A Coluna sob Ataque

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Meu último texto postado, um simples relato da travessia da Serra dos Órgãos que escrevi em 2002, tinha por objetivo apenas dialogar com o texto também recém postado do Marcelo Brotto e oferecer aos leitores duas visões do mesmo trajeto. Mas não foi isto que se viu e sofri um ataque virulento de 8 internautas (desconsiderando os IPs repetidos) que prontamente receberam combate de outras pessoas mais sensatas. Vírus x Anticorpos e a confusão estava formada para delícia dos detratores.


Usando a velha estratégia de pinçar palavras ou frases do texto e nelas inserir seu próprio veneno (artifício já descrito nos evangelhos para crucificar o Cristo). Vestiram a expressão “nativo de pele escura” de significados que só faz sentido para suas mentes doentias, insinuando talvez que o autor tenha preferência por “estrangeiro de pele clara”. Como remédio indicaram-me o livro “No Caminho da Humanidade” de Airton Ortiz onde se afirma a recente descoberta que o homem apareceu na África e que toda humanidade evoluiu da raiz negra. Confesso que não preciso ler o livro para saber que neste milhão de anos as etnias negras não ficaram estacionadas pouco acima dos chipanzés e evoluíram conjuntamente com as brancas e amarelas.

Outro indignado me sugeriu a elegância da palavra Comunidade em substituição a Favela como se esta troca providenciasse água tratada, coleta de lixo e esgoto, escola pública, lazer e centro de saúde para a periferia do bairro do Bonfim nas proximidades da portaria do parque. Tem também aquele que acha necessário sabedoria superior para distinguir fezes humanas daquelas produzidas por animais. O mesmo afirma que as mulheres do interior são feias porque trabalham muito, ganham pouco e não tem tempo para se cuidar. Permito-me discordar; no interior há muitas mulheres lindas, também entre as que trabalham muito, ganham pouco e afirmo que todas arranjam um tempinho para se cuidar. O Bonfim não é exceção e apenas não tive a felicidade de vê-las naquela tarde.

E quanto ao medo de assalto na passagem pela favela! Imbecil seria eu em não ter medo de passear na Viera Souto ou na Paulista com uma Nikkon D300 no pescoço, então qual o problema de sentir o mesmo receio no Bonfim? E nem sob tortura da língua mãe o texto sugeriu que todos os locais sejam bêbados e bandidos. O autor afirmou sim que naquele bar havia várias pessoas embriagadas, algo bem natural de se encontrar num boteco em pleno domingo.

Esgotadas as primeiras calúnias, os agressores apelaram para o bairrismo mais deslavado. A máxima de que o patriotismo é a última trincheira do canalha nunca foi tão exata. O comentário inverte maldosamente o parágrafo referente ao bem humorado uso da gíria pelos Cariocas e sugere uma ofensa ao modo de falar, à paisagem, e até a gente do Rio de Janeiro incitando seus conterrâneos a uma reação aguerrida, ciente de que o assunto sempre levanta polêmica e põe mais lenha na fogueira da inquisição.

É interessante observar que o texto não faz qualquer comparação entre a gente e os costumes do Rio de Janeiro com outras regiões do Brasil, das montanhas muito menos até porque as montanhas que circundam a baía de Guanabara não encontram concorrência em nenhum local do planeta. Sua gente, na esmagadora maioria, é por demais hospitaleira, divertida e as mulheres muito bonitas, basta declarar que muito além de admirador sou casado há 30 anos com uma legítima Carioca do Botafogo.

A maldosa insinuação de que “Até onde sei, o Julio é considerado um montanhista” cai por si no vazio das idéias, porque também até onde sei não é necessário diploma ou atestado para isto. É montanhista quem se considera como tal, a exemplo de brasileiro, o é quem quer ser, independente de onde tenha nascido. Estando quase esgotada a discussão, mas não a má-fé e ainda insatisfeitos com os estragos avançam pelo pantanoso terreno da cizânia no intento de plantar intrigas internas entre os colunistas do site. A afirmação de que o colunista A ou B escreve melhor que o C é no mínimo patética, visto que é notória a qualidade dos textos e a riqueza de experiências transmitidas por todos eles, sem exceção.

Por fim agradeço aos milhares de leitores anônimos do Altamontanha e da minha coluna em particular pela compreensão e paciência que demonstraram neste episódio, aos inúmeros que vieram em meu socorro enviando seus comentários ou me incentivando por e-mail, peço também que me desculpem pelo ocorrido que espero nunca mais se repita. Vocês são muito importantes para mim e na próxima semana darei continuidade ao Petrópolis a Teresópolis 2002 com as partes 3 e 4.

Aproveito para reforçar que o site Altamontanha.com, tem por finalidade se transformar num canal de união entre todos os montanhistas de língua portuguesa (e dialetos aparentados) para disseminar suas experiências e incentivar novas e ousadas aventuras. Estamos criando um espaço livre e democrático onde entusiasticamente aceitamos a colaboração de todos os interessados em nos auxiliar nesta missão.

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Sobre o autor

Julio Cesar Fiori é Arquiteto e Urbanista formado pela PUC-PR em 1982 e pratica montanhismo desde 1980. Autor do livro "Caminhos Coloniais da Serra do Mar", é grande conhecedor das histórias e das montanhas do Paraná.

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