Feriado prolongado de 4 dias chegando e o frio e a chuva (típicos do outono) nada de dar as caras, então pensei numa trilha no litoral e como a Márcia já tinha comentado comigo sobre a llha do Cardoso, surgiu a idéia de fazermos a travessia do Lagamar, começando pelo Parque Nacional do Superagui (PR) e terminando na Ilha do Cardoso (SP).
Peguei algumas dicas da Revista do Beck e do Jorge e fiquei estudando a melhor opção para essa travessia e devido à logística, tanto da ida como da volta, optamos pela entrada por Paranaguá, iniciando a caminhada no Superagui e terminando na Ilha do Cardoso. Algumas pessoas se mostraram interessadas, mas no final só o Wilinha que resolveu embarcar nessa empreitada comigo e com a Márcia, talvez em parte pela mudança no tempo que prometia chuvas intensas naquele final de semana. No final vimos que a chuva não chegou a atrapalhar, mas sim o sol muito forte que apareceu nos ultimo dia da travessia (esse sim, tornou o final da caminhada muito cansativa).
Marcamos de eu e a Márcia encontrarmos o Wilinha no Tietê por volta das 23:30 hrs de Quarta-feira (30/04) p/ embarcar as 23:45 hrs em direção a Curitiba pela Viação Itapemirim. Nosso objetivo era chegar em Curitiba por volta das 06:00 hrs e com isso dando tempo de embarcar no ônibus das 06:30 hrs pela Viação Graciosa em direção a Paranaguá, mas não contávamos com um atraso do ônibus que só foi chegar em Curitiba por volta das 07:00 hrs. Por sorte tinha um outro ônibus saindo as 07:30 hrs, mas para nossa infelicidade já estava lotado e com isso restou a opção de comprar para o horário das 08:30 hrs pela Viação Princesa dos Campos, chegando em Paranaguá pouco antes das 10:00 hrs com tempo bom e sol.
Agora nós tinhamos que procurar algum barco que seguisse para Superagui e lá fomos em direção ao cais. Lá um barqueiro estava juntando algumas pessoas (tinham + – 10), mas na opinião dele insuficiente para realizar a saída do barco. Torcíamos para que chegassem mais pessoas, mas em vão. Nossa alternativa era pegar um barco para Guaraqueçaba e de lá tomar outro para o Superagui, mas com a desvantagem de chegar no destino final no final da tarde e quando já estávamos com essa opção acertada, a Ana (uma das 10 pessoas que também iriam para o Superagui) vêm com uma boa notícia. Ela tinha encontrado ali próximo o César (dono do barco Megathon e que sempre faz esse trecho) e já que ele estava de saída para o Superagui tudo se encaixou perfeitamente, marcando a saída para as 12:00 hrs e como tínhamos bastante tempo até lá, fomos conhecer uma parte da cidade, onde existem belos casarões e depois comer alguma coisa.
Saímos pouco depois das 12:00 hrs e só restava uma dúvida: o mar estava agitado e talvez tínhamos que chegar no Superagui por Guaraqueçaba, a fim de evitar o mar aberto e suas ondas fortes, mas em contato por rádio com a ilha, disseram que dava para chegar por mar aberto.
Mas não contávamos com a garoa que começou a cair assim que passamos próximo da Ilha das Peças, pois era um sinal de que poderíamos pegar ventos fortes e ondas quando chegássemos em mar aberto e foi o que aconteceu. Até o César avisou que o barco ia dar uma chacoalhada.
Não demorou muito e logo o barco subia e descia onda e por pouco o que eu comi em Paranaguá não serviu de alimento para os peixes. A ânsia de vomito foi grande e em alguns momentos o barco teve de desligar o motor para esperar algumas ondas fortes passarem
.Refeitos do susto, chegamos no Superagui as 14:20 hrs com chuva e o tempo totalmente fechado. Para nossa tristeza, a chuva que a meteorologia tinha previsto estava chegando no litoral naquele dia. Depois do desembarque, fomos se esconder da chuva até que ela diminuísse e depois seguimos para o Camping do Pacheco, que estava vazio.
Um casal e mais uma pessoa (que vieram no barco) também foram para esse mesmo camping e com a trégua da chuva deu p/ montar as barracas e ainda cobri-las de lona, fornecida pelo Seu Pacheco. O local é plano e dispõe de energia elétrica e chuveiro quente. Existe até um fogão a gás com algumas panelas (ideal para quem não tem fogareiro). Depois das barracas montadas, eu, a Márcia e o Wilinha fomos caminhar pela praia e procurar algum bom lugar para comer. Ainda passamos no Bar Akdov (local onde normalmente tem forró) e marcamos de jantar no restaurante em frente ao trapiche e aqui conhecemos um casal de Curitiba e ficamos conversando durante um bom tempo.
Voltamos para o camping já a noite e por volta das 20:00 hrs todos os 3 já estavam dentro da barraca e só uma coisa nos deixou preocupados: pouco depois de começarmos a dormir a chuva voltou e mais forte ainda e não parou mais, chovendo a noite toda. Logo pela manhã, vimos que as lonas tinham resistido a intensa chuva e não deixaram entrar água nas barracas, mas percebemos que a chuva não ia parar e não tivemos alternativa senão o de desmontar as barracas e seguir na caminhada e por volta das 09:00 hrs nos despedimos de Seu Pacheco e seguimos em direção a Barra de Ararapira, ainda acerca de 27 Km. Aqui a única opção é pegar uma trilha que segue por dentro da ilha, evitando com isso a travessia da foz de um rio que deságua na praia, que é muito difícil.
A trilha sai próxima do camping (na dúvida é só perguntar ao Seu Pacheco) e depois de uns 5 minutos segue por uma bifurcação da direita e logo chegamos em algumas casas e aqui existe uma placa apontando trilha para o lado direito. Daqui para frente a chuva diminuiu e seguimos pela trilha sem erro. Depois de uns 40 minutos de trilha, chegamos ao primeiro obstáculo: a travessia de um pequeno rio com largura de uns 5 mts e pela cor escura da água parecia ser bem fundo. Eu e o Wilinha voltamos alguns metros e entramos na mata para tentarmos encontrar algum desvio para que pudéssemos atravessar o rio em um lugar seguro, mas em vão e quando estávamos voltando, encontramos a Márcia tentando atravessar o rio e deu p/ ver que ali não era tão fundo (para sorte nossa).
Com a ajuda de um galho todos atravessamos sem maiores problemas e seguindo a trilha ainda passamos por mais uns 3 rios, porém não tão fundo quanto o primeiro e quando já estávamos chegando perto da praia, a chuva voltou e aqui encontramos um casal de bikers que estava vindo de Barra de Ararapira. Disseram que teríamos problemas quando chegássemos na Vila, porque a maré estava alta e os rios que desaguavam perto da Vila estavam bem cheios (Seu Pacheco tinha passado para gente de que deveríamos pegar uma trilha na mata para evitar a região da praia onde a maré estava alta, então não ficamos preocupados com isso).
O casal de bikers tinha tido dificuldades para encontrar o caminho, na qual a gente estava, pois eles não viram a trilha e tinham continuado pela praia, mas quando chegaram na foz do rio, tiveram que retornar, porque a travessia naquele ponto estava impossível. As 10:40 hrs nos despedimos deles e mais alguns metros chegamos na areia da praia. Aqui o vento estava contra e o frio e a chuva dificultavam ainda mais a caminhada. De vez em quando a chuva diminuia, mas ela não parava e devido à chuva e aos ventos, a maré estava alta e quase não sobrava espaço na areia da praia para a caminhada e alguns trechos tivemos que seguir pelo barranco, onde havia vegetação e a areia não estava tão fofa. Pelo GPS do Wilinha, nosso ritmo de caminhada estava em 3,5 Km/h
.or volta das 13:30 hrs a chuva e o vento cessaram e com isso paramos mais uma vez para descansar e fazer um lanche em frente a uma trilha que dá acesso a algumas casas de pescadores. Com as roupas encharcadas retomamos a caminhada, mas agora sem a chuva, o frio e o vento e deu até para aumentar o ritmo da caminhada e junto da praia encontrei uma bola de futebol infantil e fui chutando ela durante um bom tempo. Passamos ainda por alguns rios que desaguam na praia, mas todos de fácil travessia e as 15:20 hrs paramos novamente na entrada de um pequeno sítio, marcado por um tanque de reservatório preto trazido pelo mar.
Aqui enquanto estávamos comendo começaram a surgir os primeiros raios de sol e nesse momento a dona do sitio (D. Jandira) apareceu e ficamos conversando por um certo tempo e as 15:40 hrs retomamos a caminhada, agora mais tranqüilos, porque já podíamos ver a Ilha do Cardoso ao fundo. Conforme íamos contornando a Ilha e adentrando pelo canal, percebemos que não ia ser tão fácil chegar na Vila. Nesse ponto da entrada do canal, a maré alta fez estragos na praia, derrubando inúmeras árvores e impedindo o acesso a Vila pela areia da praia. Agora era procurar a trilha que entrava na mata à esquerda, mas com as arvores caídas não ia ser fácil encontrar o inicio dela. Por sorte, quando estávamos chegando, encontramos um barqueiro que nos orientou sobre o local exato, onde a trilha se inicia e depois de uns 10 minutos avançando por entre as arvores caídas, achamos o início dela e aqui tivemos que subir o barranco que separa a mata da praia (as coordenadas geográficas desse ponto da entrada da trilha estão no final desse relato).
Depois de uns 20 minutos de trilha voltamos para a praia, mas já saímos em um ponto onde a maré permitia a caminhada pela areia e daqui pra frente tivemos que atravessar alguns rios e em um certo trecho só foi possível com o barco do Reginaldo (o mesmo que nos orientou sobre a entrada da trilha), pois o rio estava bem fundo por causa das chuvas e depois disso ainda caminhamos pela praia e as 17:20 hrs chegamos em frente ao Camping das Palmeiras que estava vazio e sem ninguém para nos atender (o local não é gramado – dever ser um local ruim para acampar).
Seguimos vila adentro até chegar na Igreja onde encontramos um orelhão que funcionava através de ondas de rádio (o único em um raio de vários kms). Perguntamos a um morador (Seu Coto) sobre a travessia do canal até a ilha do Cardoso e ele disse que poderia fazer. Sobre o camping falou que poderíamos ficar em seu próprio quintal (pagamos $5,00/pessoa), então não pensamos 2x e montamos nossas barracas no mesmo local de outros mochileiros que tinham ficado por lá 5 dias. Eu e a Márcia usamos o chuveiro quente da casa e depois nós três ficamos conversando com Seu Coto durante um bom tempo e em seguida fomos preparar nossa janta na varanda da casa.
O que nos deixou muito contentes foi ver um céu totalmente estrelado sem uma nuvem sequer. A única coisa chata foi o furto de nosso salame por alguns gatos que estavam na varanda, que estavam mais famintos que a gente. Marcamos com Seu Coto que iríamos atravessar o canal por volta das 08:00 hrs e em seguida fomos dormir. Pouco antes das 07:00 hrs acordei com o Sol forte batendo na barraca e tirei algumas fotos do nascer do Sol. Ainda conseguimos ver alguns micos-leões da cara preta comendo coquinhos, próximos da casa e depois de desmontar as barracas, tomamos o barco para cruzar o canal em direção ao Pontal do Leste, já na Ilha do Cardoso onde desembarcamos depois de 10 minutos (as 09:30 hrs). Ainda passamos por algumas casas até chegar na praia onde iniciaríamos a longa caminhada de 15 km até a Vila de Marujá.
onforme avançávamos pela praia em direção a Vila, o Sol castigava mais e mais e o cansaço já era bem maior que o dia anterior mesmo sendo uns 12 km a menos de caminhada. O problema era encontrar trechos de sombra e o único estava a + – 1h30min de caminhada. Quando chegamos em alguns pinheiros paramos para descansar e comer alguma coisa e ficamos aqui por uns 40 minutos e bem ao longe já conseguíamos ver alguns banhistas na praia, próximos de Marujá ainda a cerca de 1 hora.
As 13:20 hrs chegamos na Vila e a primeira coisa que fizemos foi procurar algum camping para montar a barraca e ainda conhecer a Praia da Lage. Ficamos no camping da Débora e acertamos com ela o café da manhã para o dia seguinte. No local funciona também uma pousada, mas já estava lotada. Depois de instalados seguimos para a Praia da Lage que estava a cerca de 1 hora de caminhada, mas quando estávamos passando pelo costão eu e a Márcia resolvemos parar por lá para apreciar o pôr-do-sol.
Logo voltamos para o camping e durante a noite ainda fomos procurar um local que vendesse a famosa cataia, que na verdade é uma pinga misturada com folhas da planta. A impressão que tivemos é de ser uma pinga mais forte, nada mais. Ainda passamos no Restaurante do Beto para acertar o barco em direção a Cananéia para o dia seguinte as 14:00 hrs. O mais difícil da noite foi agüentar o barulho de um forró e música ao vivo que estava próximo dali e que só foi terminar por volta das 02:00 hrs da manhã.
No dia seguinte o Wilinha seguiu com um amigo dele para levar um grupo de turistas a uma cachoeira próxima e eu e a Márcia fomos para a Praia da Lage onde ficamos até as 11:30 hrs. Nessa praia quando estávamos atravessando o costão, uma onda muito forte (era a ressaca do ciclone que estava chegando) molhou a câmera fotográfica e dali em diante não pude tirar nenhuma outra foto. De volta ao camping arrumamos nossas coisas e seguimos para a frente do Restaurante do Beto de onde o barco iria sair. O barco na verdade é uma voadeira e só estávamos eu, a Márcia, o Wilinha, o Beto, um amigo e o filho dele. A travessia de Marujá até Cananéia levou cerca de 50 minutos e o visual é lindo (vários outros pequenos canais vão aparecendo ao longo do trecho e tivemos a oportunidade de ver várias vezes golfinhos, tanto no canal quanto na chegada em Cananéia, onde aportamos pouco antes das 15:30 hrs).
Agora era comprar as passagens para São Paulo no horário da 16:30 hrs o que não foi difícil, já que o ônibus estava relativamente vazio. O problema foi que ao longo do percurso por onde ele passava foi parando várias vezes para pegar passageiros e quando chegamos em Registro, encontramos um outro onibus que estava saindo em direção a São Paulo e tinhamos a informação de que esse outro onibus iria chegar mais cedo em Sampa, então não pensamos 2x – trocamos de ônibus na hora e sem pagar nada a mais por isso, chegando no Terminal Barra Funda pouco depois das 22:30 hrs. Texto e fotos do Augusto – AGSTS