Foi a primeira escalada com sucesso de um cume com mais de oito mil metros e estes montanhistas a realizaram em condições dramáticas, superadas por ações de grande valor, que até os dias de hoje surpreendem muitos jovens ao lerem as aventuras daquela conquista.
Anteriormente, vinte e duas expedições ao Himalaia e ao Karakoran já haviam fracassado e, em muitas delas, seus membros sequer voltaram para casa.
Após a conquista, Herzog escreveu o livro Annapurna, onde relata a façanha e o trabalho em equipe, para conseguir superar as dificuldades que se apresentavam, onde arriscaram a vida por um ideal e acabaram retornando para casa em condições comovedoras. Sem dúvidas, este livro é um dos mais emocionantes do gênero aventura.
Foi o primeiro oito mil da história, e o fizeram sem o conhecimento de nenhuma rota e com os rudimentares equipamentos da época, bem diferentes dos materiais de grande tecnologia que nos acostumamos ver nas escaladas atuais.
Para se ter idéia da grandeza daquela expedição e daqueles pioneiros, o grupo levou junto um médico cirurgião, pois tinham a certeza de que alguns dedos dos pés e das mãos teriam que ser amputados ao final da escalada!
O topo do Annapurna alcança os 8.091 metros sobre o nível do mar. É a décima entre as 14 montanhas que ultrapassam os oito mil metros, porém sua dificuldade não está relacionada com sua colocação entre as maiores.
É considerado, juntamente ao K2 e ao Nanga Parbat, como um dos mais difíceis desafios para os alpinistas. Desde 1953, foi escalada em apenas 142 ocasiões, muito pouco quando comparamos com as mais de 2.500 ascenções ao Everest.
O índice de mortalidade no Annapurna é altíssimo. Para cada 100 ascensões ao cume ocorrem 40 mortes. No total, 56 montanhistas já perderam a vida na montanha. Comparando novamente o Annapurna ao Everest, de cada 100 escaladas com sucesso nesta montanha, existem apenas 5,3 mortes. E não deixe de observar que o índice de montanhistas não capacitados é muito maior no Everest que no Annapurna!
Mantendo este triste índice, nesta semana um dos mais notáveis montanhistas da atualidade, Iñaki Ochoa, morreu nas encostas da “montanha assassina”.
Era um alpinista que possuía uma experiência extraordinária, além da técnica de escalada muito apurada, tanto na rocha como no gelo. Um alpinista profissional muito audacioso e que demonstrava para o mundo atos consideráveis da grandeza e da nobreza do ser humano.
Escalar uma montanha sempre foi e sempre será um desafio a ser vencido. E estes, normalmente, sempre impõem risco de vida aos que se submetem a desafiá-lo. E muitas vezes, por mais técnica, conhecimento e experiência que se tenha, o sucesso ou não de uma expedição acaba intrinsecamente ligada aos fatores externos, normalmente atrelados as forças da natureza, como o clima e a pressão atmosférica.
Iñaki Ochoa, de 40 anos de idade, estava prestes a completar o desafio das 14 maiores montanhas do mundo. Sua imagem estará sempre projetada ao lado dos grandes montanhistas que tivemos a honra de conhecer suas histórias, como George Mallory, Andrew Irvine e Jerzy Kukuczka, sem nos esquecermos dos brasileiros Mozart Catão e Vitor Negrette. Todos eles grandes homens com grandes feitos, que tiveram a coragem de viverem suas vidas ao limite da audácia e do valor humano.
A montanha possibilita ao homem a dimensão real de seu tamanho, de suas forças e das suas possibilidades. Entre os montanhistas, é observada com misticismo, como aquela capaz de trazer a pureza espiritual. Possibilita-nos muito mais do que simplesmente contemplar sua vista embriagadora do espaço ao redor, nos autoriza a provar da essência da natureza e seus dualismos, da alegria e da dor, do medo e do êxtase, da vida e da morte.
Graças ao arrojado espírito de homens como estes, é que os grandes capítulos da humanidade foram escritos. Quem tem os pés plantados em um cume, conhece a razão de viver e de arriscar a vida. Como disse Mallory em sua frase mais célebre quando questinado de por que escalar o Everest? “Porque ele está lá!”