Expedição ao Pico Sem Nome – 2

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Avanços – Para ganhar tempo, cheguei a fixar proteções a 20 metros umas das outras, correndo o risco de sofrer sérias quedas de até 50 metros, mas rendendo a escalada antes de uma nova tromba d´água.

Uma das poucas escaladoras brasileiras a se dedicar a abrir vias de escalada, para a minha sorte Fernanda prefere explorar ao invés de "repetir" uma rota, realizando o árduo trabalho de fixar proteções na rocha à base de marretadas, sem direito à vaidades (dias sem banho ou cosméticos) e forçando o seu limite técnico, físico e psicológico.

O que me deixa ainda mais orgulhoso e preocupado é que além dela revezar a dianteira da escalada comigo (correndo maiores riscos), a menina está pegando gosto pela emoção de dar grandes esticões de corda entre as proteções. Durante a escalada do Pico Sem Nome, ousadamente chegou a fixar chapeletas com distância de até 12 metros, que poderiam gerar quedas de até 30 metros caso ela cometesse algum erro. Determinada a me matar do coração, após alguns metros de corda esticada, quase voou ao escorregar e, segundos depois, arremessou para baixo uma grande agarra que quebrou em sua mão – cena filmada por uma câmera presa em meu capacete.

Poucas horas antes de encerrar o dia 31, já com o portaledge armado, fomos surpreendidos por um temporal tão forte que achamos que fosse granizo. Para piorar, fomos pegos em cheio por uma perigosa tempestade de raios, que estouravam sob nossas cabeças. Cientes do risco que corríamos e do quanto deveríamos ser rápidos (centenas são as fatalidades nas montanhas por conta de descargas elétricas), abandonamos a parede o mais rápido que foi possível – levamos uma hora para descer, sob frio e fome, com cargueiras pesadas e tendo que abandonar muito equipo na parede (que só resgatamos no outro dia). Após o susto, surpresa ao descobrir que a mini-câmera estava ligada, com registros tensos de nossa roubada.

Já no seguro e elevado Acampamento Base, instalado a uns 2.000m de altitude na base da parede, curtimos um dos melhores reveillons de nossas vidas. Uma tímida chuva de fogos a dezenas de quilômetros nos confirmou que realmente estávamos em 2009. Ao sabor de um mini champagne, de duas castanhas e duas pesadas nozes, comemoramos o fato de estarmos juntos em um lugar tão incrível, vivendo no limite, fazendo o que mais gostamos, ao lado da pessoa amada e valorizando as coisas mais simples da vida.

Não poderia terminar este texto sem um merecido agradecimento à nossa prestativa equipe de apoio. Prefiro trabalhar com a "auto-suficiência", evitando contar com a boa vontade dos grupos de salvamento locais em caso de emergência, que na grande maioria das vezes, não possui experiência e equipamentos para atuar em montanhismo (quem não se lembra do escoteiro Marco Aurélio, desaparecido há anos na região e que mobilizou, de forma questionável e ineficaz, uma das maiores tentativas de busca e resgate já empreendidas no Brasil em ambiente de montanha).

Sinceramente, prefiro o risco de não conseguir voltar, do que o desperdício de recursos públicos e a exposição desnecessária de vidas alheias ao perigo, mas isto é uma lonnnga história… Diante deste raciocínio e dos riscos de nossa empreitada, desta vez optamos pelo suporte de uma equipe formada por montanhistas experientes. No Acampamento Base Marins local de nossa partida, contamos com o apoio do guia Milton Gouveia e do escalador Diego Moreira, do CEMAR (www.grupocemar.blogspot.com), sempre atentos aos rádios e que nos ajudaram na difícil aproximação e transporte de equipos. Sem esquecer do apoio logístico do Gustavo Vidal (www.tribodatrilha.com.br). Além dos camaradas, contávamos também com um kit de sobrevivência e um rastreador satelital SPOT , capaz de enviar mensagens com nossa exata localização para nosso apoio.

Breve retorno – Este tipo de expedição pode levar desde uma semana até exigir várias investidas para ser finalizada – já precisei de até 6 anos para terminar algumas escaladas. Prontos para retornar para a montanha, estamos aguardando apenas uma janela de bom tempo para finalizarmos a escalada. E em breve, divulgaremos aqui no Altamontanha o final desta história, a segunda etapa de nossa expedição ao Pico Sem Nome.

Fundamental para o sucesso de nossos trabalhos, gratidão à norte-americana W. L. GORE®, líder mundial em tecnologias para Atividades ao Ar Livre e detentora das renomadas marcas WINDSTOPPER® e GORE-TEX®.

Respectivamente bacharéis em Comunicação Social e Fotografia, o casal Márcio Bortolusso e Fernanda Lupo atua como documentaristas de Aventura, Natureza e Cultura Regional, à frente da PHOTOVERDE® Produções (photoverde.com.br), organismo pioneiro que têm projetos sócio-ambientais, culturais e desportivos junto às mais importantes empresas e mídias do setor. Montanhista há 15 anos, Bortolusso consagra-se como um dos mais atuantes fotógrafos e cinegrafistas latino-americanos de Escalada e Montanhismo, com expedições exploratórias e produções da Patagônia aos Alpes. Fernanda fotografou durante anos os maiores nomes da música nacional e internacional para a HMP, maior editora musical da América Latina. Especializada em fotografia Macro e 3D de natureza, seu trabalho vai de cursos para o SESC à Mostras Individuais e Coletivas (fernandalupo.com.br). Membros do Centro Excursionista Gravatá, a dupla tem patrocínio das marcas GORE-TEX® (gore-tex.com) e WINDSTOPPER® (windstopper.com).

Fonte

 

 

 

Márcio Bortolusso e Fernanda Lupo

 

 

 

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