A História do Himalaísmo brasileiro – Parte XVIII

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Décima oitava parte do especial sobre o histórico das expedições brasileiras às maiores montanhas do mundo…

por Rodrigo Granzotto Peron
Depois de um 2012 cativante, o ano de 2013 não contou com muitas participações brasileiras na Alta Ásia. Ainda assim, houve cumes verde-amarelos nas temporadas de primavera (Everest) e outono (Cho Oyu). Seguem os fatos mais marcantes daquele ano:
Capítulo 87 – EVEREST (2013)
O time composto por Karina Oliani e Scott Simper (EUA, cinegrafista), juntamente com Mingma Dorje Sherpa e Pemba Sherpa, foi tentar a rota normal nepali do Everest, utilizando a logística da famosa empresa de montanhismo guiado norte-americana International Mountain Guides – IMG, sob a liderança geral de Greg Vernovage.
Em 17 de maio, poucos dias após completar 31 anos, com uso de oxigênio suplementar, a paulistana fez cume no Everest para se tornar a terceira brasileira – e a mais jovem – a ascender o ponto mais alto da Terra.
Em entrevista ao site TôLongeDeCasa, ela narrou: “O momento mais difícil foi durante o acampamento 4, estávamos a 8.000 metros, esperando o tempo melhorar para fazer tentativa de ataque ao cume, a mais de 30 horas com uma temperatura a -40 graus com ventos a mais de 100km/h, este foi o momento em que pensamos desistir da expedição inteira, tivemos que abrir mão de metade da equipe para termos oxigênio suficiente e aguentar a chegada e descida do cume”. Passado o perrengue, valeu a pena, pois, “faltando poucos metros para chegar aos 8.848 metros vi o nascer do sol belíssimo com umas cores que jamais havia visto na vida”. Na sequência, o cobiçado cume.

Rodrigo Raineri no cume do Everest – Fonte: Divulgação

Capítulo 88 – EVEREST (2013)
A Grade VI é renomada por ser a empresa de montanhismo guiado que mais brasileiros botou no topo do mundo.
Em 2013, a expedição de Rodrigo Raineri rumou ao Nepal integrada por Carlos Eduardo Santalena, Carlos Eduardo Canellas, Joel Kriger e Eliezer Júnior, sob a logística geral da Asian Trekking.
Atacaram o cume, juntos, Carlos Eduardo Canellas (que não usava oxigênio extra), Joel Krieger (59 anos de idade) e Rodrigo Raineri. Joel e Canellas desistiram por volta dos 8100 metros, ao passo que Raineri fez cume no dia 20.05.2013, pela rota normal nepalesa e com utilização de oxigênio engarrafado, seu terceiro cume na montanha (o brasileiro com mais êxitos).
A empreitada do ibitinguense poderia ter sido abrilhantada com um magnífico salto de parapente do cume do Everest, um dos raros saltos dessa natureza (o mais bem sucedido até os dias atuais foi o salto de Sano Babu Sunuwar e Tshering Sherpa).
Após a frustração de 2011, cuja tentativa foi abortada por causa do vento desfavorável, em 2013 o paulista foi impedido de saltar, pois a Autoridade Nepalesa não emitiu o permit necessário para a decolagem.

Santalena, Canellas e Raineri em Campinas

Capítulo 89 – EVEREST (2013)
O terceiro sucesso nacional no Everest deu-se por meio de Jefferson dos Reis (SP), escalando com a expedição da empresa de montanhismo guiado Patagonian Brothers, sob a liderança de Damian Benegas (ARG)
A expedição correu no seu ritmo normal e sem incidentes, e o brasileiro fez cume no dia 23 de maio por volta das 5 da manhã, utilizando oxigênio engarrafado e pela rota normal do Nepal (Aresta Sul).
Capítulo 90 – Everest (2013)
A criciumense Ana Lúcia Berndt da Luz (SC) participou de expedição ao Nepal como integrante da Freedom Climb, ONG que combate a opressão e a escravidão de mulheres e crianças. Das atividades realizadas pelo grupo para chamar atenção ao problema e arrecadar fundos contra a escravidão, escalaram o Kalla Pattar, um dos “faróis” do Everest, estiveram no campo base do Everest e do Ama Dablam, mas não escalaram as montanhas.
Sobre a experiência, no site da entidade, ela comentou: “Muitas de nós passaram mal ou ficaram doentes durante a expedição, mas todas entendemos que esse sofrimento nos conectou ainda mais com os problemas das pessoas pelas quais estávamos escalando – como elas sofrem, como elas têm de lutar para enfrentar suas dificuldades. E voltamos do Nepal todas felizes e nos sentindo vitoriosas”.
Capítulo 91 – Shishapangma (2013) & Lhotse (2013)
Não há informações precisas sobre as atividades de Cleo Weidlich na temporada de primavera. Do que foi possível colher, a paraense tentaria um double-header (dobradinha), começando com o Shishapangma.
Após escalar até os 7200 metros, Cleo Weidlich abandonou a escalada acometida pelo famigerado “mal da montanha”. Em decorrência, ela cancelou a expedição que faria ao Lhotse.
Essa foi a terceira tentativa de Weidlich no Shishapangma, após 2009 e 2011.
Capítulo 92 – CHO OYU (2013)
Três dos parceiros regulares de expedição de Manoel Morgado – Agnaldo Gomes, Lisete Florenzano e Luiz Fernando (Lui) Silva – foram ao Tibete tentar o Cho Oyu, como integrantes da expedição da International Mountain Guides – IMG, sob a liderança de Mike Hamill.
Por problemas particulares, Fernando abandonou o time e não participou do ataque ao cimo.
Os brasileiros remanescentes obtiveram êxito no dia 1º de outubro, ao lado de dezenas de outros escaladores e sherpas oriundos de múltiplas expedições, pela rota normal e utilizando oxigênio engarrafado.
Com essas conquistas, agora onze brasileiros já culminaram o Cho Oyu ao longo dos tempos, e Lisete tornou-se a terceira brasileira no ponto mais alto desta montanha.

Lisete e Manoel pela segunda vez no cume do Khuiten – Fonte: Arquivo pessoal – Autor: Manoel Morgado

 

Texto: Rodrigo Granzotto Peron
Data de conclusão do artigo: 09.02.2017
Eventuais dúvidas ou acréscimos: alazaf at terra.com.br
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Sobre o autor

Rodrigo Granzoto Peron é o mais importante historiador do montanhismo brasileiro. Ele coleta e compila informações de expedições a grandes montanhas contribuindo para a memória do montanhismo nacional. Já colaborou para diversos meios, como Revista Desnível, Explorer's Web e outros.

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