Quando o Jorge enviou o convite para a lista para se fazer uma tal Picada do Cristóvão, fiquei com um pé atrás. Uma pesquisa rápida no google e lá fui ver que ela passa próximo da base do Pico do Paraná e Pico do Caratuva, lugares onde eu já tinha ido. Achei uma boa oportunidade para conhecer melhor a região e como a caminhada era em um fim de semana (05 e 06 de abril) ficou perfeito para eu e a Márcia fazermos.
O nosso guia seria o Julio, montanhista do PR e que conhece bem a região. Marcamos de encontrar o Jorge na Sexta-feira (04 de Abril) as 22:30 hrs no Terminal Tietê para embarcarmos no ônibus das 22:50 hrs em direção a Curitiba. Eu e a Márcia saímos do trabalho quase que direto para a Rodoviária e nossa intenção era dormir boa parte do percurso, mas nada disso aconteceu.
Devido aos inúmeros buracos da Rodovia, chegamos no Posto Tio Doca mais cansados ainda e somente com alguns cochilos. Descemos do ônibus neste Posto pouco antes das 05:00 hrs numa madrugada fria e com muita neblina. A meteorologia previa tempo bom no fim de semana e por sorte ela acertou. No Posto ficamos aguardando o Julio e a trip dele chegarem de carro e seguirmos para a entrada da Fazenda Pico do Paraná que aconteceu por voltas das 06:00 hrs.
O carro já veio com o Julio, sua esposa, o Paulo e o Zig e como estávamos em 6 e o porta malas estava repleto de mochilas, o Paulo teve de ir apertado lá atrás, junto com as mochilas. Perto já da Fazenda Pico do Paraná, a Solange (esposa do Julio) nos deixou e daqui ela voltou para Curitiba. Daqui para frente era mochilas nas costas e pé na estrada, ou melhor pé na trilha. Passamos pela fazenda do Dílson (PP) as 07:00 hrs e seguimos em frente na direção da Fazenda Rio das Pedras.
Aqui o caminho é sempre seguir na direção dos pinheiros que são vistos da porteira da Fazenda. Passamos por vários brejos e algumas pequenas subidas e descidas por um pasto de vacas e as 07:20 hrs chegamos nos pinheiros.
Aqui encontramos amoras silvestres que logo acabaram. Logo em seguida atravessamos uma cerca de arame e um pouco de mata fechada até chegarmos em uma antiga estrada tomada pela vegetação. Seguimos por ela, passando ao lado de um banhado tomado por taboas e aqui o sol já começava a dar as caras com seus raios solares.
Nossa direção era as torres de alta tensão que já conseguíamos ver ao longe, sentido leste. Alertados pelo Júlio de que o lugar onde estávamos passando pertencia ao Sitio do João Abreu e que a maneira dele expulsar intrusos era na “bala”, por isso apertamos o passo para sair das dependências do sitio.
Em uma área de reflorestamento de pinus a direita, saímos da estrada e seguimos na direção das torres de alta tensão, passando ainda por uma área de vegetação fechada, onde tivemos que varar mato por uns 10 minutos.
Logo passamos embaixo dos cabos de alta tensão e seguimos na direção de um rio que podia ser ouvido a direita. Ainda passamos por um pequeno trecho de mata e como ninguém queria tomar tiro, tivemos que pegar a trilha um pouco a frente e as 08:30 hrs chegamos nela. A trilha na verdade é um antigo caminho colonial que desce a serra em direção a Antonina.
É conhecida como Picada do Cristóvão e em vários trechos nota-se o calçamento original feito de pedras e preservado, mas coberta pela vegetação.
Existem também alguns vestígios de pontes e muros de arrimo, construídos ao logo do caminho. Logo que iniciamos a caminhada, sempre subindo, passamos ao lado da trilha de acesso ao pico da Guaricana, que quase passa despercebido à esquerda. As torres da alta tensão vão aparecendo a direita quando a mata se abre em alguns trechos e por volta da 10:00 hrs a trilha sai em campo aberto, seguindo agora o mesmo caminho das torres.
O pico que aparece a direita é o Ferreiro e atrás de nós já podemos ver trechos da Represa de Capivari. Continuando na caminhada chegamos no ponto mais alto da trilha, junto a uma torre e aqui paramos para um pequeno descanso e um lanche.
Por volta das 10:20 hrs seguimos pela trilha sempre descendo mas por pouco a caminhada não terminaria aqui. Em um trecho da trilha passamos ao lado de tufos de capim em cima de um deles estava uma cobra jararaca tomando sol. O Júlio, o Jorge, eu e a Márcia passamos a cerca de 10 cm da cobra e por sorte ela não nos picou.
O Zig que vinha logo atrás com o Paulo foi quem percebeu a cobra e depois de refeitos do susto e vários clics, seguimos descendo. Uns 10 min depois a trilha entra novamente em mata fechada e agora segue rente a base do Pico da Ferraria que está do lado direito.
A trilha vai cruzando com várias nascentes e pouco antes das 13:00 hrs encontramos a trilha totalmente fechada. O Júlio, eu e o Jorge íamos nos revezando na derrubada da vegetação com o facão e em alguns trechos era ate difícil saber qual rumo seguir devido ao mato alto que tomava conta da trilha.
Difícil mesmo foi se livrar das inúmeras folhas de urtiga que a todo tempo surgiam na trilha (me queimei em vários momentos) e pouco antes das 14:00 hrs cruzamos com a trilha da Conceição que vem da esquerda e segue para a direita A trilha do Cristóvão cruza com a da Conceição e segue descendo, mas nossa intenção era seguir para a esquerda na trilha da Conceição e foi o que fizemos. O problema era que a trilha estava bem fechada, mas a vantagem era que antigamente ali era uma estrada de manutenção da Copel, então mesmo que fechada, a trilha estava lá.
E lá fomos lá varando mato novamente até chegar próximo da Cachoeira dos Cabos. Passamos direto e seguimos para a Janela da Conceição que na verdade é um túnel de 1,5 km aberto na rocha que serviu há muitos anos atrás como túnel de manutenção para retirada de material do aqueduto subterrâneo construído ali.
Ainda tivemos que cruzar 2 pontes semi-destruídas sendo que uma delas com uns 3 mts de altura e a outra um pouco maior ( uns 10 mts).
Chegamos na Janela por volta das 15:30 hrs e só entramos no túnel por cerca de 100 mts. Os morcegos são os únicos habitantes do lugar e como tínhamos uma longa caminhada até a Janela da Cotia saímos logo dali.
Na volta ainda paramos na Cachoeira dos Cabos para alguns clics e comer alguma coisa. Eu e o Paulo seguimos para a base da cachoeira para alguns clics e ao voltarmos a galera já tinha iniciado a caminhada para a janela da Cotia (o outro túnel).
Saímos da cachoeira com a Márcia pouco antes das 17:00 hrs e o retorno até o cruzamento com a trilha do Cristóvão foi mais rápido, pois não tínhamos que varar mato. Passada a bifurcação do Cristóvão seguimos em frente na trilha da Conceição que de agora em diante segue por uma trilha demarcada e mais fácil de caminhar. Começamos a apertar o passo porque já estava começando a escurecer e o lugar onde iríamos acampar ainda estava muito longe.
Por volta das 18:30 hrs chegamos na antiga ponte que cruza o rio Cotia (na verdade era o que restava dela). Nesse ponto tivemos que voltar uns 100 mts até encontrar uma trilha que subia morro acima. Ainda passamos por uma trilha que contorna a ponte e quando chegamos na bifurcação da trilha para a Janela da Cotia, a subida ficou mais íngreme e a partir daqui tivemos que usar as lanternas, já que estava totalmente escuro.
Em dois trechos tivemos que cruzar o rio Cotia e em um deles passamos ao lado de uma cachoeira onde tivemos o máximo de cuidado para não levar um tombo cachoeira abaixo. Ao chegarmos em um platô conhecido como Disco Porto (antigo depósito de materiais retirado do tunel e do aqueduto), por votação resolvemos acampar aqui mesmo. O local é totalmente plano e todo concretado com alguns arbustos, mas um ótimo local para passar a noite. Tínhamos a intenção de acampar ou bivacar no interior do túnel, mas chegamos exaustos depois da longa subida de quase 1 hora.
Eu e a Márcia fixamos a barraca com varias pedras e em seguida preparamos o jantar com miojo, sopão e salame. Era por volta das 21:00 hrs e depois de saciada a fome caímos no sono rapidamente e só fomos acordar pouco antes das 07:00 hrs do dia seguinte. O sono tinha sido perfeito, pois não choveu e nem ventou durante a noite.
Quando acordamos encontramos outras barracas de um pessoal que tinha chegado por volta das 23:00 hrs e o resto da galera já estava fora das barracas tirando fotos do nascer do Sol. O tempo estava perfeito o que permitiu belas fotos do paredão do Ibitirati e do Caratuva.
Estávamos em um vale que fica entre o Ferraria, o Ibitirati e o Caratuva, o que permitiu um belo visual da região. Depois de alguns clics seguimos para a janela da Cotia passando ainda por uma antiga ponte onde só restavam quatro dormentes de aço.
Aqui novamente tivemos que cruzar com todo cuidado para não cair. Do local onde acampamos até a entrada do túnel foram poucos minutos e não tivemos problemas e depois de passar a ponte já avistávamos as portas de aço do túnel e resolvemos seguir até o final dele, já que não era tão extenso. Depois de vários clics em algumas estalactites e estalagmites que se formaram no final do túnel, resolvemos voltar para as barracas.
O interior do túnel possui alguns lugares planos onde se pode bivacar com a vantagem de não haver morcegos. Do lado de fora pude perceber que existe um túnel no mesmo paredão, mais alguns metros acima. Por que? Eu não sei. De volta para as barracas desmontamos e seguimos serra abaixo as 10:30 hrs. Mochilas nas costas nosso objetivo era voltar até a trilha da Conceição e continuar a descida por ela até o Bairro Alto, já em Antonina.
Depois de cruzar mais uma vez o rio Cotia chegamos em uma estrada que é a continuação da trilha da Conceição. Desse ponto já se consegue chegar de carro 4×4 e encontramos um junto a ponte semi-destruída que cruza o rio Cotia.
Ainda passamos pela piscina do Elefante que na verdade é um antigo reservatório de água que hoje está totalmente seco. Voltamos logo para a estrada e continuamos a descida até o Bairro Alto aonde chegamos as 14:00 hrs. Paramos em um barzinho e lá nos informamos sobre o próximo circular para a rodoviária de Antonina que saia as 17:00 hrs (o último tinha sido as 13:00 hrs).
Como tínhamos tempo, fomos tomar um banho no rio Cachoeira ao lado da antiga usina hidrelétrica e com a água gelada pouco se atreveram a entrar e as 17:15 hrs tomamos o circular para Antonina e de lá seguimos para Curitiba no ônibus das 18:30 hrs.
Em Curitiba nos despedimos do Julio, Paulo e do Zig e as 21:00 hrs seguimos no ônibus para São Paulo, onde chegamos por volta das 03:00 hrs da madrugada de segunda, cansados, mas revigorados por mais uma trilha inédita.
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