Reajuste do sistema brasileiro de escalada

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A grande maioria dos escaladores brasileiros praticam a escalada esportiva, e já usam há muito tempo 8c no lugar de VIIIc, ou 9a no lugar de IXa. Entretanto, 9a brasileiro (5.12d americano) é muito diferente de um 9a francês (5.14d americano), perceberam a enorme confusão? Ora, se a grande maioria não usa mais os números IVX, para que insistir nisso? Temos que reajustar a forma de representar o nosso sistema de graduação, sem perder o que foi feito antes.

Como Era (é)


O sistema de classificação brasileiro de escalada é uma salada. No início, devido à influência européia, copiávamos a classificação do UIAA (União Internacional de Associações de Alpinismo), que ia do I ao VI+. Porém, no lugar do sinal “+”, usamos sup, abreviação de superior. Isso durou até 1982.
 
Posteriormente foram surgindo escaladas mais difíceis e resolvemos, para isso, usar parte da classificação americana, que usam suas as letras a, b, c e d (5.10a, 5.10b, 5.10c, 5.10d, 5.11a…). Entretanto, cortamos a letra “d” e nossa classificação passou a ficar parecida com a francesa, que vai do 1 ao 9, mas com as letras a, b e c e o sinal “+” intermediando a partir do sexto grau… 6a, 6a+, 6b, 6b+, 6c , 6c+, 7a…  Mas fizemos isso a partir do sétimo grau e não adotamos o “+”, ficando assim… V, Vsup, VI, VIsup, VIIa, VIIb, VIIc, VIIIa…  Mas inovamos, nas vias longas damos a graduação média da escalada, seguida do grau do lance mais difícil.

Também adicionamos o grau de exposição, de E1 (muito seguro) a E5 (suicida), que foi baseado numa tentativa errada de copiar o complicado sistema inglês. Alguns queriam colocar até o E7. Mas no E5 se o sujeito cair, “tá morto”, para que ir além disso? Colocamos também o tempo de duração da escalada: D1 (uma hora) a D4 (dois dias ou mais). O resultado ficou algo do tipo…  D3 5 VIIb E2. E assim nasceu o nosso sistema, que surgiu de adições após adições.

Como Pode Ficar

A sugestão é resgatar os sinais – e +, que eram usados antigamente, mas era representados pelas palavras “inferior” e “superior”. Então, para manter o sistema que usávamos até 1982 e o atual, mas continuando com uma lógica se livrando dos algarismos romanos arcaicos, o nosso sistema deveria ser assim… 1-, 1+, 2-, 2+…6-, 6+, 7-, 7, 7+, 8-, 8, 8+, 9-, 9, 9+… 11-, 11, 11+. Esta é a lógica e evitaria confusões com outros sistemas. As letras a, b e c confundem grosseiramente com o modelo francês …8a, 8b, 8c…  Dessa forma teríamos o grau sólido, sem os sinais – e +. Exemplo: 7 (sétimo), 8 (oitavo), 9 (nono)… Enfim, os algarismos acima… 7-, 7, 7+ servem tanto para as vias esportivas como para as vias longas em paredes. Exemplos: Leste do Pico Maior 4 (6+) E3.

As sugestões referidas (ver abaixo) não mudam em nada o sistema de graduação vigente, elaborado em seminário em 14-12-1999. Apenas substitui números romanos e letras para tentar acabar com muitas confusões. Nas vias longas, o grau médio e o grau do lance mais difícil continuam a ser representados, como foi publicado no trabalho do André Ilha, lançado em 1984.

Segue a tabela com as sugestões.

1   = I
1+ = Isup
2   = II
2+ = IIsup
3   = III
3+ = IIIsup
4   = IV
4+ = IVsup
5   = V
5+ = Vsup
6   = VI
6+ = VIsup
7-  = VIIa
7   = VIIb
7+ = VIIc
8-  = VIIIa
8   = VIIIb
8+ = VIIIc
9-  = IXa
9   = IXb
9+ = IXc
10-  = Xa
10   = Xb
10+ = Xc
11-  = XIa
11   = XIb
11+ = Xic

O sistema usado em Frankenjura (Alemanha), também usa sistema parecido, mas a partir do quinto grau. Entretanto, não é um sistema muito difundido. Pelo menos esta idéia tenta simplificar os nossos problemas. 

Agradeço a colaboração de vários colegas, entre eles: Davi Marski, Felipe Zamith, Gabriel Queiroz, Hillo Santana, Marcelo Braga, Neudson Aquino e Ricardo Peri.
Antonio Paulo de Faria
   

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Sobre o autor

Antonio Paulo escala há tanto tempo que parece que já nasceu escalando... 30 anos. Até o presente, abriu mais de 200 vias no Brasil e em alguns outros países. Ele gosta de escalar de tudo: blocos, vias esportivas, vias longas em montanhas, vias alpinas... Mas não gosta de artificiais, segundo ele "me parecem mais engenharia que escalar propriamente". Além disso, ele também gosta de esquiar, principalmente esqui alpino no qual pratica desde 1996. A escalada influenciou tanto sua minha vida que resolveu estudar geografia e geologia. Antonio Paulo se tornou doutor em 1996 e ensina em universidades desde 1992. Ele escreveu sobre escalada para muitas revistas nacionais e internacionais, capítulos de livros e inclusive um livro. Ou seja, ele vive a escalada.

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