O texto é fluente e bem organizado, mistura escaladas de uma tarde e expedições de um mês com a vida familiar e a amorosa. Relata também a luta da mãe contra o câncer, mas tudo isto de forma superficial, sem emoções e principalmente sem paixão.
Das escaladas haveria muito a se falar, mesmo não sendo nenhum Cerro Torre, mas tudo se perde numa visão de turista sendo conduzida no meio da cordada até algum mirante e dos clubes fica aquela imagem clássica de escoteiros sem uniforme. Os amores nascem insossos e morrem por inanição, sem emoção e nem razão, até mesmo a agonia e morte da mãe é tratada de forma tranqüila e submissa.
A história mostra a personagem/autora sempre muito confortável num segundo plano onde o máximo que faz é provocar de forma indireta a ação que depois participa como coadjuvante até que no último capítulo decide verdadeiramente tomar as rédeas de sua própria vida e de fato pela primeira vez guia uma via com um lance de 3º grau na Agulhinha da Gávea.
Confira:
“A facilidade ficara para trás. Diante de nós, agora a pedra se erguia abrupta em uma parede que pedia reverencia e contava uma história de trágicas lembranças.
– Tem certeza que deseja guiar? Não está em sua melhor forma, além do mais, não escala há alguns meses. E…- ele parou por instantes – logo neste lance?!
– Lá se vão muitos anos… Aqui, eu quase perdi minha vida. Agora chegou o momento. – Coloquei-me diante da rocha já a aprumar-me. – Sinto muito, mas eu vou! Atente à segurança!
– Mas você está trêmula! Volte!!!
Fingi não ouvir o que ele me dizia e elevei-me poucos metros com vagar, já tateando as agarras. Precisava concentrar-me, mas a minha mente estava longe, com a vida a passar como um filme veloz. Imagens de uma menina perdida, com medo da noite, esperando por seus pais, e do irmão morto, e da avó que se ia para sempre…
– Preste atenção! Está indo na direção errada! – ele alertava-me aos gritos.”
Criatividade, pesquisa e precisão histórica já no primeiro parágrafo:
“Quando, certa vez, indagado sobre a razão de escalar montanhas, o grande alpinista francês Lionel Terray, sem hesitar, respondeu: “Porque elas estão lá.”