Cerro Penitentes (4.356m)

0

Depois de quase três meses vivendo em Córdoba, Argentina, não podia deixar o feriado da Semana Santa passar em branco. Peguei o carro e me joguei na estrada rumo a Mendoza (a cerca de 700 km). O objetivo era subir uma montanha de pelo menos 4 mil metros.

Após fazer alguma pesquisa, a montanha eleita foi o Cerro Penitentes (4.356m) situada perto do Centro de Esqui Los Penitentes a 150 km da cidade de Mendoza. Pelo fato de ir sozinho e de não dispor de muito tempo, esta montanha se mostrou ideal pelo fácil acesso e trilha marcada.

Depois de viajar boa parte da noite cheguei a Mendoza no sábado bem cedo e fui direto à loja de aluguel de equipamentos que pra minha surpresa estava fechada (mesmo eu tendo confirmado com o dono). Por sorte eu tinha o endereço de outras lojas e fui muito bem atendido na Pierobon.

Comi algo e peguei novamente a estrada. Depois de 2 horas cheguei ao Centro de Esqui Los Penitentes (2.500m), ponto de partida para ascensão. A partir dali deve-se caminhar cerca de 3 km pela Ruta 7 em direção ao Chile. Ao chegar à entrada da Quebrada de Vargas, há uma ponte bem precária à esquerda para atravessar o Rio de Las Cuevas que corre ao lado da rodovia.

Às 16h00 comecei a subir o primeiro trecho e avistei ao longe dois montanhistas. Como não conhecia o caminho, resolvi apertar o passo e depois de 1 hora os alcancei. Mark e Stephen, norte americanos, estavam na mesma situação que eu: não conheciam nada do caminho. Continuamos caminhando juntos, seguindo pela Quebrada de Vargas, sempre margeando o pequeno córrego e ganhando progressivamente altura.

Em certo momento, encontramos três montanhistas que pareciam cansados. Como o dia já estava terminando, eles resolveram montar o acampamento por ali mesmo. Continuamos subindo e às 18h30 alcançamos o Refúgio Grajales (uma peça de 2m por 2m). A área do acampamento base (3.211m) estava simplesmente lotada, mas consegui achar um lugar para amar minha barraca entre as outras 13.

Aproveitei os últimos raios de sol para conversar com as pessoas e me informar sobre o caminho pro cume. Acertei com Mark e Stephen de subirmos juntos no dia seguinte.

É, previsão do tempo é igual em todo lugar. Apesar da previsão de chuva, a noite estava maravilhosa: totalmente estrelada. Mesmo escondida por detrás das montanhas, a lua já iluminava toda a quebrada. Não estava conseguindo dormir muito bem e resolvi apreciar um pouco a lua. Entretanto o frio me fez voltar para a barraca. Calculo que fazia cerca de -5 graus.

Acordei às 7h30, comi algo e começamos a subir exatamente às 8h13. O segundo dia de caminhada se mostrou mais difícil. Uma inclinação forte (em muitos trechos 45 graus) e um terreno composto basicamente de cascalho fino e escorregadio dificultavam muito a progressão.

Durante a primeira hora de caminhada senti um cansaço anormal. Creio que, devido a minha inexperiência acima dos 3 mil metros, eu estava subindo num ritmo relativamente forte. Parei 3 minutos para descansar e recomecei desta vez andando mais compassado e cuidando da respiração. Senti-me bem melhor.

Ao chegar a um platô encontramos um argentino (Eduardo) que fazia uma parada para descanso.  Ele continuou a subida e nós ficamos ali por mais um tempo. Logo em seguida avistamos os três montanhistas do dia anterior. Eles haviam iniciado a subida cedo e também param no platô para descansar. Deixamos os três no platô e prosseguimos.

Às 11h00 alcançamos um segundo platô e lá estava Eduardo. Seu altímetro marcava 4.015m. Ele continuou subindo e nós paramos para comer algo. A vista naquele local era simplesmente extraordinária! Ao norte estava o Aconcágua (6.959m) com sua magnífica face sul. Um pouco mais a esquerda o Tolosa (5.432m). E a sudoeste o Tupungato (6.565m).

Os últimos 900m de caminhada são mais fáceis com uma inclinação leve. Já conseguíamos avistar Eduardo chegando ao cume. Às 14h20, nós três alcançamos o topo da montanha.

A sensação de atingir meu primeiro 4 mil é indescritível! O céu estava sem nuvens e extraordinariamente azul. O vento estava fraco e a temperatura agradável. Um condor ao longe nos avistou e se aproximou para conferir o que se passava. Antes de desaparecer, nos presenteou pousando para fotos em frente ao Aconcágua.

Depois de comermos algo, de conversamos, e de tirarmos “um milhão” de fotos, nos preparamos para descermos. Neste momento chegava um grupo de 8 pessoas.

A descida foi acompanhada de muita adrenalina. Descemos literalmente correndo e deslizando na terra e cascalho. Se para subir demoramos 4 horas, para descer alcançamos o acampamento em apenas 1 hora e 10 minutos. Em certo momento cruzamos com os três montanhistas que vinham subindo muito lentamente. Sinceramente não creio que tenham chegado ao topo.

Quando chegamos ao acampamento não havia mais ninguém. Todos haviam partido exceto uma raposa que procurava alimento em meio as nossas barracas.

Desarmamos o acampamento e às 16h00 recomeçamos a caminhada rumo ao Centro de Esqui Los Penitentes. Durante a descida encontramos um porteador que trazia duas mulas carregadas de equipamentos e comida. Um pouco mais abaixo vinham os membros desta expedição com suas pequenas mochilas de 20 litros caminhando sorridentemente.

Às 17h50 chegamos à rodovia 7. Caminhamos por mais 30 minutos até enfim chegar à estação de esqui. Depois de uma pausa para hidratação e nos despedirmos e tomamos rumos diferentes.

Esta foi sem dúvida uma experiência fascinante, mas que teve seu ponto negativo: a tristeza de partir e a vontade de um dia retornar a Las Cordilleras de Los Andes.

Direto da Argentina,

Márcio Carvalho.

Compartilhar

Comments are closed.