Por Pedro Hauck
O governo federal lançou no dia 13 de Setembro, em cerimônia na cidade de Petrópolis (RJ), o programa Turismo nos Parques. Estiveram no evento o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc e o ministro interino do Turismo, Luiz Barreto.
O objetivo do programa é aumentar a visitação nos parques nacionais, unidades de conservação gerenciadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Para tanto, serão destinados R$ 28 milhões para seis unidades de conservação: Parque Nacional de Aparados da Serra (SC/RS), da Chapada dos Veadeiros (GO), dos Lençóis Maranhenses (MA), da Serra dos Órgãos (RJ), do Jaú (AM) e da Serra da Capivara (PI).
Segundo o presidente do Instituto Chico Mendes, Rômulo Mello, este dinheiro será investido na infra-estrutura do entorno dos parques para possibilitar hospedagem e melhorias nas condições de acessibilidade.
No evento realizado em Petrópolis, Lula citou o caso dos Parques Nacionais do Iguaçu (PR) e da Floresta da Tijuca no Rio como exemplos, usando dados de que os dois respondiam por 90% das visitações em parques nacionais no Brasil. Será que está correta sua convicção de que estes parques acertaram suas políticas de preservação e visitação? Será o modelo destes parques o ideal para se adotar nos outros parques brasileiros?
O Parque Nacional da Tijuca está encravado no meio da cidade do Rio de Janeiro, no maciço montanhoso que empresta o nome ao parque. Nele há grandes atrações, como por exemplo, o maior símbolo da cidade, o Cristo Redentor. O fácil acesso, na cidade mais turística do Brasil, faz com que Parque da Tijuca seja bastante freqüentado. Mesmo tendo a importância de ser o maior parque urbano do mundo, , os problemas do PNT são proporcionais à sua significância para o Rio de Janeiro.
Avanço de moradias, tanto de favelas quanto de condomínios de luxo e a violência nas trilhas são os problemas do parque e são de difícil solução, pois eles são reflexos do problema urbano do Rio de Janeiro. No PNT não há uma política pública para visitação eficiente e ao mesmo tempo preservação da natureza em um estilo “sustentável” como gostam de dizer os políticos. Ele simplesmente tem visitas, pois está inserido no meio da segunda maior cidade do país.
Já o Parque Nacional do Iguaçu é um caso de sucesso por outros motivos. As cataratas do Iguaçu são um símbolo do Brasil e de tão famosas, são capa de guias estrangeiros sobre a América do Sul, estando dentro de qualquer roteiro de turismo tradicional internacional. Ai é que reside o problema: a palavra “tradicional”.
O Parque do Iguaçu, mesmo sendo um parque e tendo como atrativo um elemento natural, as cachoeiras, ele não pode ser considerado um turismo de aventura, que é o tipo de turismo que existe em Parque Nacional e por isso não pode servir de exemplo para o desenvolvimento econômico das nossas Unidades de Conservação.
O turismo desenvolvido no interior do Parque Nacional do Iguaçu é o turismo contemplativo. Se resume praticamente em ir para o parque, permanecer um tempo para ver as cachoeiras, comprar um souvenir e ir embora depois de tirar as fotos. Quem tem dinheiro fica no hotel de luxo situado em seu interior e vai de barco até a Garganta do Diabo. As atividades dentro de um parque que tem 185.262,2 hectares de matas se resumem em ver as cachoeiras. No resto, tudo é proibido!
A fórmula de sucesso de Iguaçu é fácil. Ele já tem uma fama imensa e nem precisa fazer propaganda do que ele é. Depois, ele tem desenvolvido um tipo de turismo de massa e seletivo, pois só usufrui dele quem tem muito o que gastar e esse uso não é de sua natureza, esta é apenas um pano de fundo para um hotel de luxo.
Nós do Altamontanha, que temos conhecimento de ter visitado outros parques estrangeiros que dão certo e que estão em países muito mais pobres que o Brasil, pudemos resumir que aqui, tirando estes dois parques citados, eles têm suas principais atrações proibidas, estão cheios de problemas ambientais e ainda dão prejuízo…
Entendemos que no interior de um parque, atividades como camping, escalada, caminhada, devem ser contempladas e acreditamos que para os parques derem certo não é preciso mega investimentos. Não precisamos de hotéis de luxo e sim uma infra-estrutura para que o camping e estas outras atividades não sejam impactantes.
O maior problema dos Parques Nacionais do Brasil é a má vontade, pois não falta dinheiro para gerí-los, já que eles próprios gerariam receita, se existissem vantagens em freqüentá-los pela porta da frente. Infelizmente a mentalidade que existe é a que sempre é mais fácil proibir do que trabalhar em regramentos, aplicação e fiscalização. Nos últimos anos as restrições foram progressivas, elas foram sempre assuntos em pauta aqui no site.
Existe um entendimento, não explicito em documentos, , que o melhor visitante é aquele que não visita. E se visita tem que contratar alguém da comunidade para arrancar o dinheiro e vigiá-lo. Infelizmente o que vimos na reunião de Petrópolis foi a consumação deste modelo.