Um esquiador iniciante, parte 1

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Escrevo este texto para dividir com vocês minha experiência de esquiador aprendiz e estimular outras pessoas a experimentar este esporte incrível no qual apenas estou começando, mas pelo qual já estou completamente apaixonado. Meu concunhado tinha razão. Ele me disse que assim que começasse eu iria me perguntar porque nunca tinha feito isso antes.

Por muitos anos desejei fazer exatamente o que estou fazendo e não fiz por que tive medo de me machucar, lesar meu joelho, por exemplo, e como tanto em meu trabalho como em meu lazer vivo do meu corpo sempre evitei o ski. Também sempre pensei que este tipo de férias, passar um mês em um resort transado dos Alpes Franceses, fosse uma coisa completamente impossível do ponto de vista financeiro. Este diário então tem a função de mostrar para as pessoas que esta é uma possibilidade real para pessoas de todas as idades e não tão caro assim.
 
Em meu trabalho, eu e a Lisete procuramos concentrar nosso período de trabalho de modo a ter longas férias. Quando trabalhamos guiando grupos trabalhamos ao redor de 14 horas por dia, sete dias por semana, 30 dias por mês. Com isso podemos trabalhar seis meses por ano e ter seis meses de férias. Quando este período de férias estava se aproximando comecei a pensar em que poderia fazer, onde ir e as alternativas que pensei, embora todas muito atraentes, não faziam meu coração bater mais rápido. Pensei em fazer travessias de snow shoes (raquetes) no Yellowstone no inverno quando o parque está vazio e lindíssimo. Pensei em fazer alguma viagem de sea kayak, talvez na costa do Canadá ou então na Baja California. Pensei em fazer o trek pelo rio Zanskar congelado no inverno, no norte da Índia nos himalaias. Todos estes programas são incríveis e mais cedo ou mais tarde farei todos eles, mas agora eles não eram o que eu buscava. Veio então a idéia de esquiar por um período longo o suficiente para aprender de maneira sólida e poder avançar rapidamente. 
 
Assim que pensei isso, sabia que era o que eu queria fazer. Conversei com a Lisete que topou imediatamente embora nem eu nem ela tenha qualquer experiência anterior com skis. Para ser mais preciso, ela nunca tinha posto um par de skis nos pés. Eu tinha esquiado dois dias na Austrália e uma vez na Índia, mas isso foi há mais de 20 anos atrás.
 
Comecei a pesquisar os diversos resorts nos Estados Unidos e nos Alpes, escrever para imobiliárias procurando algum pequeno apartamento para alugar. Ficar em hotéis e comer fora todos os dias seria proibitivamente caro por um período tão longo. Definimos que iríamos ficar do dia 12 de janeiro ao dia 19 de fevereiro. Mas, o meu antigo sonho não era apenas esquiar e sim ficar em um resort na neve, desses que você sai de seu apartamento e já está na neve, o correspondente ao pé na areia só que na neve. Um lugar onde eu não precisasse de um carro ou de tomar ônibus todos os dias para ir e voltar do ski. Esse tipo de acomodação nos Estados Unidos (Colorado e Utah) era demasiadamente caros. Já estava me conformando em não ter o que queria quando por acaso comentei com uma amiga, a Mica, e ela me contou que tinha achado um apartamento no resort de Avoriaz na França exatamente como eu queria e por US$ 60 por dia. Nunca tinha escutado nada sobre Avoriaz e fui imadiatamente ver na internet como era e o que ví me deslumbrou. O resort é parte de um conjunto de 12 outros resorts ligados por 650 km de pistas de ski de todos os níveis se espalhando pela França e para Suiça. Fica em um lindo promontório e é completamente pedestre, ou seja, não há carros, ônibus, nada, apenas carroagens puxadas por cavalos no melhor estilo Papai Noel com sininhos no pescoço e tudo.
 
Reservamos um apartamento de 17 metros quadrados, mínimo, por duas semanas, compramos os bilhetes aéreos São Paulo – Genebra – São Paulo para as datas que tínhamos pensado, 40 dias esquiando e estávamos prontos. Por um pouco de cautela não reservamos acomodação por todo o período, queríamos ver se gostávamos do esporte e do lugar para daí reservar acomodação para o restante do período. Dia 11 de janeiro, apenas 3 dias após voltarmos do Aconcagua onde tínhamos guiado 3 trekkers ao campo base e 10 pessoas para a escalada ao cume, embarcamos rumo a nossa aventura.
 
12 de janeiro de 2013
 
Após 12 horas de vôo e cinco filmes já que não consigo dormir um segundo em aviões pousávamos em Zurich onde após uma breve conexão tomamos outro vôo, desta vez muito curto, para Genebra. Lá uma van (28 euros por pessoa) nos esperava para a linda viagem de 1:30 horas subindo de 400 a 1800 metros. O dia estava lindo com céu azul, mas mesmo assim quando chegamos ao final de nossa longa viagem o frio estava intenso. No escritório da Informação Turística encontramos também a imobiliária onde fomos super bem atendidos pelo Greg, um jovem francês que respondeu com muita paciência nossas infinitas perguntas. Lá também compramos nosso ski pass, o cartão que nos permite esquiar em qualquer dos 650 km de pistas do Porte de Soleil, qualquer um dos 197 teleféricos do conjunto de resorts. Pagamos 494 euros cada um por 21 dias de passe. Aos poucos já estamos realmente admitindo para nós mesmo que vamos ficar aqui por um longo tempo…
 
Pegamos a chave e tomamos uma carroagem (8 euros pela viagem de 5 minutos) que nos levou até a porta de nosso prédio. Dezessete metros quadrados era um conceito um pouco abstrato. Quando chegamos ficamos um pouco chocados com o tamanho do lugar, mas aos poucos fomos organizando nossas coisas e rearrumando os poucos móveis de modo a ficar mais confortável. O apartamento tem um beliche, uma mesa, um armário, uma cozinha com geladeira, um fogão de duas bocas, micro ondas e um armário. O banheiro tem um box bem pequeno, mas com água abundante e muito quente. Além disso uma televisão (com programas apenas em francês) e um aquecedor elétrico. Passado algum tempo, já nos sentíamos em casa. Para nós que passamos boa parte do ano em barracas, não é difícil se sentir a vontade em um apartamento por menor que seja.
 
Estavamos super cansados e nesta noite resolvemos jantar fora. A escolha não poderia ser outra: fondue acompanhado de um gostoso vinho tinto (30 euros por pessoa). Tínhamos ido com nossas botas de trekking e em pouco tempo estávamos com os pés gelados. Entramos em uma das muitas lojas de ski do vilarejo e compramos nossas snow boots, artigo essencial para este lugar onde tudo é coberto por neve. Agora sim, estávamos com os pés secos e quentinhos. 
 
13 de janeiro de 2013 – domingo, primeiro dia de ski
 
Acordamos tarde e ao abrir a janela o que vimos? Neve claro, neve fresca por todos os lados. Estava nublado e tinha nevado durante a noite. Saímos para nossa compra de super mercado para poder cozinhar, atividade esta que por ser bem rara na nossa vida é um prazer. Existem dois super mercados, um menor que se chama Sherpa e um Carrefour. Voltamos com duas mochilas repletas de coisas gostosas e fizemos um almoço com sanduiches de baguete francesa, camenbert, salame, tomates e alface. Voltamos a sair, e antes da aula fomos a uma loja de aluguel de material de ski que tinham nos recomendado. Haviam 3 sets de material com skis, bastões e botas, um para iniciante, outro para intermediários e o último para avançados. Claro que pegamos o de iniciantes, ams a dona da loja nos disse que em poucos dias já poderíamos trocar para o intermediário que ra mais rápido e um pouco mais “nervoso”. O aluguel do set de inicantes custava 60 euros por semana, um preço super razoável. Um amigo, o Enrico, que já esquia há bastamte tempo me recomendou não comprar o material e sim alugar já que seria melhor entender melhor o esporte antes de escolher um. Sábio conselho já que se fosse comprar não teria idéia do que escolher.
 
De lá fomos para o grande acontecimento, nossa primeira aula de ski. Tinha achado por internet uma escola que oferecia duas horas e meia de aulas por seis dias por 175 euros por pessoa. Nos encontramos com nossos companheiros de aulas, o Adrian, um policial irlandês super bem humorado, sua esposa a Susan que trabalha na federação irlandesa de ciclismo e organiza tudo para a equipe nacional e a Liane, uma psicóloga holandesa. Os 3 são tão novatos quanto nós e tem uma semana aqui antes de voltar aos seus países e ao trabalho. Nosso instrutor é francês, tem ao redor de 30 anos e chama-se Charles (ou pelo menos se apresenta assim para facilitar aos de lingua inglesa já que as aulas são em inglês). Já trabalha aqui há 8 temporadas e no verão ensina wind surf em Biarritz.
 
A primeira aula começou com alguns exercícios de equilíbrio com apenas um ski em uma área plana. Depois trocamos e fizemos tudo novamente e apenas depois disso pusemos os dois skis nos pés. Depois de quase uma hora disso descemos uma rampinha super suave e aprendemos a frear colocando as pontas da frente dos skis próximos como que em uma letra V com o vértice para baixo. Fomos então para nossa primeira pista, nós e um monte de crianças de 4 a 5 anos de idade, super bonitinhas com capacete, roupas de ski, goggles que com desenvoltura invejável tomavam o ski lift ajudados por seus instrutores. E lá fomos nós rumo ao topo de uma pista pouco inclinada, mas amedrontadora da mesma forma para nós que desceríamos pela primeira vez. E….não cai, como esperava. Vinte anos atrás quando fui esquiar na Austrália, minha ex esposa me deu cinco minutos de aulas e me largou em uma pista muito mais difícil que a que descemos desta vez. Não deu outra, tombo atrás de tombo e descidas completamente desgovernadas. Desta vez, a pista estava de acordo com o que tínhamos aprendido. Voltamos a repetir mais duas vezes sempre recebendo instruções do que fazer e acabei a aula surpreso com o progresso que tinha feito nessas curtas duas horas e meia de aula. Fui para casa feliz! Um strogonoff delicioso e cama.
 
14 de janeiro de 2013 – segunda feira, segundo dia de ski
 
Desta vez e pelo resto da semana a aula foi de manhã, das 9 da manhã as 11:30. Acordamos as 7:30 e ainda era noite. Com o fuso horário não dormi tudo o que precisava e levantei no frio da manhã ainda com muito sono. Depois de 5 minutos de caminhada gelada estávamos novamente na escola prontos para mais um excitante dia de aulas.
 
Subimos diretamente para o topo do ski lift de ontem e descemos mais algumas vezes a mesma pista, cada vez sentindo um pouco mais de controle. De lá tomamos outro ski lift e a nossa frente estava uma longa descida bem mais inclinada do que a que tínhamos descido até então. A idéia era agora treinar as curvas usando o método de skis em V, mas tentando inclinar o corpo para frente que de acordo com o Charles é a chave para esquiar bem. Só que isso é completamente contra tudo o que teu corpo quer fazer. Frente a uma descida em frente a você, o que o corpo quer é inclinar para trás e não para frente. Inclinar o corpo para frente é, no início, amedrontador, mas é isso o que você tem de fazer para manter o controle. Levamos todos um monte de tempo para descer esta pista e ao final perguntei que tipo de pista era, esperando que o instrutor nos dissesse que era uma verde, a mais fácil que tem fora a de crianças que era o que tínhamos feito antes. Pra surpresa geral e claro um grande orgulho nosso ele nos disse que era uma azul, a segunda em termos de dificuldade. Depois disso vem a vermelha e a preta.
 
Voltamos a prtaicar nesta pista e aos poucos apareceu o padrão que iria se manter nos próxims dias. Eu, a Lisete e o Adrian desciamos na frente, muito mais em controle e com mais técnica. Depois vinha a Liene,c aindo com frequência e mais atrás ainda a Susan que decididamente não leva jeito para o esporte.
 
Exaustos, voltamos para casa para almoçar e descansar um pouco antes de nos aventurarmos a tarde sem instrutor, mas todos confiantes pois tínhamos feito uma azul!!! O que não sabíamos era que dentro desta categoria – azul – existia muita diferença. Ao contrário da escalada em rocha onde cada grau tem 3 ou 4 subdivisões (6a, 6b, 6c por exemplo) no ski só tem 4 categorias de modo que tem azuis fáceis, muito fáceis e azuis muito difíceis beirando uma vermelha…só que ao ver uma plaquinha com a cor azul você não sabe o que é. Esse foi nosso erro que nos custou caro..
 
Descemos uma pista já conhecida e em seguida reslvemos explorar algo novo. Como era uma pista azul não nos preocupamos muito, deveria ser do mesmo grau de dificuldade do que já havíamos feito. O começo era bem íngreme, mas depois deveria melhorar. Só que ao invés de melhorar só piorou, fcou mais íngreme e mais estreita. Estava tão preocupado em não morrer que perdi totalmente a noção de se a Lisete estava em frente ou atrás de mim. As vezes conseguia esquiar quase sem controle e outras vezes simplesmente congelava. Ficava parado olhando o abismo abaixo de mim e não conseguia me mexer. Algumas partes simplesmente desci de lado, passo a passo com meus skis nos pés. Daí criava coragem e descia novamente esquiando. As pistas todas tem postes de marcação a cada mais ou menos 50 metros e aos pouco vi aqueles números diminuindo. Com muito alívio vi que estava chegando ao fim, mas para meu desespero, esta pista acabou em outra igualmente difícil que tinha outros 13 postes de marcação!!! Parei para esperar pela Lisete. A idéia de pegar esta pista em particular tinha sido minha e estava não só preocupado pela segurança dela, mas també se ela estava brava comigo por nos ter colocado nesta situação. Esperei meia hora lá, mas nada dela. Será que ela estava na minha frente me esperando no fim da pista? Ou será que se machucou. O walk talkie que tinha planejado comprar ainda não havia chegado na única loja que vendia este tipo de material em Avoriaz, não havia maneira de saber o que tinha acontecido com ela. Resolvi criar coragem e terminar aquele martírio, mais 600 metros de abismo (ou assim naquele dia a pista me parecia). Ao final, estava com dor nos quadriceps e temendo por meus joelhos..e nada da Lisete. Resolvi voltar para nosso apartamneto para ver se ela estava lá, mas nada também. Encontrei com ela na rua quando subia de volta ao vilarejo e para meu alívio (culpa?) ela estava com um sorriso no rosto apesar de exausta. Ela tinha, claro, passado pelas mesmas dificulades, medos, bloqueios que eu, mas tinha tomado uma saída antes que a minha e que no desespero de me manter sem cair nem vi a placa. Trocamos experiências e depois de um curry com frango regado a um vinho tinto para relaxar os músculos das atribulações do dia fomos dormir.
 
15 de janeiro de 2013 – terça feira, terceiro dia de ski
 
Hoje foi um dia de aulas particularmente importante e difícil, começamos a aprender a fazer curvas e a frear não mais usando a técnica de skis em V, mas usando a borda de metal do ski com os skis paralelos, muito mais efetivo. Mas, apesar de ser super importante nos dois primeiros dias fazer o V, agora estávamos todos como que acostumados com isso como quando se aprende a andar de bicicleta com rodinhas e depois se tenta tirar. Eu peguei mais ou menos rápido, mas a Liene e a Susan decididamente se acostumaram com o V e passaram o dia todo lutando contra isso. O segredo para conseguir fazer a curva desta forma “sliding”é fazer com mais velocidade e para isso você precisa confiar na técnica, amedrontador no começo, mas delicioso quando você consegue. Fui durante a manhã gradualmente aumentando minha velocidade e ficando cada vez mais feliz com isso. Depois de alguns exercícios descemos uma pista de principiantes, mas com slalon, ou seja, dois bastões colocados em lados opostos da descida como se fossem portas (gates) pelas quais você precisa passar fazendo um zig zag pista abaixo. Delicioso, não fosse a humiliação de ter de dividir este exercício com crianças de 4 anos!.
 
A tarde nos aventuramos novamente em uma pista nova, só que desta vez tínhamos perguntado que tipo de azul era. Foi mais íngreme do que o que fizemos de manhã, mas dentro de nossas novas habilidades. Praticamos e praticamos o que tínhamos aprendido e percebi que o sofrimento do dia anterior tinha pelo menos dado alguns frutos, estava com menos medo, mais confiante. A terapia de choque do dia anterior tinha, pelo jeito, valido a pena.
 
A noite, como tem acontecido todas as noites, sonhei sem parar com ski e mesmo quando não estava dormindo, apenas de olhos fechados ainda via incessantemente cenas do que tinha acontecido durante o dia. Isso só tinha acontecido comigo quando fiz meus primeiros saltos de paraquedas e quando aprendi kayak de corredeira. Isso deve sinalizar o grau de adrenalina que experimento durante o dia por aqui!
 
16 de janeiro de 2013 – quarta feira, quarto dia de ski
 
Começamos o dia com duas práticas de slalon e o progresso foi notável. Muito mais controle, mais velocidade e pela primeira vez consegui parar com aquelas deslizadas de lado que são tão bonitas quando você vê na televisão os jogos olímpicos de inverno quando ao final de uma descida absurda o esquiador para jogando neve para o lado. Mas, claro, o que fiz não foi nada disso, apenas parei deslizando um pouco, sem neve e sem show. Mas, fiquei feliz do mesmo modo!
 
Hoje levamos uma bronca em regra do instrutor que disse que não estávamos arriscando coisas novas, que ao contrário do esperado não estávamos caindo muito e isso era porque não estávamos arriscando. Parece que a bronca deu resultado pois todos esquiaram melhor depois disso. Descemos algumas pistas mais ingrímes e eu me senti super confortável com as viradas mais fechadas e com o ângulo do pista. Depois fizemos um exercício muito legal de seguir o mestre. O Charles ia a frente e nós tínhamos de seguir exatamente o seu trajeto. Isso tira a atenção da piramba que tínhamos à frente. Ski exige foco absoluto, por horas você não faz outra coisa do que estar alí presente a cada parte do seu corpo, a cada movimento, principalmente para nós que estamos ainda aprendendo e com isso ainda não automatizamos nada. A concentração é tão grande que muitas vezes não percebemos nem por onde fomos e quando, à tarde, tentamos fazer o mesmo que fizemos pela manhã, não lembramos o caminho com o labirinto de pistas e ski lifts.
 
Ao meio dia fomos até a imobiliária para ver se nosso apartamento estaria livre para depois das 2 semanas que o alugamos. Infelizmente não, teremos de mudar e ficar em outro por uma semana e ainda outro na semana seguinte. É incrível como a vida faz com que nunca durmamos na mesma cama por um período longo. Em nossa vida normal, sem endereço fixo, mudamos com uma frequência enorme, uns dias em um hotel, depois barracas, depois outro país e tudo de novo. Aqui teríamos a oportunidade de ficar 40 dias no mesmo lugar…mas, não será assim. Fomos ver como é o outro apartamento e ele é um pouco maior que este que estamos com um quanto e sala e não um só ambiente como este. Assim como agora, ele fica ao lado de uma “rua de neve” de modo que sairemos também com os skis nos pés desde a porta do apartamento. Voltamos para a imobiliária e fechamos por mais uma semana. O outro visitaremos no sábado para a semana depois dessa. Com isso estamos nos comprometendo a ficar aqui por um mês. Estamos felizes! A tarde passamos basicamente repetindo o que fizemos de manhã, brincando de gato e rato, um seguindo o outro. Delicioso! O menú do jantar foi curry com frango e salada.
 
17 de janeiro de 2013 – quinta feira, quinto dia de ski
 
Enquanto tomávamos o café da manhã víamos pela janela o vento fortíssimo levantar nuvens de neve e sacudir as montanhas. O dia foi super frio, quando passamos por um quadro de avisos em frente ao ski lift marcava 14 graus negativos!!!Por todo o dia ficamos com as mãos geladas apesar de estarmos usando várias camadas de roupas, balaclava e nossa luva de montanha mais grossa.
 
Hoje fomos pela primeira vez para a montanha em frente à nossa casa, até então exploramos apenas a parte de trás. As vistas deste lado são espetaculares com o resort pendurado em cima de um promontório com penhascos íngremes que despencam rumo a Morzine. Ontem o por do sol nesses penhascos foi espetacular e hoje o nascer do sol novamente tingiu as rochas de cor de rosa. Descemos uma pista maravilhosa, do grau perfeito para nossa atual habilidade. Infelizmente o Adrian hoje não estava em seu dia. É incrível como a gente clica e desclica em nossa habilidade. Em um momento você está ótimo, para depois, logo em seguida, se sentir super inseguro e regredir em sua habilidade. Mas, tudo está na cabeça, é um jogo mental terrível. Quando isso acontece comigo procuro parar um pouco, respirar fundo, me concentrar e daí tudo volta a acontecer de forma correta. Apesar de ter os músculos das pernas muito fortes de anos de escaladas e trekkings termino essas pistas mais longas com a perna ardendo do esforço. Perguntei ao Charles se isso era normal e ele me disse que é por que não inclino o corpo para frente…e eu que achava que estava com a posição do corpo correta. Mais uma vez me concentro e inclino e a dor melhora. 
 
Próximo do fim da aula a Lisete começou a reclamar de muito frio na ponta dos pés e decidimos tomar um delicioso chocolate quente com rum, especialidade local. No final, acabamos almoçando no charmoso restaurante de frente às pistas. O prato do dia era uma massa local com salsichas e molho de champignon, delicioso. De lá, ela decidiu descansar por uma hora e eu segui esquiando. Quando voltei para casa para buscá-la, uma hora depois, ela me disse que estava com muita dor nos dedões e que não conseguia nem colocar a bota de ski. A bota dela estava úmida depois de 5 dias esquiando e decidimos que iríamos trocar mais tarde por uma seca. Voltei a esquiar, mas o frio estava terrível até para mim que normalmente não sou friorento. Passei no centro do vilarejo e achei o que procurava desde que chegamos, um wank talkie para não mais nos perdermos caso a gente acabe separado em alguma pista. 
 
Depois de voltar do vilarejo onde trocamos a bota da Lisete, compramos uma mochila pequena para mim e um goggle de lente amarela para dias de pouca visibilidade para a Lisete, cozinhamos um delicioso filet de frango com creme de milho regado a vinho quente.
 
18 de janeiro de 2013 – sexta feira, sexto e último dia de aula
 
O dia amanheceu super bonito, sem vento e com um azul intenso das montanhas. Depois de uma descida de aquecimento fomos para a pista mais inclinada que já fizemos, daquelas que você para no início, olha para baixo e diz – No way José!!! Mas, o ski é um excelente treino para resolver grandes problemas. Frente a uma descida forte demais, você simplesmente quebra ela em zig zags suaves e aos poucos vai descendo…como na vida! E assim fomos, inclina o corpo para frente, coloca o peso na perna de baixo, olha para onde quer ir e o ski te segue, daí você atravessa a descida perpendicularmente, muda o centro de gravidade, inclina o corpo para frente e faz mais uma curva. Me senti absolutamente em controle a manhã toda a simplesmente não acreditava no progresso que fiz nesses curtos seis dias. Decididamente foi super importante ter feito todas essas aulas! Mais tarde aconteceu uma coisa mágica. Estamos descendo uma pista bem íngreme e estreita e, como sempre, estou concentrado em fazer as manobras e nem vejo bem onde estou. Daí a Lisete me diz – Você não acredta que pista é essa!!! – Era a Combe de Foret, aquela azul que fizemos no segundo dia e que foi um pesadelo. Agora era fácil, bem fácil e eu não podia acreditar que tanto progresso tinha sido obtido em tão pouco tempo. Desci o restante da pista com um grande sorriso no rosto. 
 
No final da aula tivemos um presente do Charles, ele nos levou para um parque, como são chamadas as áreas com rampas de salto e obstáculos. Claro que era uma de iniciantes, mas não tinha esperanças de fazer um percurso desses ainda nesta semana. E adoro essas coisas…Eram três rampas arredondadas, como uma sequência de três colinas. Ele nos disse para descermos sem frear que tudo daria certo. Contei até três, respirei fundo e lá fui ganhando cada vez mais velocidade. Passei a primeira com um friozinho na barriga, a segunda cada vez mais rápido e a terceira a uma velocidade alucinante. Não cheguei a saltar, mas os skis sairam do chão alguns poucos centímetros. Claro que ao final estávamos todos super excitados e não parávamos de falar. Subimos outra vez e descemos novamente, só que agora já sabendo o que iria acontecer, com muito menos medo.
 
Nos despedimos do Charles, embora não para sempre como para o Adrian, a Susan e a Liane, pois eles estão indo de volta aos seus trabalhos. Nós que ainda temos mais quase 4 semanas aqui decidimos descansar amanhã, treinar sozinhos o que aprendemos durante a próxima semana e daí sim ter mais uma semana de aulas. Ao final ele disse que tínhamos ido super bem. Me disse que eu poderia pegar aulas do nível dois, saltando o nível um!!
 
Para comemorar fomos para o Yeti Bar comer uma tartiflete com uma deliciosa cerveja branca belga. Nos despedimos de nossos companheiros de curso e voltamos para a montanha para descer a pista da floresta que havíamos feito de manhã e que tanto medo nos havia dado no segundo dia. Ela percorre um lindo trecho de pinheiros carregados de neve descendo de maneira muito sinuosa até 1400 metros. No final desta pista a neve tinha se transformado em gelo e os últimos 400 metros de descida foram horríveis com os skis deslizando perigosamente no gelo. 
 
Para terminar a semana com chave de ouro voltamos a subir a montanha em frente ao nosso apartamento e descemos duas vezes uma longa pista cada vez buscando ir mais rápido e mais em controle. Ao final da segunda o frio nos mandou para o calorzinho de nossa casa. A noite fomos ao cinema, tem duas salas aqui que mostram ao redor de 10 filmes por semana. 
 
Fomos ver o excelente Argo sobre os reféns na embaixada americana em Teeran nos anos 80. As cenas da cidade, principalmente do bazaar central, me deram ainda mais vontade de ir para o Iran no meio do ano, plano que venho acalentando já há alguns anos.
 
Fomos deitar super tarde para nossos padrões, a maia noite. Amanhã dia de descanso, de dormir até tarde e acordar com o dia já claro!
 
Continua na segunda parte…
 
 
 
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Sobre o autor

Manoel Morgado é médico de formação, mas trabalha como guia de montanha há 20 anos, atuando em vários países ao redor do mundo. Há 15 anos é montanhista, tendo como ápice de sua carreira a conquista do Everest e também a realização do projeto 7 cumes. Ele nasceu no Rio Grande do Sul, se criou em São Paulo e dede 1989 não tem casa.

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