serra, passe o portal do município de Marmelópolis na divisa SP-MG, entre à direita (porteira com placa -APA mantiqueira) e logo em seguida você chegará ao Acampamento Base Marins.
 
  
PRIMEIRO DIA – 01/05/2014 
 
Chegamos no Milton por volta das 10:00h e começamos a ajeitar as mochilas, ir ao banheiro, passar protetor…  começamos a andar por volta das 11:00h.
Da base até o careca a trilha é bem marcada e ali foi nossa primeira parada, pois deveríamos abastecer nossos reservatórios no ponto de água.
 
Partimos rumo ao Pico dos Marins e em determinado momento a trilha some e da lugar a pedras e um pouco de mato alto, o que torna imprescindível o uso do gps, ou mapa e bussola, pois existem alguns totens pelo caminho, mas muitos deles te levam para o caminho errado, fiquem de olho para não confiarem 100% nesses totens… e é aí que começam as escalaminhadas. 
 
Ao chegar na base do pico dos Marins você verá um ponto de água e uma placa sobre presença de coliformes fecais, aí fica a seu critério usar ou não essa água para o resto da travessia. Algumas pessoas pegavam e diziam levar para caso de emergência… eu realmente fiquei com nojo e não peguei, passamos direto e fomos para o cume.
 
Chegamos ao topo dos Marins por volta das 16:00h e montamos acampamento. Meu namorado estava com dor de estômago e falta de ar e não jantou neste dia, o que nos deu uma canseira no dia seguinte.
 
O céu estava lindo, mas não consegui ficar por muito tempo observando pois a noite estava fria pra mim e o vento estava forte, então tiramos umas fotos e corremos para as barracas. Dormimos cedo para acordar bem cedo e ver o sol nascer.
 
Resumo primeiro dia:
 
*Andamos 8,4 Km
*Elevação máxima : 2420,7m
*Acampamento: Cume do Pico dos Marins
 
SEGUNDO DIA-02/05/2014
 
Acordamos as 05:50h e fomos aproveitar o que podíamos do cume , tomar café e arrumar as cargueiras para seguir com a travessia.
 
Começamos a trilha as 09:00h e de novo passamos pela água contaminada por cocô e eu não quis nada com ela, pois meu GPS marcava uma tal de "água bambu" e pelos relatos existia água no Marinzinho… é aí que começa toda a MERDA rsrsrs.
 
Nessa parte do trajeto pode-se confiar menos ainda nos totens pois existem algumas saídas para fazendas e pousadas, então preste atenção no GPS e toque pra cima e logo estará no Marinzinho.
 
Até aí tudo muito bom, tudo muito lindo. Depois do Marinzinho é que começam as emoções…  chegamos a uma pedra alta onde temos que descer por uma corda fixa … e velha. Tome muito cuidado ao descer pois a mochila cargueira te joga para o lado, tem que se ter muito cuidado. 
 
Caminhamos mais um tanto, sempre subindo e descendo pedras e resolvemos parar para ver o quanto de água ainda nos restava, já que não vimos a água no Marinzinho e nem pegamos da água cagada e aí começamos a infartar kkkkkkk a minha e do Junior não tinha mais nada e do Thiago restava meia garrafa. Estávamos perto da pedra redonda (que mais parece um bem-casado ou um totem gigante) quando descobrimos que estávamos FERRADOS , pois segundo o GPS o acampamento perto da água estava bem longe.
 
Voltamos a andar e sem parar para comer, pois daria sede e sempre que passava algum grupo, perguntávamos se havia água sobrando, mas a resposta era sempre negativa, tirando as vezes que Thiago perguntava várias vezes para o mesmo grupo … ele já estava delirando , eu acho rsrsrsrs.
 
A coisa começou a apertar por dois motivos a sede aumentava cada vez mais e logo iria anoitecer. Começamos a tomar água de bromélia (foto abaixo) para matar um pouco a nossa sede , mas não era o suficiente. O pior era que o Junior estava doente, com sede e tendo que andar o mais rápido que pudesse… ele parecia um zumbi do "The Walking Dead". Tentei aliviar um pouco o peso da cargueira dele passando algumas coisas pra minha, mas ele estava muito mal, isso não ajudou muito.
 
Quando tudo parecia perdido, sem água e começando a escurecer eu parei e pedi para que me esperassem pois a bateria do GPS estava no fim e eu precisava troca-las por baterias novas. Thiago que parecia um pouco agoniado, subiu mais um pouco e voltou gritando: tenho uma péssima noticia… e nos mostrou uma garrafa de 1 litro de água cheia!!! Fiquei na dúvida se dava uma rasteira nele e pegava a garrafa pra mim ou se perguntava qual a pegadinha… enfim , eu fiquei imóvel sem falar nada… e ele disse: pode tomar, tem mais de onde peguei essa água!!
 
Tomei a metade da garrafa de uma vez e o Junior tomou o resto e fomos correndo ver a fonte. O Thiago havia escutado gotas caindo e o barulho chamou sua atenção e no que ele foi verificar achou uma água caindo de uma pedra e formando um reservatório com bastante água. 
 
Enchemos 6 litros de água e bebemos 1 litro cada um, só por garantia e seguimos animados rumo ao acampamento.
 
Chegamos ao acampamento as 20:40h, bem cansados, mas ainda nos restava fôlego para contar aos nossos amigos o que nos havia acontecido e descobrimos que todos passaram perrengue e cada um teve a sua parcela de sorte.
 
O grupo saiu todo dividido do Marins, Rosana, Rodrigo, Renan e Otniel saíram na frente, eu, Junior e Thiago depois. Nosso amigo Otniel, acabou se distanciando do grupo e achou pelo caminho um guia chamado Guto (contato do guia no início do relato), que lhe deu amor, carinho e água rsrsrs e o acompanhou até o acampamento em que íamos ficar e mostrou um ponto de água perto desse acampamento.   
 
O grupo que saiu na frente achou uma garrafa de 1L cheia de água pelo caminho e foram administrando até chegar no acampamento e com a dica do ponto de água do Guto puderam fazer a festa, fizeram uma janta e ostentaram fazendo uma sukita caseira (tomaram cebion kkkkk).
 
Deixamos para subir o Itaguaré no dia seguinte bem cedo, pois nosso resgate só chegaria as 14:00h e até o ponto do resgate era uma trilha fácil e rápida.
 
Resumo segundo dia:
 
*Andamos 10 Km
*Elevação máxima : 2190m
*Acampamento: 2º clareira depois da base do itaguaré
 
TERCEIRO DIA – ULTIMO – 03/05/2014
 
Acordamos perto das 05:30h e partimos rumo ao pico do Itaguaré. A subida foi rápida, mas não é tão fácil, pois a subida é um pouco exposta.
 
A vista de lá é linda e ficamos ali curtindo e tirando fotos.
 
Tentamos curtir ao máximo o Itaguaré, mas tínhamos que retornar ao acampamento e arrumar tudo para partir.
 
A trilha de retorno é fácil, praticamente só descida, começa por rochas e erosões, mas logo a trilha entra na mata, repleta de sombra e riachos. Essa trilha leva em torno de 1:30h a 2:00h no máximo até o ponto do resgate. 
 
Chegamos muito cedo, mas conseguimos que a van nos levasse antes de um grupo que estava atrasado e assim com o retorno para a base mais cedo, chegamos em São Paulo as 20:00h , cansados, mas recompensados por termos feito essa bela e difícil travessia.
 
Resumo terceiro dia:
 
*Andamos 5,7 Km
*Elevação máxima : 2321m
*Resgate: Clareira no final da trilha
 
DICAS:
 
* Levar muita água, pois durante a trilha temos somente água no careca, na base do Marins que é imprópria, alguns dizem que tem água no Marinzinho, mas não vi e depois só tem água no acampamento perto do Pico do itaguaré. Aconselho levar uns 4 litros de água.
 
* Não leve nada para fora da mochila pois as pedras e capim alto vão detonar tudo.
 
* Use mapas, bussola ou GPS , não confie nos totens.
 
*  Procure caminhar com uma calça comprida e uma camisa de manga longa. O capim elefante e os bambus que dominam a paisagem são bem incômodos e podem machucar.
 
* A travessia é muito exposta, passe protetor solar.
 
Total percorrido: 24 km 
 
Nível: Difícil
 
Pico dos Marins – 2420,7m (Piquete -SP – Serra da Mantiqueira)
Pico do Marinzinho – 2432m (Marmelópolis – MG – Serra da Mantiqueira)
Pico do Itaguaré – 2308m (Divisa dos estados SP-MG – Serra da Mantiqueira)
 
Data de saída: 01/05/2014
Data do retorno: 03/05/2014
 
 
Custos com condução: 
 
* Carro até a base (4 pessoas)- R$ 45,00 (gasolina + pedágio – por pessoa)
* Resgate – Van – R$ 200,00 para 7 pessoas – R$ 29,00  (por pessoa) – Milton
 
Contato base Marins (Milton):  www.facebook.com/milton.gouveafranco
                                              (11) 9770 1991
                                              (12) 9773 5366
                                              [email protected]
 
* Para quem quiser fazer com guia, conhecemos um super gente boa lá, vocês vão saber mais sobre ele durante o relato:
 
Guto guia: Telefones: (35) 3371 – 3355 e cel: (35) 9169 – 9878
 
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Sobre o autor

Blogueira do www.amontanhista.com.br

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