A Travessia do Milênio

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Combinamos antecipadamente fazer a travessia de Bairro Alto até a Graciosa, eu o Taylor Thomaz e o Elcio Douglas Ferreira pela trilha normal do Ferraria, mas decidimos pegar um atalho pela face dos 500 anos (crista) que já havíamos tentado antes. Sendo atalho imaginamos que teríamos que abrir mato no peito e economizaríamos algum tempo, mas este atalho teve um custo de 12 horas, pernas e roupas rasgadas.


Como moro em Matinhos – Pr, convidei uns chegados meus pro perrengue. O Marcelo Preto alegou estar sem grana, o Lúcio simplesmente sumiu e o Julio, depois que descrevi o que tinha pela frente, desistiu sem maiores explicações.

Não queria me arriscar no Ferraria, então parti durante o dia para demarcar a trilha para os demais que chegariam somente a noite. O Elcio me avisou para não levar o kit de cozinha porque o Pacheco iria levar o dele, mas sempre levo o meu. Comprei o rango às 12hr e ainda tinha a tarefa de montar a mochila e pegar a máquina fotográfica (é no tempo da fotografia (hehe). Perdi o cipó das 16:30 (ônibus), pego o das 17h via Cambará e as 19:45 chego em Antonina. No meu cardápio faltava pão e queijo, no Mercado Jaguará o pão sovado é igual isopor. Na hora da verdade, o Pacheco faltou. Estamos sem cozinha dizem…&nbsp, Opa, eu tenho tudo! Outra coisa, vamos pela face dos 500 anos???

Penso então, fudeu!!!&nbsp, Não vamos conseguir. Temos pouco tempo pra um acordo, mas faço um pacto com o Taylor. Só vou se houver garantia de chegar na Graciosa. Não poderá haver desistência, feito? Para mim interessa o fim da travessia na Graciosa, e pro Taylor, o início na Face dos 500 anos. Na minha cabeça, perguntas que não calavam. Ir pela crista é 50% de chances de dar tudo errado, se chover mais uns 25%. Não vai dar certo… putz 75%… Não vai dar certo. Ainda a noite! Tem algum louco por aí meu?!??

Opa… o ônibus sai 20:40 e lá dentro encontramos o Raffeting Man. Diz ele que ajudou num suposto resgate de um avião que caiu na região do Pico Paraná. O Elcio não paga a passagem do Taylor e sobrou mais esta pra mim. As 22h chegamos a Bairro Alto. Caminhada relâmpago e o Elcio se aproveita da nossa luz para economizar lanterna. As 23:22h chegamos na ponte Indiana Jones (1:22 de caminhada ) e o Elcio quer inventar mais uma saindo já da ponte, fazendo outro atalho. Fiquei com medo quando o Taylor não falou nada.

Opa, assim não dá peão! Vamos por onde conhecemos que é noite escura (00:00h). Que sono! Vamos tomar um banho no rio gelado para acordar? woohoo.. Nisso já é quinta 28…mais a frente fazemos um lanche .. nos abastecemos de água e paramos no Disco Porto para curtir aquele céu estrelado. O Elcio teve outra de suas idéias: Vamos passar a noite andando? Tá mais louco ainda, cidadão!…hehehe. Não, vamos somente até onde o sono nos permitir, pois estaríamos nos arrastando na manhã seguinte. Então saímos do Disco Porto e rumamos para o norte. Já eram mais de 02:00 da madruga.

A Crista do Ferraria ou face dos 500 ainda não tinha este nome e o terreno começa a ficar mais íngreme. Os insetos são atraídos pela luz das lanternas. Que sufoco! Uma verdadeira tortura com bicho entrando pelo nariz, boca, orelhas e olhos. Ufa… finalmente as 3:10 paramos. Chega de comer insetos! Não estava frio, então resolvemos bivacar. Eu dentro do saco de dormir com a camiseta no rosto, o Taylor na rede de selva e o doidão do Elcio só de bermuda encostado na mochila, hehehe. Pernoitamos a 960m de altitude.

As 6:30 partimos para a luta. Mais a frente encontramos os rastros de nossa última investida. A liderança é revezada o tempo todo em trabalho de equipe. Já se tem visual e a caminhada fica mais alegre. Depois de 3 horas de quiçaça vem o crux da questão que fizemos até com certa facilidade e mais acima uma escaladinha num barro danado…hehe.. O Elcio segue na frente com todo cuidado, eu e o Taylor só esperando a merda…,de repente o Elcio desce com tudo. É uma parte pequena, mas chata, e ele escorrega feio. Putz não vou rir! Hummm, mas o Taylor deixa escapar uma rizada e foi a gota d´água kkkkkkkk..e o Elcio resmunga, Dá risada aqui do palhaço ..hehehe. Opa, não foi de você, mas sim da situação que rimos – hehe – foi mal!

Logo em seguida tem água, mas sofremos um pouco para achá-la. As 11:15h fizemos um belo lanche com suco a vontade e saímos as 11:40 para depois de muito perrengue, finalmente o….CUMEEEE do Ferraria as 13:52, num total de 8:30h de subida. Assinamos o caderno, e mais rango. O tempo não está nada bom pra ficar no cume, pois as trovoadas anunciam os raios que virão em seguida e tratamos de descer as 14:40 já debaixo de chuva. Ainda bem que foi aqui em cima e não na crista. A chuva engrossa e começa a esfriar. As 15:20 passamos pelo colo entre o Ferraria e o Taipa quando o Elcio sente dores no estomago. As 15:45 esticamos a lona para nos proteger do frio que castiga a cada parada e finalmente as 17h chegamos ao cume do Taipabuçú.

Iniciamos a montagem do acampamento, mas como pediram para não trazer barraca, estamos ao relento. O Taylor vai montar sua rede mais abaixo e some no mato… perdendo o rango quente que faço em seguida. Fiz o primeiro para o Elcio que estava a beira da morte. Que isso funcione como remédio. Só eu havia trazido comida quente e dá-lhe Miojo. Protegi o equipamento e fui dormir lá pelas 18:30h. Estamos quebrados. O relógio vai despertar as 05:00 da manhã do dia 29, sexta feira. E dá-lhe chuva.

Acordamos as 06:30 após dez horas de sono úmido. Estamos atrasados 3 ou 4 horas e ainda tem muita garoa e neblina. Gritamos para o Taylor e nada…&nbsp, As 08:30 o tempo começa a colaborar, mas falta coragem pra se mexer e a preguiça toma conta. 10:00h e nada. Acho que haverá muitas mudanças nos planos e já me contento em chegar ao Agudo da Cotia, mas o que mais queria era despontar no alto da Graciosa. Fiz um capuccino reforçado e finalmente desmontamos o camping.

Ainda batemos algumas fotos antes de sair as 11:15 e perdemos mais uns 30min. assinando o caderninho. As 13:05 já estava no cume do Caratuva e os caras chegam um pouco depois. Na descida para o Getúlio encontramos um homem mosca, pois o cara tinha pavor de aranha. Isso na base do Caratuva e daí o Elcio nos fala que se o cara tem medo de aranha é uma boneca, e lugar de boneca é no saco do Papai Noel (kkkkk).

É, mas o caso é sério. Como estará o Elcio? Vou ter que mexer com o psicológico dele! (hehe) E como sei que não vai desistir facilmente decido cutucar a onça com vara curta…&nbsp, E daí, vai continuar ou desiste? Pois daqui prá casa tá fácil!!! Ele vai continuar, penso eu, jamais aceitaria nos imaginar chegando na Graciosa sem ele. A seguir andamos com o freio de mão puxado, pois o Elcio não estava nada bem.

Retornamos a pernada as 14:40 ainda muito lentos. As 15hrs chegamos na bica e daí bateu a tentação, pois tinham uns 3 sujeitos fazendo um rango por lá. Aquela bisteca fritando, hummmmm!!! E nos oferecem por educação, mas também por educação recusamos – Não obrigado! sniffff…&nbsp, Depois nos lamentamos por isso ….só os carnívoros – hehe. Na janela da bica dava para ver a chuva se aproximando e as 15:30 os dois desenrolam a lona, pois já está chovendo, e daí rola um stress. Eu digo: “porra é só uma garoa… já estão amarelando???” (a lona era amarela). Finalmente as 16:10 chegamos&nbsp, no cume do Itapiroca.

Estamos só de passagem e fico para trás assinando o caderno por todos. Chegamos a base do Cerro Verde as 16:45. O Taylor já não se agüenta de fome e eu também, mas não dou ouvidos ao estomago e as 17:20 alcançamos o cume. Assinamos o caderno e as 18 hrs novamente com o pé na trilha avistamos 3 barracas perto do Taquaripoca. Ficou a pergunta, “Seria o Pacheco?” Apesar do tempo nublado temos muita sorte, pois a chuva cai por todos os lados e nós continuamos secos. As 19h estamos no cume do Luar dando um alô ao pessoal e seguimos em frente. O Elcio ainda está devagar, acabou o turbo – hehe? No Luar o sol quer se esconder, mas invés de subir para o desconhecido, cortamos pela direita e seguimos o riacho. Escurece e continuamos andando por mais meia hora. As 20:30 chegamos na ultima chance na base do Ciririca. O Elcio quer acampar ali, então vamos rangar primeiro e decidir depois.

Mandamos ver um sopão e foi pouco, não perdoamos nem os pães secos. Curtimos uma 96.3 Rádio Rock e saímos somente as 22:10h. Não demorou muito pra minha lanterna e a do Taylor pifar e então, bivaque na trilha sem nem escolher o lugar, vai aqui mesmo. Cubro-me com a lona e fico entre duas bromélias. Chove bastante a noite e ao amanhecer os caras reclamam do frio. Eu passei calor embrulhado na lona que não deixava escapar o calor corpo. Amanheceu o sábado, 30 de dezembro e&nbsp, saímos as 07:00h. para enfrentar a garoa nas proximidades do cume. Agora é o Taylor que fica para trás e as 07:39 chegamos finalmente no cume do Ciririca.

É a última chance de desistência para o Elcio que ainda tenta nos desanimar, mas não pra mim, meu objetivo é a Graciosa… pode pintar até uma onça pela frente! Já o Taylor prefere seguir em frente a ter que voltar. Mais um pouco de som – woohoo, 96.3 Rock -Ac/Dc e tiramos até foto curtindo a vida adoidado.

Depois de muita enrolação, as 08:50 iniciamos a descida e as 09:37 estávamos no fundo do buraco. As 10:15h atingimos a bifurcação para o Agudo, e agora é o Taylor que fica mal. Investimos no ataque ao Agudo da Cotia para atingir o cume as10:57h. Vento forte, assinamos o caderno, avistamos o paredão e também a chuva ao longe. Saímos do cume 11:30 e de volta as mochilas as 11:57. Lanche de bolacha e de repente surge um Bis da mochila do Elcio. Até que enfim algo diferente para variar. Partimos para a Colina Verde as 12:15h e a trilha some para reaparecer mais á frente. A visão se abre para o Tangará , Cotoxós e Arapongas, então azimutamos os 235 graus pro Pico Sete.

Encontramos água as 12:35 e dentre outros rumos possíveis seguimos pelo riacho mesmo. As 12:44 começamos marcar o terreno com fita azul e as 13:30 chegamos num dos afluentes do Rio Forquilha para depois de muito andar fazer uma parada na cachoeira as 13:47. Somos atacados por um enxame de butucas e agora é o Elcio que desanda na frente e eu fico para trás com o Taylor. As 14h avistamos o Arapongas a 270 graus. É dia 30 de dezembro as 15:15 e estamos estacionados na curva do Rio Forquilha. Agora começo a sonhar&nbsp, com a chegada na Graciosa, provavelmente no final da tarde do dia 31 de dezembro. Neste momento estamos procurando a saída do rio que nos levará para garganta entre o Tangará e o Cotoxós e em seguida, à nascente do Rio Mãe Catira. Encontro uma fita, mas o Elcio diz que é roubada, então eu e o Taylor resolvemos tomar um capuccino enquanto o Elcio desaparece no mato.

Do nada surgem gritos,&nbsp, Ceeeesaaaar… Tayyylooooorrrr…e ficamos atônitos imaginando o que poderia estar acontecendo. Seria uma onça provando a carne dum vegetariano? Opa, não era bem isso! É só nosso amigo que teria encontrado uma suposta trilha e ainda perderíamos um tempo considerável procurando no meio do mato e já são 17:37h. O lugar é tomado por uma neblina muito densa e não se vê nada a frente. Parece fumaça de incêndio. Nem bem comecei a sonhar e acabei num pesadelo. Voltamos a andar e recomeça a chuva. Sinto que a chegada na Graciosa vai nos cobrar muita luta ainda. Estamos andando na chuva, no escuro, e sem comer. O pior é que não falta comida, mas tempo e lugar seco pra cozinhar.

Depois de muitas roubadas, achamos um lugar razoável pra deitar o esqueleto e as 19:30 está bem escuro por causa da neblina e da floresta densa enquanto a chuva continua molhada (hehe). Estamos num lugar totalmente desconhecido e sinistro. O Taylor novamente faz uso de sua rede e todas as manhãs foram marcadas pelo mesmo ritual de vestir roupas encharcadas para caminhar durante o dia inteiro e no dia seguinte não seria nada diferente disto. Ligo o walkmam a procura de boas notícias, mas só vem tragédia como a queda da arquibancada com a torcida do Vasco no Rio de Janeiro e a morte de um louco no Rio Nhundiaquara. Trato de dormir, pois na manhã seguinte a primeira liderança do dia é minha.

Era uma hora da madrugada do dia 31 de dezembro, já domingo e acordo com conversas. Acho que o Elcio está com o psicológico abalado por estar falando em resgate, e de quanto tempo ele consegue ficar sem comer…O Taylor entra no embalo e a conversa se prolonga até me provocar dor de cabeça. Então digo: “Amanhã vou levantar e fazer uma linha reta, derrubando tudo pela frente até chegar em casa antes da virada do ano. Estava meio nervoso e já injuriado, completei: … e tem mais, acordem para a vida que amanhã será um longo dia! Então ficamos todos quietos.

Quando amanheceu, mais uma vez levantamos e vestimos as roupas molhadas e fedorentas. Meu suco natural já começava azedar e o café da manhã foi só bolacha e suco azedo. As 07:20 recomeçamos a caminhada e a chuva parou, mas a neblina ainda atrapalhava. Peguei uma reta rumo ao cume não desviando&nbsp, nem das roubadas para não perder tempo e as 08:36 atingimos o cume de algo. Seria o Tangará, o Cotoxós, ou o Arapongas? Sei lá, com essa neblina ficou impossível saber, mas precisamos nos localizar para tomar o rumo certo. O sol dá uma esquentadinha e isto é bom sinal. Então decido fazer um miojão para três, mas o Elcio não gosta da idéia e retruco que já estamos tanto tempo atrasados que mais três minutos não farão a menor diferença e que vou ficar ali até ver alguma coisa.

Considero um milagre ter-se aberto uma breve janela que nos permitiu ver o Rio Forquilha bem a nossa frente no meio de tanta neblina e depois de azimutar o mapa chegamos a conclusão que estávamos sobre o Cotoxós. Estaríamos salvos? A curva do Forquilha está a 80 graus e traçando os 240 graus em direção ao Pico do Sete o coloca bem as nossas costas – é só seguir no rumo. Estaríamos então acordando do pesadelo?

Partimos as 09:15 rumo a nascente do Rio Mãe Catira nos revezando na liderança e a encosta torna-se cada vez mais íngreme, teremos que nos arriscar ao descer. O Taylor detém o avanço quando o chão desaparece a sua frente, mas o Elcio toma a dianteira pra uma descida sem volta e no embalo vai levando mato, pedra, barro, raiz e árvore. Chega vivo ao fundo da grota e agora eu é que sou a bola da vez. Desço com muito cuidado e faltando apenas uns três metros para o chão vem o Taylor despencando agarrado a uma raiz que enrosca bem ao meu lado. Depois do susto, muitas risadas e berro indignado, “Dá prá esperar! Seu merda!!!”(kkkk)

Essa foi por pouco… Imagine se quebrar todo num lugar destes?!?? Seguimos em frente e as 10:30h encontramos as nascentes do Mãe Catira. Ohh lugarzinho pré-histórico esse!!! Depois de várias quedas d´águas contornamos o Arapongas e as 13:40 alcançamos uma cachoeira de uns 40m, muito bonita e de transposição difícil, da qual já se avistava o Pico Sete. Saímos da cachoeira as 13:55 e depois de andar por dentro do rio por muitas horas ainda, as 15:55h finalmente chegamos a uma bifurcação onde dois riachos em margens opostas se unem ao Rio Mãe Catira.

Demarcamos o lugar com uma fita e daqui em diante é só andar pela trilha com todo o cuidado para não perdê-la, mas encosto num mandorová (lagarta) que mais parece um galho. Que dor!!! Aplico uma pomada na queimadura e apenas torço para que não seja venenosa. Andamos mais 40 minutos e nada da Graciosa. Estamos seguindo numa trilha de caçadores ou palmiteiros e começamos escutar o barulho dos carros, mas o tempo passa e nunca se chega. O Taylor vai ficando para trás e queremos chegar todos&nbsp, juntos na Graciosa. Bem próximo a estrada já sentíamos uma grande histeria.

Aleluiaaa acabou o pesadelo!!! As 17:10h encontramos o marco 22, pouco acima do&nbsp, Rio Cascatinha e abraçados pisamos juntos na estrada com o pé direito. Os que por lá transitavam nunca poderiam imaginar tudo pelo qual passamos para chegar ali, pois nem nós mesmos havíamos caído na real. Agora era só ficar esperto com o busão e se livrar das roupas por não ter mais o que fazer com aqueles trapos. Passo a faca na minha calça e jogo tudo no lixo. O rango há muito se acabou e a fome só se renova, estamos com muita fome e os caras fazem da macumba alheia um banquete na beira da estrada. Eu nem toco nisso, sai woodoo! Mas encontro um par novinho de meias brancas (hehehe ).

Meu pé está todo enrugado e torço para que um dia volte ao normal. De repente um ruído quebra o silêncio. Será o ônibus? Saímos correndo, mas o alarme é falso. Só um caco velho subindo pela estrada e pedimos carona assim mesmo, mas deu pra entender que se ele parasse nunca mais sairia daquele lugar. Nisto já era 17:30 e logo 18h, mas&nbsp, nada do ônibus. Será que vamos passar a virada do milênio aqui na estrada? Tínhamos o desejo de sábado já estar em casa… Fazer o que? Né!!! O Elcio quer subir pela Graciosa e fala em cada um por si para pegar carona, então trocamos os números de telefones para avisar os parentes assim que o primeiro chegue em casa. Não gostei da idéia, pois tinha um ônibus que descia as 18:30 e também poderíamos embarcar no que vinha do Pico Paraná pela BR116. O Elcio teima em andar e o Taylor berra indignado, “Daqui não saio! Não vou mais andar na chuva!” Daí o Elcio, meio seco, nos deseja um feliz ano novo e sobe a Graciosa desaparecendo na garoa.

Prefiro ir para Curitiba e pegar um diretão pra casa do que descer para Morretes, depois Paranaguá e fazer nova baldeação para Matinhos. Então eu e o Taylor começamos a pedir carona e 25 minutos depois para uma Saveiro e lá vamos nós na caçamba até bem próximo do posto da polícia rodoviária na BR116. Imagine passar pelo Elcio sem parar!!! Mas daí passa um ônibus e o doido deve estar embarcado nele. No posto o telefone público esta estragado e com a permissão do guarda fizemos as ligações a cobrar. Liguei ao Julio para repassar o recado aos meus familiares e aos do Elcio, O Taylor também faz sua ligação e lá vamos nós para a BR116 na esperança de pegar o ônibus que vem do PP, mas nada dele.&nbsp, Tento outra carona e nada, nem carro, moto ou bicicleta, nada mesmo.

Já estava pensando em jogar minha mochila ou até mesmo o Taylor na frente de algum carro quando parou um Gol branco. O vagabundo do Taylor não esticou um dedo sequer para pedir carona (hehehe) e fico imaginando o carro se mandando antes de chegarmos nele, mas não, woohoo!!! Era real e não miragem. O motorista só parou porque era policial civil voltando de uma pescaria na Represa do Capivari e tinha um tresoitão debaixo do banco. Nossa carona acabou as 20hrs numa estação tubo onde o safado do cobrador nos cobra só um real, embolsa a grana e nos manda pular a roleta (hehehe).

O Taylor se manda para a Vila Oficinas e eu pra rodoferroviária onde encontro passagem para as 20:45h e na correria quase que esqueço da fome, mas encontro tempo para papar dois cachorros quentes e tchau mesmo. Aquela hora já não estava no melhor do meu humor e ainda me aparece três babacas dentro no ônibus. Os caras não param de gritar na poltrona de trás, mas bastou uma olhadela pra eles perceberem que eu não estava nos melhores dias. Ufa, ficaram quietos. Quase que vamos parar na cadeia, eu ia pular no pescoço de alguém. Ahh, ia sim!!!

O ônibus ainda passou por Praia de Leste e no trajeto para Matinhos pifou. Chego em casa só depois das 23:00 e não encontro ninguém me esperando. Pensei até em embarcar para Curitiba e filar o rango na casa do Elcio. Imagine o susto do sujeito ao me ver querendo dividir sua lasanha!!! (kkkk).

Passei a virada do milênio sozinho, mas importante é que emoções eu viviii… hehehee!!!

Texto de Ivon Cesar Sales – Índio Sexta

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