Uma grande conquista no Espírito Santo: 800 metros

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Nesta ultima segunda (21/06), na boa companhia dos amigos e parceiros de cordada, Paulo Henrique Munhoz “PH“, Marcos Palhares “Tatu“ e Hermes Pereira “Soldado“, terminamos a conquista na Pedra Paulista em Itaguaçu (ES), totalizando 800 metros de escalada! Algo que superou absurdamente nossas expectativas, tanto no quesito extensão de via, quanto a fatos de achar que seria uma linha fácil e rápida de se conquistar. Tudo um grande engano, o que gerou o nome da via: “Nada é o que parece ser“.


1ª Investida (03 à 06 de Junho de 2010)

Em uma madrugada de quinta, eu e PH fomos em busca da realização do sonho de conquistar esta muralha de grandes proporções. Chegando na base da Pedra Paulista fomos recepcionados pelo Antônio Magevski (Toninho), figura super gente fina que esta estruturando o local para atuar no seguimento do Ecoturismo. Gentilmente ele nos passou a chave da casa para lá estabelecer nossa base durante os quatro dias de conquista que seguiriam.

Amanhecer na base da via.

Traçamos a linha: a face oeste da montanha. Ao olharmos esta aresta de diversos ângulos, fizemos várias estimativas: extensão da via, dificuldade das enfiadas e o tempo que gastaríamos para completar a conquista. Mas a montanha que estava ali frente aos nossos olhos reservava muito mais do que nossas mentes pudessem ´pensar/achar´. E ela nos colocou a prova do quanto somos seres insiguinificantes perante sua grandiosidade.

Fizemos a aproximação super pesados, com muitos metros de corda para deixar na parede, junto aos vários quilos de equipos de conquista. Começamos a conquistar super motivados, acreditando que seria tudo muito tranquilo. Nos dois primeiros dias revezávamos a ponta da corda e conquistamos 180 metros com um clima super agradável, um sol entre nuvens perfeito para se estar na montanha.

Jumareadas matutinas durante a primeira investida.

Durante esta investida conquistávamos, descíamos da via, e capotávamos na casa do Toninho. Para no outro dia fazer novamente a caminhada de aproximação (30min), tocar jumareando pelas cordas fixas, e assim dar continuidade a conquista. Mas entre estas indas e vindas à montanha, sempre arrumávamos uma desculpa para convencer a nós mesmos (o que era bem fácil) para dar um pulo na cidade a noite (a 10km), afim de tomar uma cervejinha light pra dar uma reidratada diária, e assim aumentar a performance do dia seguinte (método cientificamente comprovado e recomendado).

Os incríveis momentos na montanha…

No sábado de manhã o Soldado chegou para se juntar a nós e ajudar com as tarefas. Com três enfiadas de 60 metros já abertas – com dificuldade média de 4º -, partimos então para conquistar a parte mais íngrime da linha. Procurando pela linha mais óbvia para fazer render a conquista, abrimos mais 120 metros em lances que chegam ao 5º, e se intermeiam entre alguma vegetação.

Fechamos o feriado de Corpus Christ com 300 metros de via aberta, tendo virando a parte mais íngrime da parede. Deixamos a linha toda encordada para agilizar os trabalhos da próxima investida. E voltamos para Vitória ´achando´ que havíamos conquistado metade da via… doce ilusão.

A macacada passeando de boa.

2ª Investida (20 e 21 de Junho de 2010)

Nessa segunta investida o Tatu se juntou a nós, e em uma mesa de bar traçamos a estratégia para o ataque final. Reduzimos ao máximo a quantidade de equipamentos, e colocamos água e rango para serem consumidos da maneira super racionada, tentando minimizar o peso que levaríamos parede acima. A proposta era subir e não mais voltar à base. A saída tinha que ser pelo cume, e para isso reservamos dois dias na montanha.

Estacionamos o carro aos pés da Paulista já a noite. Colocamos a carga nas costas e nos mandamos piramba acima. Enquanto uns cuidavam de armar o acampamento na base da via, outros subiram a via sob as luzes dos headlamps, para duplicar algumas paradas afim de adiantar os trampos do dia seguinte.

Na manhã do domingo nos lançamos pelas cordas, para não mais retornar a base. Entre as dezenas de metros de jumareada, içamento das cargas e fixação de algumas proteções, foi-se o período da manhã. Começamos a conquistar o segundo trecho da escalada somente no período da tarde. Enquanto PH, Tatu e eu nos revezamos na conquista de três enfiadas, Soldado cuidava de organizar o equipo e registrar a empreitada. Logística, organização, bom entrolamento e velocidade, são ingredientes primordiais para o sucesso de uma escalada deste porte.

A incrível beleza dos Cinco Pontões.

Quando o sol se pós por detrás dos Cinco Pontões (um espetáculo!), nosso dia havia resultado em mais 180 metros de rocha percorrida. A noite caiu, e nos ajeitamos em um lugar não muito agradável – pela ausência de platôs – para passar a noite, a 500 metros. Digo ´passar a noite´ porque em uma situação destas o sujeito não dorme, e quanto mais mal acomodado você esta, mais a noite parece ficar longa. É uma mistura de prazer pela beleza do ambiente, e de desespero, causado pelas forças da natureza…

Depois de fortes rachadas de vento durante a madrugada, o dia amanheceu frio. Mas estávamos super empolgados com toda a empreitada, com a beleza da montanha, a fluidez da escalada, e com o alto astral envolvido com o grupo. E naquela manhã de uma segunda-feira tínhamos um único objetivo: bater no cume! Rapelar pela via sem concluí-la é algo que nem passava em nossas mentes.

A primeira enfiada do dia ficou para o PH, que venceu um trecho mais íngreme e esticou a parada em 65 metros, me fazendo sair um pouco ´à francesa´. Depois estiquei 60m de escalada fácil sem proteger, batendo só a chapa da parada. Na sequência sai novamente e conquistei a enfiada crux da via, um 5º técnico em cristais, deixando duas chapas para proteger o trecho de 65 metros.

Da P11 a parede começava a perder inclinação e parecia anunciar o cume, nos fazendo acreditar que estava bem perto. Já estávamos nos ultimos goles d´água e o rango estava no fim. O cansaço físico dava também seus sinais, causados principalmente pelo peso que carregávamos nas costas montanha acima.

Se aproximando do cume.

Colocamos um gás final, e esticamos mais 120 metros com chapas só nas paradas, e assim a rocha havia acabado. Entramos em um curto trecho de vegetação, e as 15 horas batemos no cume da Pedra Paulista, celebrando o sucesso da conquista. Uma escalada que nos exigiu bastante na parte física e psicológica, mas que se resultou em algo extremamente gratificante. É incrível o poder do quanto a montanha tem a nos ensinar.

No cume da Paulista existem ruinas de uma antiga torre de televisão. Como o local é acessado por caminhantes, tentamos deixar o livro de cume de uma maneira mais escondida. Ele esta no início na rampa (a direita) que antecede o cume (após a caminhadinha) debaixo de uma laca, e escondido com um bloco na frente.

Agradeço demais a parceria destes camaradas, que demostraram grande sagacidade e companheirismo para fazer concretizar uma conquista deste porte, que veio se concretizar como a maior escalada do Espírito Santo.

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