Travessia Escandinava

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Ansiedade. Era esse o nome do sentimento que me tomou na véspera. Compreensível, pois era minha primeira incursão no mato e pra alguém habituada a pontes aéreas, vida doméstica, reuniões do trabalho e shopping centers o programa que havia me proposto ia no sentido totalmente contrario à rotina do meu dia-dia. Mas encarei mesmo assim, decidida a que não passaria sem essa experiência. Encorajada por todos, ouvi algumas dicas e sugestões do meu irmão Jorge Soto, respirei fundo e seja o que Deus quiser.
O nome da travessia que faríamos é &ldquo,Storulvån – Blåhammaren – Sylarna &ldquo,.


Isto fica na Suécia (a mais de 7hrs da capital) quase na fronteira com a Noruega e uma visão de um dos triângulos mais famosos para fazer Hiking na Suécia segue abaixo no link: http://jorgebeer.multiply.com/photos/album/127#photo=36

Tudo começou bem cedo. Lá estávamos eu, Pia, Anna-Åsa, Anna &amp, Camilla. A Pia e eu somos as únicas que nunca tivemos esse tipo de experiência. Sabadão as 4 da matina e todas nos encontramos na casa da Anna para embarcamos na van da Camilla com destino ao norte da Suécia. Tínhamos mais de 600km de asfalto, mas graças ao horário que saímos a viagem foi rápida e tomou apenas 6,5hrs. Logo nos últimos 500m de dentro do carro podíamos ver alces ao lado da estrada!

O nosso ponto de partida foi Storulvån, já que esta “Station”(tipo um albergue chiquezinho) tem toda a infra de comida, banheiros, chuveiros, etc..e estacionamento. Como já eram aproximadamente 13hrs e ainda tínhamos 12km para andar, decidimos almoçar no caminho mesmo.

Enfim começava a caminhada. Os primeiros metros tranquilíssimos, com direito a madeira no solo para pisar, ect.. Mas logo em seguida veio a subida… 2km de subida regada a pedras, as quais demandavam um pouco mais esforço que o normal. Para mim, que não pratica nada foi realmente punk, mas logo entendi que o negocio era controlar a respiração, ir mais devagar e pronto. Cheguei ao topo, ufa! Nada de matar, mas para o começo foi meio pauleira. Lá em cima a paisagem se abriu espetacularmente. Enfrentar a piramba valeu a pena.

Depois disso, almoçamos um sopão dos Deuses e o sanduba do rei. Para incentivar nos 10km q faltavam a Anna-Åsa tinha um preparado de chocolate + nozes + amêndoas + frutas&nbsp, secas picadas que era super bom e nos serviu de sobremesa.

Continuamos andando e como a minha maior preocupação sempre foi com os pés, desde o inicio parti com dois pares de meia (uma fina e uma bem grossa), alem de ter o pé todo enfaixado. Mesmo com tudo isso, senti os meus dedinhos, que precisaram ser enfaixados&nbsp, outra, outra e outra vez. O terreno não demandava muito esforço para caminhar e a cada paisagem q víamos realmente impressionava, tanto pela calma como e pela natureza. Pra variar, os alces perambulavam a toda hora ao nosso lado. Primeiro, parecem que vão fugir ao nos verem, mas que nada, na maioria da vezes eles vem bem próximos, xeretando tudo….fotos mil!!!

Um ponto que realmente me fascinou foi o cruzamento de um pequeno rio, do qual pudemos fazer um refill de nossas águas. O engraçado é que aqui na Suécia se bebe água da torneira e qualquer água corrente é potável. E assim foi com a que corria pelo rio, com a exceção de que esta realmente tinha um gosto muito melhor.

Logo depois do rio apareceu no meio do nada a 1º estação do que aqui eles chamam de “proteção ao vento”. O que é isso? Simplesmente devido ao fato das condições do tempo nas montanhas ser bem instável e ocorrem variações de uma hora para outra, este é um lugar onde as pessoas podem se proteger em caso de mau tempo, principalmente dos ventos de furacão que as vezes costumam soprar do mar. Nos lugares em que a gente passou, todos tinham uma pequena casinha com banheiro, onde se podia ficar protegido dentro. Impressionante.

Um detalhe interessante é que vi um casal com um baby (que ainda mamava) fazendo o mesmo trajeto….aff! Bom, os últimos 2 kms foram um pouco cansativos para mim, de um lado pela falta de preparo físico, e outro pela falta de banho! Hehehe… Mas não faltava muito para chegar a Blåhammarem, o que com certeza ajudou na força para seguir adiante (além da misturinha da A-Å de choco-nozes-frutas que com certeza tem seu mérito).

Chegamos às 17:30&nbsp, já cientes de que não teríamos lugar nos quartos da casa principal e dormiríamos no anexo. Mas quando chegamos os únicos lugares disponíveis para dormir eram a sauna e o chuveiro…rsrssr. Nós ficamos com a sauna, e um outro grupo retardatário ficou com o chuveiro. Divisão nada mais que justa. Não podemos reclamar, pois a sauna era localizada ainda na casa principal, mas de certa forma ficava bem isolada. Acredito que os que pernoitaram no chuveiro não puderam dizer a mesma coisa.

Para esta “station” a única forma de se chegar é a pé ou de ski, no inverno. Bom ressaltar, que a “station” costuma fechar em alguns meses do ano, por conta do frio. O local normalmente dispõe de 56 leitos, mas naquele dia estava batendo o recorde de 122!!! As estações da STF da Suécia (como as q eu estive) tem como principio não negar albergue para ninguém… também imagina, no meio do nada, se for negado albergue, não sei para onde as pessoas iriam. Dai a superlotação.

Aqui estávamos agora para o jantar! Sim, esta “station” é também tradicionalmente conhecida pelo seu “chef” e pela ótima comida deles!!! E por isso resolvemos comer aqui. Detalhe: tem que reservar com antecedência.&nbsp, E a comida foi fantástica! Apesar da quantidade de pessoas no albergue, os proprietários realmente conseguem pôr ordem na hora da comida: um hiper buffet de saladas, seguido da entrada, do prato quente, depois a sobremesa!!! Tudo isto com um vinhozinho…. hummm!!!

21hrs da noite e todas estávamos caindo na mesa….Como estávamos acordadas das 3 da madrugada e podres de cansadas, pegamos no sono sem grande dificuldade.

Acordamos cedo na manhã seguinte, tomamos café com pão caseiro fresquinho e partimos com destino a Sylarna, distante algo como19km. Ao contrario do dia anterior, neste dia fez frio. Uma boa jaqueta corta-vento (anorake), mais um gorro eram indispensáveis!!&nbsp, Mas devo confessar que pra caminhada que tínhamos pela frente foi muito melhor este tipo de clima.

A esta altura do campeonato eu já tinha (re)enfaixado os meus pés varias vezes e colocado um negócio que aqui eles chamam de Compeed que imita a pele e protege os lugares com bolha. Apesar de realmente ter somente uma bem dolorida entre os dedinhos, não quis arriscar e coloquei o Compeed.

Os meus pés ficaram fantásticos e o tempo ajudava para caramba a não suar tanto. Além do que a caminhada foi muito mais plana do que no dia anterior, ou seja, foi bem menos desgastante. Tanto no dia de ontem como naquele dia, em nenhum momento, posso afirmar categoricamente que me senti deveras exausta. Foi cansativo sim, mas nada impossível e que não desse de dar conta numa boa.

Uma das coisas que achei interessante na caminhada em geral é que no dia anterior existia alguma possibilidade da trilha virar lama ou barro, e os caminhos já estavam preparados com umas tábuas perfeitamente acomodadas no chão para a caminhada, tipo passarelinhas bem rústicas. Isso se pode ver nas fotos e acho que talvez é bem coisa de Suécia, fazem de tudo pra você não molhar o pé! E numa dessas partes onde parcialmente já existe um pouco de lama é onde crescem as famosas frutinhas chamadas “cloudberries” (que é um tipo de framboesa silvestre que se encontra no norte da Suécia de cor amarela). Num desses locais me esbaldei de tanto comer cloudberries, que é na minha humilde opinião uma das melhores frutas da Escandinávia….Hummmm!

No meio do caminho decidimos parar pra almoçar. O mesmo de ontem, delicia!

Apesar deste dia termos andado muito mais, não sentia tanto cansaço e nem muita fome. Não sei se é algo normal, mas eu sentia mesmo era muuuita sede. Dai eu via o quanto suava, apesar do frio. Neste dia também vimos vaaaaarios alces….mas depois de ver tantos , vc se cansa e sua presença e começa a se tornar um saco. Ah, outra coisa que eu acredito ser particular da Escandinávia: banheiros no meio do nada!!! Em cada um dos trechos que fizemos, você encontra pelo menos uns 3 na trilha. Alguns eu recomendo, outros nem tanto.

Faltando apenas 3km para chegar no Sylarna, fizemos uma última parada, antes de uma piramba que quase me tirou totalmente o fôlego. A subida começou light, mas logo após alguns metros começaram as pedras, as quais somadas ao meu cansaço (inclusive das minhas amigas) quase nos detonaram!!! Assim como a Anna-Åsa eu comecei a sentir câimbras no pé, o que obrigou a gente a parar um pouquinho. As dela eram definitivamente pior que as minhas, mas a paradinha ajudou a ganhar fôlego novo e recomeçar a subida.

Restando uns 2km a gente começou a avisar Sylarna. Parecia tão perto, mas ao mesmo tempo sabíamos que pelo menos eram mais uns 45m de subida e isso cansava, pelo menos mentalmente. E muito. Realmente quando começamos a chegar perto, parecia mentira…. Sylarna. Finalmente. E um suco de boas vindas no “Station”!!

Aqui, ao contrario de Blåhammaren não tem jantar ou restaurante. Você cozinha e eles disponibilizam toda a infra estrutura deles pra cozinhar, tudo mesmo…tipo um mini supermercado, 8 cozinhas, pratos, panelas, copos, tudo! Baseadas na experiência da nossa líder Anna-Åsa, cozinhamos um Rissoto, regado a vinho e queijo parmesão, e uns cogumelos… Muuuito bom! Também tínhamos na bagagem uns 2,5 litros de vinho que foram consumidos, mas não na sua totalidade. Não agüentamos. Lição para a próxima vez&nbsp, não levar muito vinho! Assim como na “Station” anterior , aqui também é possível comprar o café. Muito bom…alem de economizar uns quilos na bagagem.

No dia seguinte, segunda-feira, havia uma certa ansiedade no que diz respeito a voltar pra casa, o que significa que começamos cedo e andamos mais rápido. Os 3km de descida, apesar de serem com bastante declividade foram meio demorados, por conta de que naquela noite as temperaturas tinham ficado abaixo de zero e havia um pouco de gelo no caminho, principalmente numa ponte de madeira onde foi uma aventura manter o equilíbrio. Já essa “ponte que se mexia” aterrorizou a Camilla..hehehe

O dia estava maravilhoso e o sol lindo, tanto era que eu resolvi tirar a parte de baixo da minha calça e andar de bermudas. Só eu fiz isso, pois apenas eu que tinha este tipo de calça. Fizemos os últimos 16km em 4,5hrs … e finalmente retornamos a Storulvån. Enfim, havia passado pelo teste! Pra uma iniciante sedentária e sem prática, estava feliz comigo mesma e bem satisfeita com meu rendimento. Já penso nas próximas aventuras, mas dando um passo de cada vez, claro.

Texto e Fotos: Angelica Angelhag Soto

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