Campeonato Mundial 2011

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SHOW DE RAMON NA FINAL DO MUNDIAL DE DIFICULDADE:
O espanhól Ramon Julian confirmou o favoristismo consagrando-se CAMPEÃO DO MUNDO de escalada 2011 aqui em Arco, apavorando na via final, sendo o único a completar o desafio após um bote para a última agarra, superando Jakob Schubert e Adam Ondra. Incrível escalada, muito sólida… Há algum tempo, é um dos escaladores mais impressionantes do mundo, e um dos mais humildes também… Felicitaciones RAmonet!


11:15 am
+ Resultados – Qualificatórias e Final: FEMININO DE DIFICULDADE
+ Resultados – Qualificatórias: MASCULINO DE DIFICULDADE
+ PARACLIMBING
+ Salewa ROCKMASTER AWARD 2011 goes to…
+ Troppo Belle Arco
+ Rock climbing: Massone
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Ciao!

A trip por Arco está ‘troppo bella’ como diriam os italianos, mesmo após competir em dificuldade e ficar na 69ª colocação (entre 76 mulheres) nas qualificatórias. Definitivamente, não é um resultado que traduz minha satisfação em estar por aqui.

Campeonato vai, campeonato vem e eu sempre saio pensando como é cruel entrar em duas vias alucinantes montadas com tanto cuidado e não poder tentar novamente (na fase classificatória do mundial, são sempre duas vias para cada competidor, com escalada em ‘flash’ = visualizando a escalada dos demais).

‘Preggo’! Essas são as regras de um campeonato, sem choro nem vela: ou aperta na primeira tentativa ou parte para a próxima…

E desde minha primeira competição na Europa em 1998, mantenho-me apertando conforme minhas condições de treinamento no Brasil, partindo para a próxima competição com um puta tesão sem medo de me expor ou de tentar…

Não há dúvidas que viajar é sempre um ótimo consolo após concluir a falta de preparo para os desafios internacionais de escalada se comparado com as equipes austríacas, francesas, eslovenas e por aí vai…

Ao contrário das equipes profissionais europeias que vivem por aqui, cada visita à Europa é uma disputa também contra o tempo, na ânsia de viver tudo que der nesta oportunidade em outro continente.

De qualquer forma, mais uma vez, o que derruba e continuará derrubando os atletas brasileiros antes das semi-finais é um conjunto de fatores já discutidos e dramatizados em outras postagens, de diversas formas, por diversos blogs e escaladores do Brasil.

Eu, particularmente, cansei de treinar somente indoor, principalmente nos finais de semana, e de me dedicar por conta própria tendo que arcar com parte dos custos de participações internacionais para chegar aqui e ficar no “quase”. Foi assim para mim em Munich em 2007 – “Quase”…

Só não foi assim em 2006, nas etapas de Marbella (Espanha) e Puurs (Bélgica) quando me classifiquei para as semi-finais, superando enfim o “quase”, porque na época eu contava com um patrocínio da Brasiltelecom, que me permitiu dedicação integral aos treinamentos, como se fosse realmente um trabalho.

Contudo, tal colocação na semi-final não modificou o incentivo voltado para a escalada no Brasil nos anos seguintes. Pelo contrário, o cenário regrediu no nosso país.

Graças, felizmente, ao reconhecimento da comunidade e à continuidade de minha dedicação apaixonada pelo esporte, conquistei a parceria da THE NORTH FACE BRASIL que me ajuda a estar aqui mais este ano, embora, ainda assim, eu e todos os brasileiros tenhamos que seguir com algum trabalho que toma muito mais tempo que o dedicado aos treinos, o que compromete boa parte do desempenho como atleta.

Sem foco, não há resultado a curto ou a longo prazo. E esta máxima serve também para uma associação ou entidade que represente o esporte onde os interesses e dedicação não sejam direcionados.

Por isso, o IFSC surgiu de maneira pequena, desligando-se da UIAA, começando com dificuldades também, mas seguindo um caminho firme.

Por isso, o Brasil precisa de uma mudança na condução da escalada esportiva como esporte também, seguindo o caminho natural percebido por outros países que sofreram também com a falta de especificidade. É uma questão de prioridades, sem dúvida, com muito trabalho voluntário e mais focado. Quem sabe se a escalada tornar-se esporte olímpico, algo mude para as futuras gerações.

E com este cenário até hoje, meu foco para competir naturalmente também diminuiu ainda mais e eu passei a saborear também todo universo que a escalada oferece…

Realmente tenho desfrutado da escalada em rocha no último ano e projetado minha vontade de escalar forte na rocha, onde as oportunidades de desafios e superações são infinitas e a pressão para um desempenho podem ser mais diluídas…

Enfim, para Arco Worldchampionship 2011, alguns brazucas estavam mais preparados, outros menos, mas o fato é que este é um evento absurdamente concorrido, onde todos, sem exceção, estão na pressão para superar limites…

No feminino, a Thais Makino, brasileira companheira nos perrengues das qualificatórias femininas este ano, teve a 57ª colocação em dificuldade e tem muito chão pela frente, principalmente se tiver oportunidade e estômago para encarar as dificuldades e frustrações que envolvem ser um atleta no Brasil por enquanto.

Sobre as vias do feminino, as eliminatórias ofereciam 4 vias cotadas entre 7c+/ 8a francês. Eu entrei calma na via em flash, tendo visualizado muitas outras escaladoras fazendo caretas ao longo do desafio… Contudo, como era de se esperar, não havia respiro em nenhum lance na parede negativa e meus braços tijolaram no meio da parede sem chances de recuperação…

Por alguns momentos, para mim esse foi um mundial encarado como uma despedida das participações internacionais, com bem menos especificidade que anos anteriores por estar mais voltada para escalada em rocha.

Mesmo assim, foi só experimentar uma dose de competição como esta e encarar o porre da frustração para o vício manifestar-se novamente… A escalada de competição para mim em Arco teve um gosto um pouco amargo antes de chegar até aqui por saber que eu não estava focada em vias na resina.

Ao chegar aqui, senti um êxtase ao reencontrar a comunidade mundial que venho conhecendo há quase 15 anos e parece que a energia da competição propagou-se e o tesão em competir tomou conta do corpo… O pico de energia manifestou-se e a experiência em saber o que deveria ser feito na pré-competição foi colocada em prática, consciente de que não existiria milagre: desta vez, eu iria acelerar nas duas vias até onde desse, pois sabia que não havia descanso.

Chegada a hora da competição e da fatal queda, senti uma raiva breve por querer apertar a agarra para prosseguir para o próximo lance, sem sucesso, desta vez, ainda mais claramente por falta de continuidade… Posteriormente, veio aquele gosto de ressaca, de cansaço, ombros pesados pela tensão imposta por mim mesma…

Na verdade, essa sensação é comum em qualquer um, inclusive nas finalistas que até o último minuto impõem-se uma cobrança absurda….

E, finalmente, quando nos afastamos um pouco do ‘vício’ e analisamos a situação de maneira mais racional, felizmene vem à tona a essência do esporte: “Never sad, never tired, never guilt” (vlw Fla, ajudando-me a me manter um pouco mais ‘sóbria’ neste desafio com essas palavras), pois acima de tudo, para seguir em frente, é imprescindível desfrutar.

E a certeza de que devemos desfrutar ao máximo de cada momento na escalada e na vida fica ainda mais nítida quando entramos em contato com campeões e guerreiros escaladores do PARACLIMBING… Paraplégicos, cegos, amputados sem um braço, sem as duas pernas, com deficiências físicas nas mãos, deficiências mentais, e por aí, todos escalando, emocionando os presentes neste primeiro CAMPEONATO MUNDIAL DE PARACLIMBING.

AS vias escaladas foram montadas conforme as categorias de deficiências e a performance dos participantes impressionou bastante, dando-nos a certeza de que, seja como for, é preciso correr atrás daquilo que nos preenche, usando aquilo que temos.

MASCULINO DE DIFICULDADE e ROCKMASTER AWARD 2011

No masculino de dificuldade, o Belê e o Cesinha representaram o Brasil nesta quinta-feira, 21 de julho, encarando um 8b francês nas qualificatórias, com destaque para a imponente 37ª colocação do Cesinha (entre 139 participantes e 26 semifinalistas) e a 65ª colocação para o Belê…

Foram poucos tops nas vias, incluindo a escalada mais uma vez impressionante do pequeno espanhol Ramon Julian, um dos premiados do ROCK MASTER AWARD 2011, realizado no centro de Arco também nesta quinta feira, dia 21 de julho.
Quase todos os ‘legends’ estavam presentes… Lynn Hill no palco ao lado de Legrand, Yuji Hirayama falando sobre a beleza de estar em Arco a cada ano, contando histórias de como se cobravam para treinar também, da parceria que fizeram durante o tempo de atletas para chegarem e manterem-se nas finais dos mundiais…

Através de júri formado pelas revistas de escalada de diversos países, Adam Ondra e Ramon Julian foram premiados como destaques do último ano, consagrando-se merecidamente vencedores do Salewa Awards 2011.

FINAL FEMININA

A grande FINAL FEMININA, que contava com nada mais, nada menos que 5 austríacas + a americana Sasha Digiulian, a slovena Mina Markovic e a coreana Jain Kim aconteceu nessa 6ª feira à noite, dia 22 de julho. Foi mais um dia de espetáculo aqui em Arco..
Após a coreana Jain ficar a uma agarra de completar a semi-final cotada em 8b, passando em 1º para a final, a austríaca Angela Eiter conquistou mais uma vez, com muita inteligência o título de campeã do mundo de 2011, sendo a única a superar um lance que derrubou todas as outras finalistas.

Foi realmente uma demonstração de como a experiência pode fazer a diferença quando o nível físico está equiparado.

Neste sábado, 23 de julho, acontecem as finais no masculino de dificuldade. Mais um show da escalada esportiva de alto nível para inspirar-nos!

Será uma disputa acirrada, como sempre, e estaremos desfrutando da oportunidade de acompanhar de perto a garra desses campeões…
Confira ao vivo esta noite e inspire-se em :

www.ifsc-climbing.org
http://www.ifsc.tv

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Sobre o autor

Janine Cardoso é a maior vencedora de campeonatos brasileiros de escalada, com 8 conquistas. Ela já participou de mundiais e também de diversas etapas de Copas do Mundo. Atualmente é atleta da The North Face.

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