Travessia Pirapora – Cajamar

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Importante centro de peregrinação religiosa de Sampa q só perde pra Aparecida do Norte, Pirapora do Bom Jesus recebe romarias de devotos o ano inteiro, seja a pé, cavalo, bike e até charrete. Boa parte deles se vale da SP-132, oportunamente chamada de “Estrada dos Romeiros”, mas tb existem variantes naturebas q percorrem tanto o alto dos morros do entorno da Serra dos Cristais como o fundo dos vales do Ribeirão Ponunduva. E foi o trecho de 25kms situado entre Pirapora e Cajamar q resolvi andarilhar neste domingo preguiçoso e sem ideias mirabolantes. Pernadinha rural bastante puxada q revela, além dos visus bucólicos do norte de Santana do Parnaíba, q não é necessário pagar promessa pra ter a graça de perambular por rotas peregrinatórias alternativas.

Após rodar um tanto pela linha diamante da CPTM, saltei na estação de Barueri por volta das 6hrs, onde não deu nem meia hora pra embarcar no intermunicipal azulzinho da Viação Osasco (“Term. Barueri – Pirapora”). Viagem esta q transcorreu sem grandes intercedências, sendo que no decorrer da mesma aproveitamos pra apreciar a paisagem da acinzentada Baureri mutar pra rural verdejante de Santana do Parnaíba (“Berço dos Bandeirantes”, como anuncia o portal de entrada). Dali em diante tocou rasgando pela “Estrada dos Romeiros” (SP-132) pra findar logo depois na pacata e bucólica Pirapora do Bom Jesus, por sua vez gde ponto de peregrinação de São Paulo.

Saltei solitariamente em Pirapora do Bom Jesus por volta das 7;15hrs da manhã, passei rapidamente pelas simpáticas e coloridas ruas do centro, pelos belos traços barrocos da Igreja Matriz de São Bom Jesus de Pirapora e até pelo “Portal dos Romeiros”. O domingo mostrava-se bastante promissor, e os primeiros raios do Astro-Rei emergiam por atrás da Serra do Voturuna, reluzindo com alguma beleza na branca e fétida espuma do Rio Tietê, q aqui marulha mansamente.

Cruzada a ponte João Minoto toco calmamente por toda Av. Jundiaí, agora na outra margem do Tietê, como se subísse o mesmo. Conforme avanço, as últimas residências de Pirapora não tardam a ficar pra trás, até que por volta das 7:30hrs me vejo palmilhando um estradão de chão batido que basicamente acompanha o espumante curso d'água. Este com direito até ilhotas rochosas no meio. Visivelmente reparo que a estrada vai de encontro a junção de um enorme morro pelado com a Serra do Capuava – visão esta que se assemelha a um cânion sem arestas demasiado acentuadas – onde decerto há uma barragem que represa o notório e ilustre Rio Tietê.

Logo adiante e ignorando a bifurcação a esquerda que leva a Faz. do Salto, a estrada principal – que atende pelo nome de Estrada Municipal Francisco Missé – empina um pouco e segue em frente, empoeirada, onde ignoro uma saída pela direita q leva até a entrada da Usina Hidrelétrica de Pirapora. Segue então uma subidinha considerável que ladeia o “Morro da Barragem” pela esquerda que, uma vez no alto do selado de ligação com as colinas sgtes, revela tanto bela vista da continuidade do espelho d'água do Reservatório de Pirapora, a nordeste, como da escarpada Serra do Japi, ao norte.

Até este selado já havia estado anteriormente (na cia da minha companheira Lau), mas havia desdenhado duma vereda q subia o Morro da Barragem, saindo a nossas costas. Lógico q sozinho e com mais agilidade me dei o luxo de bisbilhotar essa vereda, q sobe forte a continuidade abaulada do morro até dar numa crista cercada de capim alto e muitos cupinzeiros. A caminhada prossegue tranquila até findar, em questão de poucos minutos após iniciada, no q parece ser o topo do morro, mais precisamente um lugar q apelidei de “Mirante de Pirapora”. Com vestígios de fogueira e acampamento, o lugar faz jus a denominação pois dali se tem, ao sul, uma vista privilegiada tanto do esbranquiçado Tietê tomando seu sinuoso curso rumo Pirapora, em meio a baixa morraria, ao sopé do Voturuna; como da alta morraria espremendo a continuidade do reservatório de Pirapora, ao norte.

Retornando a poeirenta estrada, o caminho desce suave e volta a acompanhar a represa pela sua margem esquerda, sempre sentido nordeste, eventualmente adentrando em suas sinuosas “baias”. A vegetação em volta é abundante mas eventuais frestas permitem vislumbre dos remansos plácidos do espelho d'água da mesma, visivelmente em época de estiagem brava, onde garças e outras aves fazem a festa nos restos q afloram por td sua superfície. A pernada é agradável e tranquila, e segue nesse ritmo compassado por um bom tempo, onde poucos veículos e muitos bikers cruzam meu caminho. Os destaques neste trecho que bordeja a represa ficam por conta dalguns resquícios de construções (pórticos) abandonados, uma chácara ou sitio aqui ou ali, os imponentes e verdejantes contrafortes da Serra do Porto, um trecho de reflorestamento com enormes matacões ornando a via, mas principalmente vestígios de romarias ao longo de toda estrada, no caso, cruzeiros dispostos a cada 2km em ordem decrescente representando as estações do calvário de Jesus.

Pois bem, após passar pela entrada da Faz. Cacique e a Comunidade Refúgio em Jesus, lá pelas 9hr a estrada passa pro outro lado do reservatório pelo que parece ser um compacto aterro que separa as águas do Tietê. Daqui já se tem o primeiro vislumbre do abaulado domo dourado da Serra dos Cristais, elevando-se significativamente em tonalidade dourada a leste, enqto do outro lado as aguas represadas mostra-se mais límpidas e cristalinas, com direito até um batismo evangélico em sua margem. Logo adiante, as 9:15hr, me deparo com a Capela de Sto Antônio, cujas paredes em tom rosa a tornam mais simpática. Ali, abandono a via principal (que toca pro bairro do Ponunduva) pra tomar outra mais discreta pela direita, que vai de encontro ao sopé da Serra dos Cristais, agora na direção sudeste. O local é inconfundível devido a um pé-de-ameixa, q pode estar repleto do fruto ou não.

A pernada prossegue tranquila no mesmo compasso, bordejando o sopé da serra vistada com pouca variação de desnível. A estrada é bem precária (com direito até a carcaça dum veículo no barranco!) e repleta dum sem-número de cruzeiros, minúsculas capelinhas e até estátuas de São Jorge em sua margem esquerda, cunhando vocação romeira local. Mas uma bifurcação não tarda a surgir, e é aqui q vem a variante da minha última incursão. Neste cruzamento, ao invés de tomar a esquerda e subir corcovas sucessivas em direção ao alto da Serra dos Cristais, tomo o rústico caminho q desce vertiginosamente piramba abaixo, rumo o fundo de vale sgte, no caso, do Ribeirão Ponunduva.

Num piscar de olhos me vejo no fundo do vale, repleto de exuberante mata secundária, onde uma oportuna vereda a margem da via principal leva pruma bica com água refrescante. No entanto, ao fazer a curva e pouco antes de iniciar a subida do morro sgte, o ruído borbulhande de água correndo a minha direita em meio a mata revela o córrego Ponunduva represado na forma dum convidativo poço. Crucifixos a margem da estrada sugerem aqui ser pto de parada dos romeiros e com a devida razão. Embora apressado, não me faço de rogado e dou um rápido tchibum apenas pra refrescar as ideias. O calor daquela manhã era palpável embora o fundo do vale fosse dominado da mais bem-vinda e acolhedora sombra.

Dando continuidade a pernada, a precária e cascalhada via emerge novamente no aberto, agora subindo forte o contraforte da morraria a sudeste, abandonando o vale. Subida lenta e preguiçosa naquela encosta parcialmente pelada ou tomada por reflorestamento de eucaliptos, onde o sol na cara é aliviado por suaves ráfagas de vento q eventualmente sopram do leste. Contudo o visual q se desvenda conforme ganho altitude mostra o vale do Ponunduva sob outra ótica, 100m acima, assim como o contraforte sul dos domos dourados da Serra dos Cristais; em segundo plano, a “orelhinha metálica” do Morro da Placa reluz a nordeste, coroando a maior elevação daquele quadrante.

E assim, após ladear quase td a íngreme encosta do morro palmilhado começo a adentrar no vale sgte através dum largo selado onde velas e outros adereços religiosos ornam a margem da estrada. Após uma última olhadela pra Serra dos Cristais, q se perde por sobre o ombro como pelo espesso eucaliptal, vem na sequencia uma íngreme e forte descida onde é necessário deixar o “freio de mão engatado”. Chão liso, erodido e terrivelmente cascalhado se alternam a td momento, demandando atenção pra não fazer uso do “quinto apoio”. E nessa pirambeira perde-se altura rapidamente, onde logo nos vemos outra vez vermos palmilhando em nível em meio a um belo e espesso bosque.

A partir daqui não existe mais subida nem descida pois anda-se quase o tempo td no plano. A precária vereda não demora a se alargar e se tornar, por assim dizer, mais transitável. Agora acompanhando (a distância) a margem do espelho d’água dum dos braços (bem secos, por sinal) do Reservatório de Pirapora, não demoro a perceber q palmilho a “Estrada do Pau Lavrado”, no centro do vale, algo q uma placa faz questão de me lembrar.  Estradinha bucólica, bem sombreada e sem nenhuma fazenda, sitio ou residência, onde apenas cruzo com um senhor montado a cavalo tocando sua boiada, reforçando o ar interiorano do lugar. Picadas e bifurcações nascem a td hora no trajeto, mas basta sempre se manter na principal.

Pois bem, chega uma hora em q minha rota vai de encontro um pontilhão de concreto q passa por cima do braço da represa e toca em direção pro bairro rural do Vau Novo, a exatas 10:20hr. Examinando bem a carta, ignorei essa rota pois ela (embora tb fosse pra Cajamar) apenas dilataria mais a pernada. Ao invés disso retrocedi alguns metros da ponte e tomei a vereda q nasce pela esquerda, acompanhando o tal braço da represa em meio a muita espessa mata. A caminhada é tranquila e agradável, com a trilha alargando e se estreitando, mas sempre perfeitamente visível tipo q bordejando o braço do reservatório, sentido leste. Em tempo, a bussola sequer foi solicitada e nem saiu da mochila.

Conforme avanço a mata vai cada vez se tornando mais escassa, construções são mais frequentes assim como o som de música de gosto duvidoso começa a inundar os ouvidos. Pois é, sinal de “civilização” dando as caras, e as 10:30hr desemboco numa estrada de chão q vai na direção desejada, ou seja, prossegue bordejando o espelho d’água. Logo adiante dou no pacato bairro rural de Santo Antônio, onde sou informado da pouca (ou nenhuma) frequência de bus naquele dia, o q me obriga a seguir a pé mesmo os quase 8km restantes até Cajamar.

Resignado aminha condição de andarilho começo a andar naquela via longa e interminável – chamada Estrada do Vau Novo –  em meio a vastos descampados pelados e visu das serrinhas em volta, em especial o Morro do Ponunduva, q bordejo o sopé do seu contraforte noroeste. Cozinhando os miolos e arrependido por não ter dado ouvidos a previsão de tempo bom, o calor daquele dia parecia não apenas vir de cima como tb do chão. Carona q é bom, nada. Só vi dois veículos circulando na região naquele dia. O consolo aqui era avistar a Serra dos Cristais doutra perspectiva e as corcovas florestadas dos morros q teria q transpor, a nordeste, já no vale do córrego dos Pires.

Chegando neste vale, porém, a tentação de dar um mergulho no espelho d’água tentador pelo qual passei era gde. No entanto, minha camelação estava sendo cronometrada até Cajamar pelo fato de, além de não perder a condução pra Sampa, não queria perder o supermercado fechar antes da hora (e assim ficar sem minhas latas geladas!). Assim, ignorei o tchibum e prossegui minha jornada, firme e forte, até desembocar numa via maior, a “Estr. Flavio Beneducce” (vulgo “Cacupe – Ponunduva”), onde prossigo pra direita. E assim, após passar pela gde Mina de Calcário da Pedreira Votorantim e a estrada de chão dar lugar ao asfalto em definitivo, piso em Cajamar ao exato meio-dia. Com tempo suficiente pra tomar duas geladas e embarcar na condução de volta pra Sampa, em horário de saldar outros compromissos engatilhados naquele dia.

Existe a possibilidade de realizar esta caminhada sem tanto desgaste e com mais tranquilidade, claro, seja refazendo o trajeto de bike ou deixando o dia inteiro pra isso. Mas sempre lembrando q a condução de Cajamar pra Capital é de horários pouco regulares aos finais de semana; aí a opção é tomar qq latão pra Jordanésia e dali seguir pra Sampa. Outra sugestão é explorar os demais trechos naturebas desta notória romaria rumo Pirapora do Bom Jesus, lembrando q ela inicia em Caucaia do Alto (Cotia), o q dá margem a muitas opções e vias alternativas. Basta estudar a carta e mandar ver. Dessa forma, nada impede q esta interessante e bucólica rota peregrinatória, descoberta por devotos atrás da própria fé, seja agora devidamente reconhecida por andarilhos ansiosos apenas por uma boa pernada, recompensada por belos e largos visus.
 

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

1 comentário

  1. Estava pesquisando sobre Pirapora do Bom Jesus… E, desculpe a sinceridade, este texto é mal escrito… cheio de adjetivos desnecessários, abreviações toscas… quando for fazer outro, procure ajuda,por favor…

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