Travessia na Canastra

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DELFINÓPOLIS-CASCA D´ANTA: CLÁSSICA TRAVESSIA NA CANASTRA
A Serra da Canastra é sinônimo de natureza em meio a gdes espaços. Sua geografia é composta de amplas serras, muitas nascentes, largas chapadas e fundos vales, iluminados pela luz onipresente de um céu enorme. Incrivelmente, este belo lugar é o q menos conheço, onde minhas investidas limitaram-se a duas breves visitas já bem datadas. P/ sanar isto não hesitei em topar o convite tentador do meu amigo e fotógrafo de aventura André Dib em percorrer sua mais tradicional travessia e desfrutar de seus panoramas espetaculares: a Delfinópolis-Casca D´Anta, pernada tranqüila q durante 3 dias parte da pacata cidade mineira de Delfinópolis, serpenteia 62kms de serras, vales e chapadões por trilhas e estradas de terra, até culminar no sopé dos 200m imponentes do primeiro e salto do Rio São Francisco, a Casca D´anta, uma das maiores cachus do Brasil.


DELFINÓPOLIS
Eram exatas 15:30 qdo eu e a Vivi saltamos do busão em Ribeirão Preto, horário ate bem mais adiantado q o previsto, tendo em vista as tediosas 4hrs de viagem de Sampa. Sendo assim, nos resignamos a passar o tempo no boteco da rodô, bebendo na cia de outra amiga, alem de dar retoques finais nas cargueiras. Mas qdo as 17:15 a possante Troller&nbsp, do André &amp, Cassandra encostou do nosso lado, era hora de finalmente embarcar rumo Delfinópolis. Viagem esta q foi feita em meio a muita descontração e conversa colocada em dia, e dessa forma os 180km passaram bem desapercebidos. Tanto q após passar por Franca o sol já havia despencado no horizonte.

Após atravessar de balsa os quase 2km de águas esmeraldas da Represa do Peixoto em meio ao frescor do breu noturno já regados a varias taças de vinho, chegamos em Delfinópolis um pouco antes das 20hrs. A pacata cidade transpira ecos de um passado q teima em permanecer intacto, com direito a ruas de paralelepípedos bem tranqüilas, uma simpática pracinha central com coretos bem cuidados, prédios q não passam de dois andares e charretes circulando ruidosamente. Inicialmente nos dirigimos à Pousada Rio Grande pra deixar as coisas, onde fomos gentilmente recebidos pela proprietária, a Regina. O André já tinha armado um esquema de permuta “na faixa”, esquemas estes q tb preciso adquirir know-how pra baratear minhas empreitadas. Na seqüência nos mandamos pro boteco da simpática Erica, o “Bar Co”, onde mandamos ver uma deliciosa pizza regada a mais vinho, alem de já armar um esquema com a dita cuja de resgate no final da travessia. Tb no esquema de permuta. Ah, sim. Lá tb encontramos o ultimo integrante da trip, o mineiro Paulo, q como os demais tb estava “disponível no mercado” e consequentemente com tempo de sobra pra viajar em qq dia útil.

O tempo passou rápido e se bobeasse ficaríamos a noite td papeando e enchendo a cara. Mas o dia sgte era obrigatoriamente reservado pra travessia e por isso retornamos à pousada, meio q à contragosto e trançando as pernas, afinal a ampla geografia local iria demandar otimização do dia inteiro em pernada. Lembrando q a topografia da Canastra é composta basicamente de 3 fileiras de enormes serras q correm paralelas, uma dobra maior q a outra, entremeada de fundos vales e pequenos serrotes: a 1ª é composta pela Serra Preta e Grande, a 2ª é feita das Serras do Cemitério, Sete-Voltas e Guarita, e a 3ª abrange o Chapadão da Zagaia e a Canastra em si. Nosso roteiro do dia sgte é nada mais q subir a Serra Preta, descer o vale contornando a Serra de Furnas pra dali chegar ao alto Serra da Guarita! Simples, não?
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A SERRA PRETA, A FURNAS E O GALHEIRO
A manhã de segunda irrompe promissora, com uma bela alvorada esparramando seus acolhedores raios por td extensão dos paredões serranos, por sua vez siluetados contra um céu azul despido de nuvens! Sendo assim, levantamos bem antes das 6hrs, jogamos as cargueiras no teto da Troller e rumamos em direção ao sopé da Serra Preta. Mas não sem antes passar numa padoca pra rápido desjejum!
Delfinopolis ainda levantava preguicosamente qdo deixamos seus limites no sentido leste, acompanhando o emplacamento&nbsp, “Olhos D água”. Agora com a serra à nossa esquerda, sacolejamos por empoeirada estrada de terra por quase 7km, até a deixarmos numa placa indicando “Camping Claro – Casa de Pedra”. Tomando sinuosamente esta ramificação vamos&nbsp, de fato de encontro à serra, cada vez mais próxima.

Uma vez passado o referido camping, nossa referencia são placas apontando uma tal “Pousada/Cachoeira Paraíso”, à qual não tardamos em chegar num piscar de olhos após algumas bifurcações. A tal “pousada” não passa de duas casas q agora se encontram abandonadas, mas q durante feriados devam ficar lotadas alem de ser cobrado algum valor de acesso, pois aqui é propriedade particular. Mas como esta td vazio, não tivemos problemas em deixar o carro ali mesmo, q depois a Erica virá buscar pro nosso resgate. Até pq ela reside numa casa bem próxima dali.
Após alongar aqui e ali, dar últimos retoques nas cargueiras e passar protetor no rosto, damos inicio propriamente dito à pernada as 6:40. O gps do Paulo marca exatos 870m de altitude. Daqui parte uma picada bem conhecida dos locais q leva a varias cachus no alto da serra, a “Trilha da Casinha Branca”, bem mais demorada.

Mas nossa trilha é outra, mais rápida e direta, a “Escada de Pedra”. Ela parte logo atrás da casa e já de cara bifurca, onde tomamos o ramo da esquerda q desce suavemente pelo pasto, atravessa um capão de mata e dá num belo remanso, o Ribeirão do Claro, q cruzamos saltando por cima das pedras. A picada então envereda em meio ao pasto e vegetação de cerrado pra logo dar nos fundos doutro casebre, q por sua vez nos leva a uma precária estradinha de terra. Andando um pouco pela dita cuja, logo desembocamos numa porteira marcada por uma lacônica placa proibindo o tráfego de motos, pois estamos numa área de proteção ambiental. Da porteira parte uma trilha q acompanha a cerca, agora sim indo de encontro aos paredões da Serra Preta, já quase à nossa frente. Aqui uma breve pausa pra coletar água (próxima,num riachinho escondido) e visu de um belo cânion à esquerda.

Andando pela picada não demora a sermos recebidos por nova placa, agora indicando “Escada de Pedra”. Daqui em diante não tem mais erro. Começa a subida íngreme da serra por lajotas de quartzito q formam degraus irregulares erodidos, q são vencidos com relativo fôlego e, aos ziguezagues, logo ganhamos altitude de modo a apreciar o belo visu de Delfinópolis ao lado do espelho d´água da Represa do Peixoto, reluzindo lá embaixo.

Um tempo depois a trilha arrefece e nivela numa espécie de descampado ou pré-platô q antecede o topo, e o caminhar torna-se bem mais agradável, sempre em suave aclive e tendendo pro leste. Andando pela vasta campina salpicada por canelas-de-ema e alguns campos rupestres, finalmente chegamos aos 1145m do alto da serra, mais precisamente na tal “Casinha Branca”,onde outras trilhas tb convergem. São 8hrs e o termômetro já marca 30 graus, e nos presenteamos com um breve pit-stop ao lado de um belo riacho q molha nossa goela, enche os cantis e refresca nossos rostos suados.

Uma vez na ampla e larga crista da serra, da “Casinha Branca” parte uma picada pro norte q logo dá lugar a uma precária estradinha de terra q atravessa um vasto capinzal dourado, q basta apenas acompanhar. A medida q avançamos os horizontes se ampliam e logo temos uma visão da enorme muralha da Serra da Guarita, se esparramando de noroeste pra sudeste a nossa frente,assim como o enorme Vão do Ribeirão das Posses, separando-a da Serra do Cemitério. Mas logo a estrada começa a descer, desviando abruptamente pra direita, perdendo altitude imperceptivelmente pelas encostas da Serra Preta.

À nossa esquerda vamos examinando terreno, pois daqui temos q buscar algum acesso descendo o vale ao lado de modo e ganhar as encostas opostas da Serra de Furnas, uma pequena costela serrana no caminho antes da Guarita. Mas como aqui a navegação é puramente visual este acesso é descoberto c/ facilidade na forma de uma picada transversal à estrada. Deixamos a mesma em favor desta picada pra assim perder altitude de forma abrupta, em curtos ziguezagues em meio a pasto,arbustos e pequenas arvores de galhos retorcidos. A trilha parece sumir, mas após saltar uma cerca logo encontramos vários caminhos de vaca indo no sentido desejado. Porém por pouco tempo, pq só após um curto trecho de vara-mato é q chegamos de fato no fundo do vale, onde o bem-vindo Córrego do Ouro nos brindou com refrescantes tchibuns em seus pequenos poços cristalinos. Pausa pra descanso e lanche sob o forte e inclemente sol das 10hrs,claro!

Na seqüência tocamos vigorosamente pelo pasto acima, agora nas encostas da Serra de Furnas, ate dar numa picada q a recortava a meio-caminho. Tomando p/ esquerda, não tarda pra ganhar a crista da mesma ate dar noutra precária estrada, q contorna e desce a serra em sucessivos cocorutos rumo ao próximo vale, o do Ribeirão da Babilônia, já ao sopé da Guarita. A medida q perdemos altitude sinuosamente em meio a morraria, a vegetação de cerrado vai dando lugar a uma vegetação mais rica e densa. No caminho, destaque prum enorme grilo laranja escondido em voçorocas de samambaias a beira da estrada.

Quase no fundo do amplo vale, cruzamos com o minúsculo “vilarejo” de Itajuí onde não vimos sinal de vida, mas q se resume a algumas casinhas, roçados e uma simpática igrejinha. Ainda acompanhando a estradinha pra leste e cada vez mais próxima do sopé da Guarita, cruzamos uma ponte, algumas porteiras e cortamos alguns atalhos pra depois subir uma pequena colina. Foi aqui q um negrume tomou conta do firmamento e se adensou subitamente, acompanhado de estrondosas trovejadas, sinal pra apressamos o passo o qto antes.

Dito e feito. Passada uma ultima porteira o céu desabou e mandou muita água sobre nossas cabeças! Pior q não havia onde nos refugiar senão no “puxadinho” de um pequeno paiol q nem sequer nos comportava totalmente! Havia um casebre abandonado ao lado, o qual tivemos a infeliz idéia de invadir pra sermos recebidos pelos furiosos marimbondos q lá residiam e deixaram marcas na minha barriga e no braço do Paulo. Porem, insatisfeitos em permanecer naquele fedorento paiol – até pq um raio caíra bem ao nosso lado – insistimos ainda em invadir outro cômodo (pela janela) daquele casebre, pelo menos pra termos mais espaço disponível pra lanchar,pois a fome já apertava. Uma vez lá dentro e com metade das cargueiras alojadas, fomos outra vez enxotados pelos marimbondos q decididamente não desejavam nossa presença de jeito nenhum. E lá voltamos desesperadamente pro maldito paiol, pra diversão das vaquinhas q assistiam aquilo td de camarote. Agora o problema era ir buscar as cargueiras q deixáramos lá dentro. Daí eu e o Andre nos cobrimos de roupa de modo a proteger qq parte exposta e partimos na missão de “resgate”, q por sorte foi bem-sucedida. Pois bem, como já estávamos molhados e ficar parado não adiantava nada, resolvemos continuar a pernada sob chuva, ao menos pra manter o corpo quente.

O Ribeirão Babilônia foi transposto sem dificuldade, com água ate o tornozelo, e dali prosseguimos pela lamacenta estradinha rumo o sopé da serra. No caminho topamos com a humilde casa do Paulo Pião e da Rosi, onde nos refugiamos da tempestade de forma bem mais satisfatória q o paiol, já na cota dos 830m. Enqto nos secávamos e mastigávamos algo, a Rosi contava alguns “causos” interessantes q iam desde a vida sofrida na roça, q nunca havia subido ao alto da serra e detestava comer galinha caipira! Sua casinha, de uma simplicidade enorme, tinha particularidades q merecem destaque, como&nbsp, a ossada de uma queixada como decoração e um cômodo reservado apenas pra privacidade de uma galinha e sua barulhenta prole.

As 14:30 e de bucho cheio, nos despedimos da Rosi dando continuidade à pernada, ainda sob chuva e forte vento. Aqui a estradinha terminava dando lugar a uma picada q costeava a serra, mas logo tomamos outra q deriva da principal e ia de encontro à mesma frontalmente através do capinzal.&nbsp, De onde estávamos já podíamos vislumbrar a continuidade do carreiro costurando o paredão serra acima. No caminho, um cruzeiro assinala o curioso “Cemitério de Pedras”, local onde antigamente eram enterrados os leprosos da região.

A subida da serra transcorreu em largos ziguezagues, sendo q já na metade a chuva havia desaparecido por completo, permitindo bela panorâmica de td trajeto percorrido ate então, alem de visu privilegiado da Cachu do Córrego do Galheiro, despencando dos paredões da Guarita, à leste. Em passadas curtas através das lajotas e pedregulhos de quartzito q forram a estreita trilha, ganhamos altitude através daquela encosta íngreme, pipocada de canelas-de-ema, campos rupestres e matacões de arnica. Num pequeno platozinho de pasto, marcado por uma gomeira solitária nos 1197m, fizemos uma pausa pra retomada de fôlego e alguns cliques do belo visual q se descortinou, pra depois vencer o ultimo degrau ate o alto da serra.

As 16hrs alcançamos os amplos e vastos descampados q predominam no alto da serra, agora na cota dos 1268m. A trilha aqui nos leva inicialmente pela beirada da serra, mas depois deriva pro interior das campinas. O passo aqui é rápido, pois qq parada é motivo pra nuvens de borrachudos se fartarem conosco, razão q nem fotos deste trecho alguém se atreveu a tirar sem ficar com pontinhos vermelhos no corpo. Mas finalmente as 16:45 damos nas margens do Córrego do Galheiro, onde um bucólico cocho divide espaço com um belo gramado ideal pra acomodar varias barracas, desde q se desvie das trocentas sujeirinhas bovinas, claro!

Montado acampamento, as tarefas do povo se revezam entre tomar banho no rio, remover carrapatos ou simplesmente adiantar a comilança, q por sinal nunca esteve tão saborosa. Destaque especial pra janta do André e da Cá à luz de velas e regado a vinho! Mas não tardou pra respingos começarem a cair, nos obrigando a adentrar em definitivo em nossas barracas bem antes das 19hrs. A noite intercalou chuva intermitente com fortes rajadas de vento fustigando nossas tendas. Uma leve dor-de-garganta insistia em prejudicar minha merecida noite de sono, assim como a umidade acumulada no saco-de-dormir. Levantei diversas vezes pra mudar de posição e desviar das pequenas infiltrações, mas de resto td correu bem. Enqto isso, lá fora a chuva teimava em cair, quica achando q tb fossemos anfíbios, q por sinal coaxavam aos montes a nosso redor.

Continua…

Texto e Fotos: Jorge Soto&nbsp,

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

1 comentário

  1. Olá gostaria de saber se possuem o contato de algum guia da travessia Delfinópolis x Casca Danta? E qual foi o valor da viagem de vcs? Fizeram com agência ? Obrigada

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