Mt.Kailash (6.638m), a montanha mais sagrada dos Himalaias

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A região do Tibet, hoje posse chinesa, esta localizada no continente Asiático fazendo fronteiras com a Índia, o Nepal e o Butao.

Por Alberto Ortanbland

O Tibet esteve fechado para o turismo pelo governo Chinês da década de 50 até meados dos anos 80, quando as portas foram abertas para o mundo. Desde lá esta região se encontra em ruínas e busca pouco a pouco uma reestruturação que parece não chegar nunca.

No período de invasão chinesa mais da metade da população foi exilada de seu próprio território e o maior líder regional e budista Dalai Lama foi expulso de seu reinado dando lugar ao grande crescimento econômico da China.

Saindo de Kathmandu , é comum os turistas percorrerem 4 horas de estradas ao norte até chegarem em Kodari onde atravessa-se a ponte da amizade para imigração ao Tibet.
Ao cruzar a fronteira burocrática e tumultuada de pessoas que compram os produtos chineses para vender no Nepal, podemos ver a policia chinesa que através de ostentação e repressão revistam todos que passam por lá. Deste ponto em diante fica impossível ver fotos de Dalai Lama , que já são substituídas pela figura do ditador Mão Tse-Tung.

A primeira cidade do Tibet por este caminho é Zhangmu onde geralmente gastamos mais uns 30 minutos acertando vistos e burocracias locais.

De Zhangmu a próxima parada é Nayalam que com seus 3860m de altitude já oferece frio, ar rarefeito e muita comida chinesa já que tibetanos são raridade por enquanto.
Neste pequeno vilarejo se gasta 2 noites afim de se aclimatar de forma mais saudável visto que a subida é feita de carro e de forma brusca o que dificulta ainda mais a adaptação. Esta adaptação não só a altitude, mas também a grande presença invasora do exército local que é característica de todo e qualquer vilarejo tibetano até o Monte Kailash.

Após Nayalam a peregrinação segue a Saga (4800m), a maior atração destes dias iniciais esta por conta dos pequenos vilarejos que passamos nas estradas, onde ainda se é possível observar a população local cultivando e vivendo naturalmente, sem contar o belíssimo Gyaltso – La Pass (5248m) que repleto de bandeiras de orações têm uma visão privilegiada dos Himalaias com destaque ao Shisha Pangma (8013m), que é a 14ª maior montanha do planeta.

Para quem espera chegar em Sa-Ga e encontrar pequenas casas, população local e tranqüilidade provavelmente terá uma decepção ao encontrar mais um vilarejos repleto de soldados armados , construções modernas e tibetanos com rostos sofridos servindo aos invasores. Ao amanhecer e ao entardecer é rotineiro presenciar o toque de alvorada e o toque de recolher dos militares respectivamente.

De Sa-Ga a jornada de 4×4 Land Cruiser segue para Paryang que nos dias atuais está a aproximadamente 4 horas de viagem devido à construção de novas estradas pavimentadas que fazem parte dos 10 bilhões de dólares que o governo Chinês colocou na “reestruturação” do Tibet.

O vilarejo de Paryang (4700m) é um pouco mais inóspito que Sa-Ga e podemos avistar a bela cordilheira dos Himalaias ao fundo além de ter contato com pequenas casas de camponeses que ainda se encontram mais preservadas, mas é claro que ainda com grandes marcas da invasão, muita pobreza, sujeira e grande descaracterização cultural.

Desde Paryang até o Lago Manasarovah (4800m), levam-se mais 4 horas de 4×4 em estradas.Chegando ao mirante já é possível observar o mais sagrado lago para os Hindus e Budistas que acreditam que as águas do lago purificam a existência de karmas passados e dá origem a 4 rios sagrados para estas religiões, sendo dois deles o Ganges e o Bramaputra.

O vilarejo que esta em torno deste lago oferece aconchego local em detrimento da precariedade de alimentos e hospedagens, além disso, já podemos observar o imponente Mt. Kailash (6.638m) com seu formato de Lingun (representação masculina do divino para os hindus), que se destaca em meio à paisagem desértica e árida das partes mais baixas, deste mesmo ponto avista-se em pequeno monastério no pico de uma colina tendo o lago Manasarovah com um azul turquesa impressionante e indescritível ao fundo.

Os visuais, sensações e energia deste dia fazem valer qualquer valor, esforços e desapegos vividos durante o trajeto. Ao avistar o Lago e a sagrada montanha sentimos o explendor da natureza na pele e encontramos o que muitos buscam no Tibet que é a paz incondicional e a vida primitiva e espiritual dos locais.

A peregrinação continua por apenas mais 1hora de carro até chegar a Darchen (4690m), cidade base para iniciar a caminhada ao redor do Kailash. Darchen possui hospedagens rústicas como a maioria no Tibet e serve de ultimo ponto de preparação para caminhada.

No dia seguinte iniciamos a peregrinação passando por visões lindíssimas do impotente e sagrado Kailash que se destaca em meio à paisagem desértica da região, após 4 horas de caminhada chega-se a Dira-Puk (5.100m) onde o descanso é realizado em um monastério bastante inóspito que nos possibilita presenciar os treinamentos das crianças e jovens que buscam ser Monges, pois ao contrário do que muitos pensam , o monastério é como uma escola religiosa onde os pequenos aprendem sobre a filosofias budistas e alguns conhecimentos gerais. O Curioso é que o teste para se tornar monges é passar por 3 meses , 3 dias e 3horas em imersão e meditação, em pequenos quartos que podem ser facilmente vistos nestes lugares.

Dirá-Puk nos permite sentir a imponência do Kailash bem como a altitude, pois dormir a 5.100m não é uma tarefa simples para aqueles que têm uma aclimatação mais lenta. Por todo o caminho é possível ver oferendas que vão de roupas a pequenos totens de pedras nos pontos que julgam ser mais auspiciosos.

De Dirá-Puk a caminhada de 10 horas atravessa 3 principais passos , o primeiro é conhecido como “Sim-Pass” de 5.200m e acredita-se que quem possui muitos pecados sofrem nesta primeira etapa. O 2º passo esta a 5.400m e é o “SkyBerry” que é logo seguido pelo maior e mais temido passo de 5.600m chamado Droml-la Pass, o visual desde este ponto é bem interessante pois temos acesso ao lado sul do vale do Monte Kailash.

Depois de aproximadamente 4 horas de subida, enfrenta-se mais 2 horas de descida até alcançar uma imensa região plana que margeia o rio Lham-Chu ate chegar a Zuthul-Puk (4.800m) que como o vilarejo anterior oferece apenas um monastério onde todos são bem acolhidos e um abrigo preparado apenas para atender os peregrinos em alta estação já que turistas estrangeiros são minoria por lá, mesmo sendo O Monte Kailash tão conhecido e divulgado internacionalmente.
Neste pequeno pedaço do Kora (volta de peregrinação ao redor do Monte Kailash), não conseguimos mais avistar o Kailash.

No terceiro e último dia de caminhada segue-se uma trilha ampla por mais 2 h até encontrar o carro novamente, o qual nos levará de volta a fronteira com o Nepal.

O retorno ao Nepal acontece pelo mesmo caminho da vinda podendo variar os vilarejos de pernoites, porém atualmente com as estradas em condições boas, pode-se chegar a Zhangmu (1.500m) em 12 horas de carro, aproveitando do conforto da cidade que oferece hotéis e alimentos variados, é claro que sempre chinês. Já no dia seguinte é possível atravessar ao Nepal e chegar a pequena cidade de Kodari e pegar o transporte a Kathmandu.

Este roteiro também pode ser realizado via Lhasa e ter um itinerário de carro diferenciado, passando por mais monastérios e vilarejos, além de conhecer a Grande capital Tibetana e avistar a imponente face norte do Mt. Everest (8.848m).

Como Dalai Lama disse: “Vá ao Tibet, veja a situação, tire fotos e conte ao mundo o que viu”.
Posso afirmar que vi muita beleza natural, montanhas lindíssimas e fé acima de tudo, mas não podemos negar que a situação tibetana é crítica e a crescente pobreza é visível aos olhos de quem passa por ali. Infelizmente podemos ver tecnologias implantadas e o consumismo em todas as partes, sei que não podemos fugir muito disso, mas respeito e dignidade faz bem e nós adoramos

:: Veja o trekking ao Monte Kailash no Rumos: Navegação em montanhas!

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Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

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