Seis semanas sobre o gelo perpétuo. Temperaturas abaixo dos -50º, cruéis tormentas que surpreendiam. Só auxiliados pela roupa, um sacode dormir e uma barraca, os Huber, agora acompanhados de um dos alpinistas mais completos do velho continente, Stephan Siegrist, voltam a romper os limites de sua própria imaginação, chegando a escalar 750 metros de granito vertical em circunstâncias que para muitos já pareceriam aventura suficiente.
Os irmãos de Berchtesgaden (Alemanha) e o suiço Siegrist viajaram até os gelos penitentes da Dronning Maud Land (Queen Maud Land), até onde foram acompanhados pela câmera de Max Reichel, que se encarregou de documentar em primeira mão esta expedição extrema. Como não ocorre em nenhum outro lugar da Antártida, a equipe escolheu as formações rochosas que brotam do gélido escudo da Reina Maud. Estas torres atravessam como mísseis o kilômetro de gelo sobre o qual se encaminharam os Huber, criando uma única e espetacular cadeia, aparentemente interminável dentro do grande e desértico glaciar.
As mais altas e espetaculares montanhas superam os 2.500 metros. O Ulvetanna, uma montanha de alta dificuldade (e isso que se está falando dos Huber, especialistas em dificuldade extrema), chega aos 2.931 metros. A fina torre do Holtanna se eleva até os 2.650 metros e sua face oeste é uma das mais exigentes da Antártida.
A parte do impressionante Ulvetanna, os três alpinistas foram seduzidospela anteriormente mencionada vertente do Holtanna, um big wall de 750 metros verticais sobre a escassa rocha que permite a Antártida. Em menos de seis semanas, a equipe deveria concretizar suas ambições e só contavam com assugestões de outros expedicionários antárticos: “a escalada livre nestas temperaturas não é atualmente imaginável”. Mas sonhar para os Huber não é mais que seguir adiante, um passo após o outro, uma agarra após a outra. O trio superou os 750 metros da face oeste, embora se vissem obrigados a, em parte, escutar os conselhos prévios da viagem. “Fazia muito, muito frio”, comentou Thomas Huber. A rota que abriam seria batizada como Eiszeit (Idade do Gelo), estabelecendo 24 novas cordadas com dificuldades em livre de até 6b e passagens artificiais de A4.
Somente uma semana depois, os três alpinistas se sentiam preparados para enfrentar a ascensãodo North Buttres do Holtanna, “encontrando dificuldade moderada”.
Ainda faltava uma grande meta aos “incansáveis” Huber. “Antes do final de nossa expedição à Antártida, desfrutamos da sorte de uma janela de bom tempo”, recordaram os irmãos, que aproveitaram os dois dias seguintes para abrir uma via de 6c e A2, que leva o nome de Sound of Silence, na West Buttres. “Foi provavelmente nossa expedição mais incrível até hoje”.
Não puderam, entretanto, voltar para casa com todos seus projetos completos. A ascensão inteiramente em livre de uma grande rota na Antártida se tornou (com os habituais -20º) numa meta “virtualmente impossível”. “Tentamos de tudo, demos o melhor de nós e voltamos felizes”, concluiram os irmãos Huber. O documentário sobre sua expedição, produzido por Max Reichel, logo será divulgado.
Ascensões: ,
Ulvetanna, terceira ascensão e primeira pela West Buttres: Sound of silence (6c, A2, 850 metros, 60º em neve, 20 cordadas)
Holtanna, terceira ascensão, primeira da face oeste: Eiszeit (6b, A4, 750 metros, 24 cordadas)
Holtanna, quarta ascensão e primeira em livre, pela North Butres: Skywalk (6a, 450 metros, 10 cordadas).
Texto traduzido da Desnivel – Espanha