Esta semana se completou o 25º aniversário da Declaração de Kathmandu. Entre os dias 10 e 16 de outubro de 1982, os representantes do montanhismo mundial se reuniram e redigiram uma declaração que refletia a relação que o montanhista queria manter com a montanha, com a natureza.
A chamada Declaração de Kathmandu, aprovada pela Comissão para a proteção da montanha da UIAA (União Internacional de Associações de Alpinismo) contém uma série de objetivos que respondem não somente às perguntas que suscitavam o previsível e cumprido, o aumento de visitas dos montanhistas aos países em desenvolvimento.
Continua plenamente vigente como declaração de intenções sobre a relação entre os montanhistas e todas as regiões montanhosas do mundo.
1)Proteger eficaz e urgentemente o meio ambiente de montanha e suas paisajes.
2)Prestar atenção imediata e conservar sua flora, fauna e seus recursos naturais de todo tipo.
3) Reforçar as ações para reduzir o impacto negativo das atividades humanas.
4) Respeitar a hereditariedade cultural e a dignidade das populações locais.
5) Estimular as atividades que restaurem e reabilitem o mundo da montanha.
6) Fomentar o contato entre montanhistas de países diferentes dentro de um espírito de amizade, de respeito mútuo e de paz.
7) Transmitir à sociedade informação y educação que melhore as relações entre o homem e seu entorno.
8) Utilizar somente tecnologias que respeitem o meio ambiente tanto para gerar energia como para a eliminação de resíduos em regiões de montanha.
9) Apoiar, tanto pelos governos como pelas ONGs, os países montanhosos em vias de desenvolvimento em matéria de conservação ecológica.
10) Favorecer, à margem da política, o acesso das regiões de montanha com o objetivo de promover sua apreciação e estudo.
Foi muito bom que tenha saído dos próprios montanhistas essa civilizada proposta, generosa para sua paisagem própria, e que desde que se redigiu, tem parecido o símbolo da atitude honesta do montanhista.
Agora, ao longo dos anos, quando em algumas montanhas se vê tantos crimes à paisagem natural, como pedreiras, caça de animais silvestres, retirada de espécies florestais raras por exemplo, descobrimos que infelizmente alguns indivíduos que deveriam proteger este ambiente participam ativamente nesses desmandos, talvez por ausência de sensibilidade ou por interesse compartilhado com os promotores das feridas nas montanhas ou quem sabe por ambas as coisas, sentimos uma decepção imensa.
Saber manter seus ideais intactos, tanto sobre a montanha como sobre o montanhismo e até mesmo sobre os montanhistas, porque a primeira deverá continuar merecendo quando fizer jus, e considerar o segundo como uma das artes mais nobres que poderia exercer um homem e porque existem de sobra mostras de categoria extraordinária na maioria dos verdadeiros montanhistas neste e em muitos outros aspectos.
Lembrar e reler a Declaração de Kathmandu é como receber uma recarga de sensatez, de bom estilo, é escutar uma advertência que se tem feito mais necessária com os anos. Fará pensar, não sei, em quantos desvios foram dados. É até possível que sua releitura faça corrigir alguns erros, embora não pareça provável. Este é um código de honra, somente de honra, não obriga. É nossa referência moral claramente explicada, da qual se pode discrepar, como não, como de qualquer artigo da lei. É fácil distanciar-se dela, inclusive mais que segui-la.
Mas estes são nossos princípios. Em determinado momento foram adotados por todos e, com o tempo, ninguém os discutirá nem sustituirá explicitamente por outros. Mas, se não queremos que sejam só uma ocultável referência a nossa hipocresia, temos que confrontar-nos com o que dizem. Na atualidade é mais que conveniente um severo e autêntico exame de conciência montanhista frente à Declaração de Kathmandu.