Acabei de passar por um período propício pra me enfiar no mato, parei de trabalhar no dia 23 DEZ 2008 e só voltei no dia 05 JAN 2009. Doze dias consecutivos de folga! Meu primeiro pensamento foi “PETAR, depois Caparaó!”. Não aconteceu, o PETAR por causa da dificuldade de visita-lo sem um carro, e o Caparaó por causa das chuvas de verão. É esta época do ano que eu detesto, até mesmo escrever o nome me irrita: VERÃO.
Chuva, muita chuva pra todo lado. Eu olhava o climatempo diariamente e a impressão que se tem é que o site não foi atualizado. Chuva todo dia, em qualquer cidade que eu pesquisava o resultado era chuva.
Então pensei comigo mesmo: “fuck it!”. Apesar da previsão de um tímido sol pela manhã, muitas nuvens e pancadas de chuva a tarde e a noite, decidi ir pois a minha necessidade de deixar a cidade de pedra e sentir o ar da montanha já era incalculável.
O relato então, desta vez, toma um rumo diferente dos que sempre escrevi, segue como um diário escrito sob chuva forte entre 03:00h e 04:00h da manha de 10JAN2009.
“Acordei agora com barulhos de super gotas de chuva atingindo minha barraca, aliás, que estava inativa desde julho do ano passado quando estive na Pedra da Mina. De lá pra cá foram muitos bivaques e dormidas em barracas que não eram minhas (uma do Pedro Hauck e uma do Edson Vandeira). Decidi assim porque a minha barraca não é lá das boas, é uma Ozqrk Trail para 4 pessoas. Boa sustentação com 4 varetas, muito espaço, porém só aguenta 600mm de chuva. Too bad! Comprei essa barraca em 2005 eu acho…Já preciso trocar faz tempo.
A previsão era de chuva mesmo, então pensei que pegaria chuva sim, mas não como no perrengue que passei com o Pedro no Camapuan…
Por essa eu não esperava…A viagem pra vir foi tão agradável! Passei na frente da represa de Joanópolis, que só vi quando subi o Pico do Lopo meio ano atrás. Mais ainda, vi o Pico do Lopo da estrada de outro ângulo portanto, ele fica completamente diferente!
Deu tudo certo, consegui pegar um ônibus em bom horário, quando o motorista fez a parada em Extrema fui ao guichê da empresa e pedi que ligassem para Camanducaia pra pedir pro motorista do último ônibus pra Monte Verde que me esperasse, mas não tinha esperança que desse certo. Acontece que ao chegar em Camanducaia, o ônibus estacionou e a sua frente o outro motorista me esperava, veio até mim e perguntou “você é o Paulo que está vindo de São Paulo?”. Eu amo o interior mineiro ahahahahahha, tudo é possível! Tudo é mais pessoal…
Estrada acima. Isso mesmo, Monte Verde, meu destino tempestuoso desta empreitada. Aqui, deitado no meu saco de dormir, só consigo me lembrar do relato que li no altamontanha de uma travessia no Marins que acabou mal, transformando-se em uma verdadeira saga montanhistica, como ri lendo aquele relato…
Só não esperava que teria uma experiência similar. Estou tendo! Estou dentro da minha barraca, recebendo gotejos oportunistas de chuva gelada que aproveitaram o descanso de algumas partes da barraca que simplesmente desistiram de trabalhar…Se estivesse frio pelo menos seria mais interessante, mas a temperatura é de confortáveis 10°C.
As duas últimas horas foram tensas. Fui acordado com o barulho da chuva, e logo começaram os raios. A noite virava dia por um ou dois segundos quando caíam os raios, e muitos raios! Acho que um por minuto. Consegui inclusive filmar por dentro da barraca alguns clarões. Tudo bem, já entendi o poder deles, mas as vezes acho que pensam que eu não entendi o recado, iluminam tanto que o trovão faz o chão tremer sob meu isolante!
Por alguns minutos senti aquela sensação de estar no campo de queda de raio, meus pelos do corpo se arrepiaram, e vi um clarão bem perto. Mas não me preocupo muito porque eu estou em uma rua, de fato o último trecho da última rua residencial na subida da rua do Bradesco. Mas, há muitas partes mais altas do que eu inclusive postes atrás de minha barraca, acho improvável ser atingido. Mas, assustado!
A sensação não durou muito, mas estou encolhido no meu saco e espero passar. Não posso reclamar de nada pois escolhi assim.
Acampado na terra da rua a 1.670 msnm, espero pacientemente pelo amanhecer, e por uma chance de atingir meus objetivos…Vou dormir!”
E assim foi, nessa hora parei de escrever e dormi por puro sono incontrolável!
Pela manhã o tempo estava consideravelmente melhor, sem raios e sem chuva. Desmontei o acampamento e tomei meu rumo.
Passei pela caixa d´água e entrei na trilha. Acho que é a trilha mais definida em que estive, em alguns pontos é tão limpa e aberta que dá uns 2 metros de largura. Não há como se perder lá.
Em meia hora cheguei ao mirante a 1.800 msnm com uma bela vista, tirei duas ou três fotos e segui, e com mais vinte minutos estava no platô que é uma das atrações turísticas da cidade, a 1.900 msnm. Mas, não estava só! Haviam 4 cavalos lá pastando…Totalmente libertos, sem nenhuma marcação de dono, bem alimentados, e sem ferraduras. Será que são livres mesmo? Não sei…mas consegui tirar foto deles!
Segui rumo para o Chapéu do Bispo, e no caminho antes mesmo de sair do Platô avistei dois gaviões lindos na outra extremidade…Tirei uma foto mas estava muito distante, e o zoom da minha máquina não é nada profissional…Ao tentar me aproximar mais, eles foram embora…Perdi a oportunidade.
Pouco mais a frente, um sapo bem grande cruzou meu caminho na trilha, esse sim consegui fotografar! Segui caminho…
Na hora que cheguei ao Chapéu do Bispo a chuva recomeçou a todo vapor…Quando cheguei no cume tirei uma única foto da vista (dá pra ver uma pequena cachoeira na elevação logo ao lado) mas só isso, fiquei com medo de estragar a máquina e nada mais de fotos até entrar na mata novamente.
Ainda pensei “acho que dá pra chegar ao Selado”, mas depois de meia hora a chuva apertou mais um pouco e desisti. Prudência é uma característica extremamente necessária em montanha, em especial em uma que tem muita afinidade com descargas elétricas. Virei as costas e comecei a descer.
Na metade do caminho eu já estava no estágio três de molhado, completamente submerso em lama nas botas, água de chuva com suor nas pernas (o que me rendeu assaduras terríveis) e suor caindo na vista. Fazia calor, cerca de 20°C.
A descida foi mais complicada porque a trilha estava bem molhada e com pequenos riachos se formando, e com 20kg nas costas não dá pra se apressar. Fui a metade da velocidade o que transformou a descida em intermináveis quase 3 horas.
Finalmente cheguei a saída da trilha, meio triste por ter que “arremeter” do meu objetivo, mas feliz por ter conhecido a Serra e por ter sorte de tirar fotos de animais livres bem próximos a uma pequena e charmosa cidade que é Monte Verde. Voltei pra cidade e mesmo sujo, consegui entrar em um restaurante e pedi uma picanha (mais do que merecida) pra matar a fome. Após comer fui dar uma volta na cidade, comprei lembranças pra Lili (Primeira Dama) e pra Oma (Avó dela) e uma camiseta pra mim. Depois disso tudo ainda parei em uma lan house pra matar o tempo e esperar o próximo ônibus pra Camanducaia.
Ele chegou com um pequeno atraso, peguei e cheguei na cidade após 40 minutos. Lá peguei o último carro do dia pra São Paulo e às 19:00h de sábado já estava de volta.
Não acho que a viagem foi perdida, pelo menos subi duas montanhas, apreciei a vista de um mirante, montei minha barraca que estava ociosa ha bons 7 meses, respirei o ar da montanha, tirei fotos de animais selvagens e deixei um pouco a cidade caos.
A propósito, MVMM significa Monte Verde Muito Molhada!
Para saber mais, visite o blog Diário de Bordo Parafes