Avaliação do Equipamento para montanhas

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Acabo de voltar de minha escalada do McKinley (Denali) e gostaria de dividir com vocês minha avaliação do equipamento que comprei para esta e minhas futuras escaladas.

Minha ida ao Denali foi motivada por um antigo sonho de subir esta montanha, mas eu tinha outras razões mais práticas também. Queria ter uma experiência de frio mais intenso antes de me aventurar em um 8.000 metros e queria testar meu equipamento. No dia de cume do Everest não é a hora de descobrir que as luvas que você tem não são quentes o suficiente, não?

Ao comprar meu equipamento meu sonho era entrar em uma ou mais lojas e ver, tocar, sentir vários modelos e marcas de equipamentos e daí escolher.

Infelizmente isso não foi possível, primeiro por falta de tempo e segundo porque a maior parte das lojas não tem esse equipamento em estoque. São coisas especializadas que não vendem muito. Por essas razoes acabei comprando boa parte pela internet e enviando ao Alaska. Se não tive o grande prazer de comprar nas lojas, o dia que cheguei a Anchorage foi delicioso. Parecia uma criança na manha de natal abrindo os muitos pacotes e vendo ao vivo pela primeira vez meu equipamento.

De um modo geral fiquei muito feliz com o que comprei e isso em parte por causa do cuidadoso trabalho de pesquisa consultando várias fontes. Gostaria então de contar para vocês o que achei:

1 – Para cabeça

•    Gorro – Levei um gorro wind stoper da Mountain Hardwear com proteção das orelhas e foi ótimo. Levei um outro gorro mais fino, mas acabei não usando.

•    Balaclava – Tinha ouvido falar muito bem do Gorilla da OR , mas achei-o muito difícil de manusear com os muitos velcros principalmente com mittens ou luvas grossas e normalmente quando você usa balaclava esta com um ou outro. Acabei comprando o Ninja  também da OR e uma mascara só de boca e nariz e achei essa combinação muito melhor e mais prática. O importante e que com os googles não fique nenhum centímetro de pele exposta, pois a menos 30 ou 40 graus de sensação térmica como pegamos, em poucos segundos a pele exposta se congela.

•    Óculos escurosJulbo modelo Explorer. Eles tem anti-fog que funcionou razoavelmente bem e tem proteção grau dois a quatro se adaptando a condições de luz variáveis. Muito bons!

•    Googles – Também Julbo modelo Revolution Zebra  e com as mesmas características dos óculos. Excelentes! Confortáveis, com excelente vedação e ventilação. Mesmo em situações onde eles não eram estritamente necessários (vento com neve) acabei usando por achar mais confortáveis do que os óculos.

Para o tronco:

•    Como primeira camada, usei o capilene 2 da Patagônia que funcionou bem, sendo quente o suficiente e não deixando mau cheiro facilmente.

•    Como segunda camada, usei o Power Stretch da Mountain hardwear e não posso elogiar o suficiente esse material. Já há vários anos que o uso e nunca encontrei outro material com relação peso/poder de aquecimento igual. Tenho calça, salopete e blusas e todas são ótimas.

•    Como terceira camada, o salopete de Power Stretch da Mountain Hardwear.  Adoro este salopete. Justo ao corpo ele impede a entrada de vento que poderia passar ao se usar só uma blusa e calça e o zíper atrás é muito pratico para as idas ao banheiro na montanha.

•    Como quarta camada, usei um anorak da Mountain Hardwear fino e leve e acho que sendo assim e mais prático do que anoraks mais resistentes e pesados. O importante é ter boa ventilação com zíperes grandes nas axilas, pois a variação de temperatura nas montanhas pode ser enorme.

•    Para as paradas de descanso e quando não estava muito frio usei a Micro Puff Jacket da Patagônia e adorei. Ela é muito leve, quente para o seu peso, impermeável e comprimida ocupa muito pouco espaço cabendo sem problemas no chapéu da mochila.

•    Como última camada, tinha o fabuloso Absolute Zero Down Jacket da Mountain Hardwear que resiste aos mais perversos ventos e frio. Só consegui usá-lo nas paradas no dia de cume. De outra forma era muito quente. Não senti falta do down suit (uma peça) em parte porque no Denali só se escala de dia. Comprei o suit para o Cho Oyu e Everest, também da Mountain Hardwear.

Pernas:

•    Como primeira camada, usei um capilene 2 da Patagônia e foi adequado.

•    Como segunda camada, usei o salopete da Mountain Hardwear, que já comentei acima.

•    Como terceira camada, a calça Compressor da Mountain Hardwear que é excelente. É muito leve e comprime ficando muito pequena também e extremamente quente. Recomendo!

•    Como última camada, usei um bib de Gore Tex da Mountain Hardwear modelo Exposure que poderia ser melhor se tivesse zíper atrás, mas os zíperes laterais são bons e permitem colocá-la e tirá-la ate mesmo com os crampons. Não fosse uma peca tão cara compraria outra com zíper atrás. As da Axterixc são excelentes.

Pés:

•    Botas duplas Millet Everest. Quando você vai ao campo base do Everest só se vê essas botas e a razão é simples, elas são as mais quentes do mercado. As La Sportiva, de acordo com o que li na internet são um pouco mais leves, mas menos quentes. Adorei as Millet! São realmente muito quentes e não senti frio em nenhum momento da escalada, mesmo no dia de cume, apesar de chegarmos ao campo 4 depois do cume a meia noite. Alem de quentes são facílimas de colocar com a bota interna com dois grades velcros ao invés do tradicional cordão.

•    Meias – Usei como já há algum tempo uso, as Smart Wool expedition e são ótimas. Grossas, quentes e muito confortáveis. Como liners, comprei da mesma marca e também as achei ótimas.

Mãos:

•    Como primeira camada tinha um liner da Arcteryx que achei muito frágil. Abriu um buraco no segundo dia por causa do walking stick.

•    Minha segunda camada, uma luva que uso nos trekkings e que sempre achei ótima, de fleece com wind stoper da Mountain Hardwear, foi inadequada e junto com a balaclava Gorilla foram as duas modificações que fiz após a escalada. Descobri que e fundamental ter uma luva razoavelmente fina que te permita fazer coisas com as mãos, mas que seja impermeável. Acima do campo 2 fazer qualquer coisa, montar barracas, cavar, cortar blocos de neve sem luvas e pedir para ter congelamentos e tentar fazer isso com luvas grossas simplesmente não funciona. Após a escalada comprei uma OR Storm Trcker

•    Como terceira camada, usei a fantástica Guide’s Glove da Black Diamond. Não poderia ter escolhido melhor, resistente, impermeável e muito quente. Só nos dias com muito vento e com sensação térmica inferior a menos 30 que senti necessidade de usar os mittens.

•    Mittens – é um consenso de que as Alti Mitts da OR são as melhores, mais quentes e menos volumosas do mercado e substituíram as de pena que são ainda mais difíceis em termos de destreza. Muito quentes e mesmo no dia de cume achei que não precisaria ter usado os hand warmers.

Para dormir:

•    Colchonete – Aí não poderia ter feito escolha pior e isso quase me colocou em uma situação potencialmente perigosa. Na pagina da Thermoarest dizia que o NeoAir era o seu modelo mais novo, mais quente e mais leve pesando apenas 350 gramas. Claro que comprei já que peso nessas escaladas é uma das considerações mais importantes na escolha de equipamento. No primeiro dia já notei que ambos, o meu e o da Andrea vazavam e no segundo dia o meu fez uma bolha na altura da cabeça que aumentou progressivamente ate que no sexto dia já estava completamente impossível de usar. Além disso, o tecido exterior e tão fino (por isso o baixo peso) que por toda a expedição tive que me mover com todo o cuidado dentro da barraca por medo de furá-lo. Não recomendo! No máximo é para ser usado para um fim de semana de trekking quando se quer ir muito leve. Na volta comprei dois pro light da Thermorest que conheço e confio. Seus 600 gramas de peso compensam pela tranqüilidade.

•    Sleeping bag – Mais uma vez a questão de peso versus qualidade. Comprei o menos 53 Celsius da marca francesa e Valandre modelo Thor e até agora estou dividido. Ele e realmente muito quente a ponto de eu me questionar se o denali foi tão frio assim (mas foi). Em nenhum momento passei frio mesmo dormindo sem roupa e sem meias, como é meu costume. Ele também é muito mais leve que os da North face e Mountain Hardwear e isso porque o tecido que o recobre e muito mais fino. Isso e bom, claro, mas ele também molha com muito mais facilidade com a neve que se forma no teto da barraca a ponto de deixar as penas úmidas. Por sorte durante o dia ele secava, mas fiquei preocupado com isso. Ouvi boas referencias do Feather Friends (marca americana de Seattle) menos 60!!!

•    Sleeping mat – Tenho dois ridge rest e são excelentes e quando o meu colchonete estorou ele me salvou.

•    Barraca – Tivemos as fantásticas Trango 3 da Mountain Hardwear, espaçosas, apesar de não tanto como a VE 25 da North Face, mas mais do que suficiente para duas pessoas confortavelmente ou três um pouco apertado. A grande vantagem desta barraca e a facilidade de montar com o sistema de ganchos e não de bainha como as VE 25. Acho que em um dia de vento, ou seja, todos do Denali, as VE 25 são quase impossíveis de montar.    

Harwear:

•    Crampons – Comprei os Sabretoothooth da Black Diamond , um crampon de uso geral e que se comportou super bem apesar de um pouco pesado.

•    Piolet Black Diamond Raven Pro. Leve e resistente. Para montanhas que não necessitem de piolets técnicos uma escolha excelente.

•    Capacete Black Diamond Tracer,  leves, confortáveis e com lugar para prender as lanternas de cabeça. Ótimos!

•    Mochilas – A minha e a Denali Pro com 105 litros da Gregory. Apesar de achar que a Gregory está piorando a cada ano, desta vez ia comprar uma da Mountain Hardwear, mas não estava disponível. A Denali Pro me pareceu bastante boa apesar de pesada. Apesar de sua enorme capacidade consegui enche-la totalmente e ainda sobrou muito para levar no trenó!

•    Trekking poles – Comprei um leve, mas básico da Leki. O meu anterior tinha durado mais de dez anos e repeti a formula, com fechamento de rosca e sem molas que na minha opinião só servem para quebrar.

•    Mosquetões – Aí é muito gosto pessoal. Comprei os Neutrinos da Black Diamond, simples e leves.

•    Duffle Bags – Para levar todo o equipamento de um pais a outro comprei os caros, porém muito resistentes Mountain Hardwear com zíper grandes, material impermeável e cintas de compressão interna. Para os trenós levei dois mais leves e baratos feitos no Nepal. Com o frio o material de revestimento se quebrou e os zíperes congelaram dificultando o manuseio, mas durou a expedição. Por US 15 não podia esperar muito, não?

•    Jummar – Compramos o Black Diamond N Force e uma vez mais estou em duvida entre as vantagens e desvantagens. Vantagem: a parte onde se coloca a mão é maior do que os jummars normais facilitando muito o uso com luvas grossas e mittens. Desvantagem: o sistema complicado de travar e destravar acabam fazendo com que você tenha de usar as duas mãos o que pode complicar muito seu uso. Sabendo disso eu talvez hoje comprasse os tradicionais Petzels.

•    Cadeirinha (harness) – Usei o Black Diamond Blizzard e achei ele confortável, razoavelmente leve e com bom acesso aos mosquetões.

•    A Andrea usou pela primeira vez um funil para urinar sem ter de abaixar e achou muito prático, principalmente com varias camadas de calças e cadeirinha. Marca Freshete.

Espero que esta lista possa ser útil não só para aqueles que planejam escalar o McKinley, mas também para o Aconcagua, Cho Oyu e Everest.
 

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Sobre o autor

Manoel Morgado é médico de formação, mas trabalha como guia de montanha há 20 anos, atuando em vários países ao redor do mundo. Há 15 anos é montanhista, tendo como ápice de sua carreira a conquista do Everest e também a realização do projeto 7 cumes. Ele nasceu no Rio Grande do Sul, se criou em São Paulo e dede 1989 não tem casa.

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