O que isso tem a ver com o montanhismo e escalada? Vou explicar.
Eu sei que muita gente que escala odeia futebol, mas calma, vou exprimir minhas idéias usando futebol como exemplo.
EU já fui uma das pessoas que odiava futebol. Com o tempo aprendi a gostar, mas refletindo sobre aquele meu sentimento no passado acho que o ódio que eu tinha não era com o jogo, mas sim da exploração massiva do futebol invadindo meu dia a dia sem que eu quisesse.
Isso já faz muito tempo, na época que eu era criança e gostava de ver desenhos animados na TV. Entretanto nos fins de semana era a coisa mais chata ter, obrigatoriamente, que ver o jogo. Copa do mundo? Era para mim a maior tortura. Todo mundo só falava daquilo e não havia outro assunto.
De fato o gosto popular do brasileiro é limitado. Se você assistiu a última rodada do futebol de domingo e viu o último episódio da novela, pronto, já tem assunto pra falar com 99% das pessoas que vivem no Brasil.
A fórmula de sucesso da TV brasileira é muito simples. Passamos aquilo que o povo quer. É por isso que emissoras de muita qualidade, como a TV Cultura, nunca emplacou e por isso que a Globo é um império da mídia.
Essa fórmula simples de sucesso é o antagonismo da inovação. Enche-se o público daquilo que ele já conhece, por que ele já conhece e por isso é garantido. Isso significa um retrocesso, uma involução e só dá certo por que a mídia é que faz a notícia e não o contrário. Quer um exemplo? O jogo do Corinthians.
Odeio falar mal do meu time, mas quem é dono da bola é o Fluminense. Ele chegou na final da Libertadores, o Corinthians, por sua incompetência caiu pra segundona. Mas isso não quer dizer nada pro império da mídia. Vamos passar o jogo do Corinthians, aliás, sempre deu certo e agora, por que não vai dar de novo? Enquanto isso o melhor ganha, mas coroa-se o pior.
Novamente, o que isso tem a ver com a escalada?
Vocês já ouviram falar no Maximo Kausch, Nikola Martinez, Edmilson Padilha, Élcio Douglas, Felipe Camargo, André Berezowski, César Grosso, Flávio Daflon, Antonio Paulo Faria, Valdesir Machado, Bonga, Janine Cardoso, Ana Eliza, Irivan Burda? Alguns nomes são mais conhecidos do que outros, em comum é que estes são nomes de alguns dos melhores escaladores/montanhistas deste país da atualidade. Alguns são figurinhas das antigas e outros ainda têm muita estrada pela frente, estão percorrendo este caminho que foi traçado por pouquíssimas pessoas, mas ainda não encontraram seu lugar no sol.
Aposto que essas pessoas que eu falei (tem muito mais gente, me desculpem pela memória) têm muita história interessante para contar. Eles foram atores de grandes conquistas no esporte do Brasil, mas são vítimas da teoria da “involução” onde premia-se o comum, ou quando não o mais fraco, em detrimento de quem realmente tem grandes méritos. Viva os rapeleiros!
Lembro-me de quando o Makoto Ishibe voltou de sua escalada no Cerro Torre e ninguém ficou sabendo. Em sua cidade natal, Sorocaba, nem sequer uma notinha no jornal foi publicada. Acho que esta mentalidade é o que mais dificulta o crescimento, em qualidade, da escalada brasileira. Se vivemos na era da informação, estar desta maneira no ostracismo dos acontecimentos quer dizer que, de certa maneira, não existimos.
Não quero dizer que nós escaladores somos pobres coitados, injustiçados não sei por quem. Entretanto se um time da segunda passa na frente do finalista da competição continental do “nada”, algo por trás existe e esses interesses políticos que fabricam a realidade é a pura e simples coroação dos piores.
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