Um Parque Nacional para Montanhistas

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O Parque Nacional do Caparaó, localizado nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo é um verdadeiro exemplo de que as coisas podem dar certo em nosso país no que se refere à administração pública de áreas de interesse para o montanhismo.

Praticamente qualquer pessoa que se interesse por ambientes
naturais já ouviu falar do Pico da Bandeira. Com seus 2.891,90 metros de
altitude, por muito tempo foi considerado o ponto mais alto do país. Somente
nos anos sessenta, com a descoberta das elevações da Serra do Imeri, nos
confins da Amazônia, que o Pico da Bandeira perdeu seu status de ponto
culminante nacional. No entanto, seus quase 3.000 metros são suficientes para
colocá-lo no posto de terceiro cume mais alto do Brasil. Esse fator, bem como a
beleza de toda a região da Serra do Caparaó (com muitos outros cumes acima dos
2.000 metros), levou a criação do Parque Nacional do Caparaó em maio de 1961.
Como praticamente todos os Parques Nacionais aqui no Brasil,
o ParnaCaparaó esteve até certo ponto “abandonado” até que foi firmada uma
parceria entre o a administração do Parque e a megaempresa Cia Vale do Rio
Doce. Eis um exemplo de como as parcerias público-privadas pode funcionar para
o benefício da população.
 
A Vale investiu uma boa grana na reestruturação do parque,
criando uma Portaria no Estado do Espírito Santo, permitindo assim a realização
da travessia interestadual passando pelos cumes do Bandeira e do Calçado (2.766
m.). Além disso, houve a completa reforma dos Abrigos Tronqueira e Terreirão,
no lado mineiro do parque, bem como a criação dos Abrigos Macieiras e Casa
Queimada, mais próximos a portaria capixaba.
 
Estes abrigos contam com estrutura de banheiros, pias,
mesas, luz elétrica e boas clareiras para barracas. Tronqueira, Macieiras e
Casa Queimada são acessíveis a carros comuns, apesar da forte pendente. O
Terreirão só pode ser atingido através de caminhada ou com a contratação de
mulas para levar a sua carga. Não é permitido acampar fora dessas áreas. Muitos
podem achar ruim essa regra do parque, mas trata-se de uma forma de minimizar
impactos e evitar incidentes.
 
Encontrei guarda-parque apenas nas portarias, o que no meu
caso é mais que suficiente. Sempre muito atenciosos, explicaram detalhe por
detalhe várias peculiaridades do parque. Deu para notar que são guarda-parque
porque gostam e não porque são obrigados a serem gentis. Guardo ótimas
impressões do pessoal do Parque.
 
As trilhas do parque são todas excepcionalmente bem
sinalizadas, inclusive a que faz a travessia. Trata-se de uma excelente opção
para quem está se iniciando no montanhismo, onde mediante cadastro prévio nas
portarias e o pagamento de pequena taxa, pode-se usufruir dos benefícios que o
parque oferece. A saber: o ingresso custa 3 reais e o pernoite custa 6 reais.
 
Existe também a opção de se reservar uma vaga nos abrigos
existentes para quem prefira não montar sua barraca. Recomendo sempre entrar em
contato com o a Administração do Parque para saber como anda a lotação nos
abrigos. É bom também evitar feriados, pois a farofada faz a festa,
principalmente no Abrigo Terreirão.
 
Esta forma de controle de visitantes com certeza é um
diferencial para se evitar uma degradação ainda maior das áreas de acampamento
e das trilhas.
 
O Pico da Bandeira, destino mais visado do parque, é um
local já muito alterado. Tem um cruzeiro, uma antena velha e lajes de cimento
em seu cume. Fico pensando no que os eco-chatos do meu Paraná pensariam disso.
Se as pobres antenas do Ciririca já estão ameaçadas, imagine o que seria do
Pico da Bandeira, um alvo fácil dos ambientalistas de gabinete. Com certeza
pediriam o fechamento do parque, a proibição da visitação e outras atitudes
míopes como as que verificamos no P. E. do Marumbi por exemplo, onde trilhas e
clareiras de acampamento foram arbitrariamente fechadas, espantando os
montanhistas.
 
Sim, até agora falei de trilhas sinalizadas, áreas
pré-determinadas para acampamento, cadastros, taxas e outros males da
civilização controlada. Mas para o montanhista de coração como eu, como você, o
Parque Nacional do Caparaó oferece muito mais que o Pico da Bandeira e sua
cruz, ou que o Pico Calçado e sua trilha óbvia toda pintada de amarelo nas
rochas. Além do já pop Pico do Cristal (2.798 m.), tem-se por lá montanhas como
Cruz do Negro, Pedra Roxa e Tesourinho, todos na faixa dos 2.500 metros de
altitude, com trilhas muito menos óbvias (não sinalizadas) e distâncias
maiores, o que exige realmente um feeling de montanhista. Essas montanhas são
pouco divulgadas (não constam de informações oficiais no site ou nas portarias)
e têm seu encanto mais selvagem, bem ao nosso gosto. Porém não são áreas
intangíveis, como acontece no já citado P. E. do Marumbi do Paraná. As
montanhas estão lá, vai quem pode, e o parque não se responsabiliza por acidentes
nessas áreas. Aliás, é só no Brasil que existe isso de você sofrer um acidente
por descuido seu e querer responsabilizar o parque ou o guia.
 
Na parte baixa do parque existem também outras atrações mais
“família” como os rios e cachoeiras ( de água geladíssima).
 
No fim das contas o que ficou para mim foi uma excelente
impressão. E que seu exemplo sirva para a estruturação do Parque Estadual do
Pico Paraná por exemplo.
 
Imaginem a cena: Não seria mais permitido acampar nos cumes,
apenas nos Abrigos 01 e 02 e no Getúlio, que contaria com um abrigo tipo o da
foto abaixo, com mesas, pias e banheiros. Haveria limitação no número de
visitantes, conforme a carga que os acampamentos pudessem suportar. As trilhas
seriam mais bem sinalizadas (lembrando que a dificuldade em atingir o cume do
PP é muito maior que a do Pico da Bandeira), os guarda-parque seriam pessoas
moradoras da região, que realmente precisam do trabalho, a brigada contra
incêndio já existente seria reforçada (no P.N. Caparaó ela é modelo) e os
farofas teriam seu direito de acampar no Morro do Getúlio, lugar que lhes é
atraente. Aos “montanhistas” sobrariam muitas opções. Ou alguém aí ainda não
cansou de ir o Pico Paraná, o “ponto mais alto do sul do Brasil”?

Para mais infos sobre a Travessia da Serra do Caparaó você pode acessar meu blog: www.georgenasnuvens.blogspot.com. Para o álbum completo de fotos da travessia acesse meu álbum virtual no Picasa.

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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