Texto: Pablo Pontoriero – Revista Kóoch, Argentina. Fotos: Pedro Hauck
Filosofar sobre temas de escalada não é algo que me agrada, e menos ainda neste caso. Mas creio que é mais forte a necessidade de informar sobre o problema que está acontecendo no Valle Encantado.
O Valle foi se tornando pouco a pouco ao longo dos últimos anos em um dos melhores lugares de escalada esportiva da América do Sul, motivo pelo qual verão após verão são cada vez mais os escaladores que se reúnem neste local para escalar tudo o que puderem. Chega gente de toda a Argentina, e muitos de fora (Chile, Brasil, Espanha, França, etc). Até aqui tudo bem, o que poderia ser melhor que um lugar assim? Se pode desfrutar de boas vias de qualidade em um entorno natural alucinante, de todos os níveis, compartilhar experiências com outros escaladores, e até de vez em quando ver alguma “estrela” do ambiente internacional (Chabot, Lindner, Iker Pou, F.Petit, etc) escalando nas vias. Parece ideal, porém…
Vamos para o lado negativo agora, o que me motiva a escrever estas linhas, é que o Valle esta perdendo grande parte de seu encanto, e embora esteja quase inconsciente, é por culpa nossa (os escaladores, me incluo e temos que incluir TODOS). Como pode ser que não cuidemos deste lugar?
Desde que o Valle começou a ser procurado para escalar, no início dos anos 90 (no entanto não se sabia na Argentina nem o que era a escalada esportiva!), é uma propriedade privada, que embora seja algo incrível que um lugar assim seja de alguém, isso é outra história.
Ao longo destes anos sempre foram passando diferentes donos (nunca os vimos, sempre tratamos com os administradores), mas os escaladores permaneciam. Dentro do mal que represente ser uma propriedade privada, tivemos sempre “a sorte” de que quase em todo momento foi permitida a passagem dos escaladores, às vezes mais regulamentado e às vezes menos, mas é nisto que temos que estar atentos. Existem coisas que são básicas, são questão de educação, ou de sentido comum (às vezes não tão comum!).
Tem algumas coisas que te podem proibir ou pedir que não faça por alguma razão em especial (acampar, fazer fogo, etc). Mas jogar lixo, cortar arbustos verdes ou deixar papel higiênico jogado em qualquer lugar. Faz falta que venha alguém para dizer que isso está errado? Quem que gosta de ir escalar e encontrar lixo na base da via? Não se pode realmente entender que a comunidade de escaladores seja tão estúpida de não cuidar do que tem.
Sempre é fácil se queixar quando não nos deixam entrar em um lugar para escalar, coisa que lamentavelmente aconteceu e ainda acontece em vários lugares da Argentina, mas neste caso em particular, se vem o administrador do Valle e nos diz que não quer saber de mais nada com os escaladores porque são uns sujismundos e desrespeitosos, a única coisa que lhe podemos dizer é que tem razão. As provas estão aí para quem quiser ver.
A única coisa que se espera com esta nota é que se tome consciência da situação, e se encontrar alguém fazendo algo errado em uma área de escalada, que alerte e se coloque a disposição de cuidar do lugar, que possui um dono, mas que é utilizado por todos. Todos podemos cuidar para continuar desfrutando ou todos podemos abandonar e perder. Quando um escalador faz algo errado, entramos todos os demais escaladores no mesmo saco. Como diz a Bersuit: “podemos ser o melhor e também o pior com a mesma facilidade ”.
Passaremos a limpo as normas do Valle.
1) NÃO SE PODE ACAMPAR. Claro como água. Nem cruzando, nem adiante, o lugar mais próximo para acampar é Confluencia.
2) NÃO FAZER FOGO!!!
3) NÃO JOGAR LIXO, levar de volta para a cidade.
4) NÃO CORTAR ÁRVORES NEM ARBUSTOS. É também importante evitar caminhar por qualquer lugar, o que destrói o terreno e gera novas trilhas, usem as que já estão marcadas.
5) QUANDO FOREM AO “BANHEIRO”, FAZER UM BURACO de 20 cm.
6) RESPEITAR A NATUREZA E OS DEMAIS ESCALADORES QUE QUEREM DESFRUTAR DO LUGAR. (não gritar).