Niclevicz e Irivan Burda já deixaram o campo base do Makalu

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O alpinista brasileiro Waldemar Niclevicz informou que toda a equipe já deixou o campo base do Makalu e agora se encotram na cidade de Kathmandu. Também detalha os problemas enfrentados pelo colega Santiago Quintero durante a descida da montanha.


Confira o relato do alpinista na íntegra:

Felizmente estamos de volta a capital do Nepal, a agitadíssima Kathmandu, onde é constante o barulho estridente de buzinas, ruas entupidas de gente e carros, um contraste violento com a paz das montanhas.

Mas o desconforto de tanto agito é compensado pela oportunidade de boas refeições, sonos prolongados, uma ducha quente demorada. Depois de tanto sofrimento, que inegavelmente passamos durante a escalada do Makalu, estamos, literalmente, relaxando!!!

Nossa volta à civilização foi tumultuada, a aventura só teve fim quando desembarcamos em Kathmandu. No dia 15 de maio deixamos pela manhã o nosso acampamento-base (5.700m) e caminhamos 12 horas sem parar até um lugar chamado Yangle Karka (3.700m), isso mesmo, 2.000m montanha abaixo, em busca de um lugar “seguro” para o pouso de um helicóptero.

Vocês viram a confusão que aconteceu durante nossa ida, quando um gigantesco helicóptero quase se despedaçou aos pés do Makalu. Para não correr o mesmo risco, um helicóptero menor (Esquilo) foi nos buscar em Yangle Karka, mas para isso fez vários vôos, já que nosso grupo era de 7 pessoas, ou melhor, 9, contanto com o casal italiano, onde Cristina sofria com os congelamentos.

Assim, na manhã do dia 16 de maio, o helicóptero nos despertou as 6:15 em Yangle Karka, descarregou dezenas de litros de combustível, logo voltou a decolar só com o piloto e foi até o Hillary Camp (4.800m), resgatou a italiana Cristina (que está com congelamento grau 2 em um dos pés, e grau 3 em outro), deixando-a em Yangle Karka, logo o helicóptero voltou a Hillary Campo para pegar o companheiro de Cristina, Gianpaolo, aterrisou rapidamente em Yangle Karka novamente, recolheu a Cristina e levou os dois até Lukla, de onde seguiram de avião até Kathmandu.

Cerca de uma hora depois o helicóptero Esquilo de cor branca voltava a sobrevoar Yangle Karka para nos resgatar, mas, como éramos 7, foi preciso fazer 2 viagens até uma outra vila com altitude inferior, antes que as nuvens impedissem o vôo. Ou melhor, foram 3 viagens de ida e volta até Tashigaon (2.800m), pois um grupo de 3 coreanos ficaram maravilhados com a visão do helicóptero e imploraram ao piloto para também tirá-los dali, o que foi negociado em questão de minutos por 4 mil e 500 dólares.

Bem, uma vez todos em Tashigaon, outra seqüência de vôos (três) foram feitas até a pista de pouso de Tumilingtar (500m), onde ficaram nossos amigos, os coreanos e a pouca bagagem que foi possível levar, tudo seguiria de avião para Kathmandu.

Logo o helicóptero voltou a Tashigaon para o último vôo do dia, embarcamos eu, Irivan, Carlos Soria e Carlos Martinez, direto para Kathmandu. Mas…. a distância é longa, cerca de uma hora e meia de vôo, muitas nuvens escuras pelo caminho, longos desvios, chuva forte várias vezes, coração na garganta, raspamos dezenas de cristas de montanhas, no meio do caminho paramos em um lugar aonde dezenas de militares deram conta do nosso reabastecimento, e, depois de tanto tempo sentindo com se tivéssemos dentro de uma batedeira de bolo, desembarcamos zonzos no aeroporto de Kathmandu.

Dia 14 de maio, no final da tarde, Santiago Quintero chegou a salvo no acampamento-base (5.700m), após ser resgatado do Makalu La (7.400m) por dois sherpas. Santiago chegou no cume do Makalu no mesmo dia em que eu e Irivan, 11 de maio, porém contraiu um edema cerebral na descida, o argentino Hernan teve um papel fundamental no seu resgate, mesmo tendo feito o cume no dia 12, acabou coordenando todo a descida do seu colega.

Santiago não conseguiu nos acompanhar até Yangle Karka no dia 15. Acabou indo até Hillary Camp (4.800m) no dia 16. Dia 17 não havia condições de vôo. Por fim, dia 18 o mesmo helicóptero o resgatou de Hillary Camp até Kathmandu, aonde chegou em perfeito estado de saúde.

Embora tenhamos vindo até Kathmandu, a nossa bagagem ficou para trás, pois foi impossível o seu transporte no pequeno helicóptero. Somente teremos acesso a ela dia 23 de maio, pois está sendo transportada via carregadores até Tumlingtar, de onde virá até Kathmandu por avião.

Que grande aventura! Acho interessante contar esses detalhes, para que vocês possam perceber tudo o que se passa em uma grande expedição ao Himalaia.

Enquanto isso, a saudade do Brasil vai aumentando!!!

Um grande abraço,

Waldemar Niclevicz

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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