Livra-me, ó Senhor!

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“Livra-me dos chatos e Te agradecerei, ó Senhor. Rouba-me o dinheiro, enterra-me em cada dedo a Tua unha encravada, mata-me de morte lenta e dolorosa, mas livra-me dos chatos. Há chatos demais, Senhor, nesta Tua cidade. De piolhos cobre-me a cabeça, esconde o meu óculo, Senhor, mas livra-me dos chatos.” (Mistérios de Curitiba)

Antenas, cruzes e casas, alguns querem tirá-las, outros querem deixá-las, e tem, ainda, os que discutem se a palavra deve ser “tirar” ou “remover”.


Continuamos a virar as páginas dos antigos livros.


Alguns dizem que hoje somos mais livres e que podemos criticá-los.


Alias, somos tão livres para dizermos tudo o que queremos, pois tudo o que falamos é tão pouco para mudar o que somos.


E mudando o que nunca chegamos a ser, continuamos sendo apenas o que sempre fomos.


Ser, nada mais é que ser infinitamente a mesma coisa, tantas vezes que um dia não mais é possível perceber o ser do não-ser, e, enfim, somos … somos outra coisa.


Tudo é justificável, logo basta escolhermos nossa posição, a fundamentação é inútil, é passatempo, é, apenas, aquilo que somos, um ser não ser, um ser sendo o que não era, ou absolutamente nada.


Assim, após mais um devaneio inútil como todos os que assolam as tão nobres discussões montanhísticas, concluo com um trecho do contista curitibano Dalton Trevisan:


“Livra-me dos chatos e Te agradecerei, ó Senhor. Rouba-me o dinheiro, enterra-me em cada dedo a Tua unha encravada, mata-me de morte lenta e dolorosa, mas livra-me dos chatos. Há chatos demais, Senhor, nesta Tua cidade. De piolhos cobre-me a cabeça, esconde o meu óculo, Senhor, mas livra-me dos chatos.” (Mistérios de Curitiba)

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