Educação é bom, e o dono do terreno gosta!

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Porque digo isso? Bom, no fim dos anos 90, quando escalávamos no Rio de Janeiro, ao entrar nas vias do Morro da Panela em Jacarepaguá, batíamos palma e pedíamos, por favor, para passar pelo terreno do morador que vivia colado na entrada de algumas vias. Deixávamos o carro dentro da comunidade e ainda dávamos um trocado para algum menino que tomava conta do carro, no final do dia parávamos no bar de algum morador e tomávamos uma coca-cola, tudo isso para manter a cortesia em alta com os moradores. Hoje, parece que a falta de educação e bom senso pode tirar o direito de ir e vir das montanhas de quem mais depende delas para do esporte: nós, escaladores e caminhantes.


Antes, quando nos aventurávamos pelas divisas do Rio de Janeiro com Minas Gerais, caminhávamos por dentro de fazendas, mas antes pedíamos permissão para passar, e esta nunca foi negada. Tomávamos banho de cachoeira em propriedades privadas sem pagar nada por isso, tudo na mais bela camaradagem e boa educação. Sei que se for passar hoje nas mesmas terras que antes entrava com uma mochila nas costas, talvez receba um tiro de advertência ou uma saraivada de palavrões pedindo que me afaste do terreno. Onde foi parar toda aquela gente boa? Onde esta a camaradagem do povo do interior?

Tenho acompanhado o trabalho das associações, federações e iniciativas como o Programa Acesso às Montanhas (AM), criado pela Federação de Montanhismo do Estado do Rio de Janeiro (FEMERJ), todos estes super empenhados em garantir o direito de ir e vir de escaladores e caminhantes, mas sentar e esperar as regras do jogo se resolver é errado, ou melhor, é ser omisso a tudo que esta acontecendo.

Nunca um ano foi tão cheio de campeonatos, congressos e eventos ambientais como 2010. Vários estados se mobilizaram para garantir direitos ambientais não só para escaladores; caminhantes e turistas também entraram para lista dos beneficiados. Mesmo com toda essa movimentação e divulgação do esporte ainda existem pessoas dizendo que nada esta sendo feito para melhorar a situação dos acessos as montanhas.

Entrar na marra, derrubar uma cerca ou bater um grampo onde esta proibida a conquista, não faz de ninguém mais macho que o outro. Se não pode, pergunte o porquê de não poder, ou pelo menos tente entender o porquê. Seja educado com o dono da terra, seja ele o fazendeiro ou o governo do seu estado.

Enquanto a briga pelos direitos de ir e vir corre pelos fóruns e congressos, o caldo esta só engrossando. Agora o foco da proibição esta no pessoal do Slackline (esporte super legal!). O pessoal precisa montar a ancoragem para esticar a fita em pontos distintos; até ai tudo bem, mas quando esses pontos distintos são torres de rede elétrica, viadutos ou arvores dentro de parques municipais? Aí esta o Highline, modalidade muito legal, mais até onde ele esta sendo positivo para o esporte em geral já que alguns fazem sem permissão?
O assunto me remete ao Rapel dos anos 90, onde a galerinha do “HUHUUU!” Se pendurava em pontes e viadutos das cidades. Acho que todos se lembram do problema que isso gerou para clubes e federações de escalada. Será que vamos repetir isso? Espero que não, até porque o Slackline vem sendo feito por pessoas muito competentes como o pessoal do Slacklinebrasil, e tem muito escalador na modalidade.

Não importa a modalidade que você pratica, escalada, caminhada ou Slackline, existe espaço para todos, mas se não respeitarmos as restrições que hoje existem e procurarmos entender as regras para que possamos reverter à proibição, vamos perder não só o direito de entrar nestas áreas como vamos perder também o direito de impedir que proíbam novas.

Bate boca e pancadaria só funciona no programa do Ratinho! A vida real é bem diferente. Se não esta devidamente registrada e documentada, a proibição ou acesso não vale de nada. Seja educado e respeite as regras. Lute pelos seus direitos usando o cérebro, pergunte, investigue e procure os órgãos competentes que atendam seus interesses. Os clubes e federações estão ai para ajudar; na duvida, escreva para um deles. Gentileza gera gentileza!

Força sempre e boas escaladas!

Atila Barros

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Sobre o autor

Atila Barros nasceu no Rio de Janeiro, e vive em Minas Gerais, cidade que adotou como sua casa. Escalador (Montanhista) há 12 anos, é apaixonado pelo esporte outdoor. Ele mantem o portal Rocha e Gelo (www.montanha.bio.br)

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