É de Lascar!

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Após obter sucesso na minha primeira investida das ferias, mandei ver uma nova investida apenas 30 horas após a primeira. Só tive um dia de descanso e hoje de manhã deixei o albergue as 04:00h.


A investida de hoje foi o vulcão Lascar, o mais ativo ao norte do Chile, com 5.592 msnm.

Novamente combinei com o guia que começaríamos a subida um pouco mais abaixo. Hoje começamos a 4.400 metros de altitude, logo após a laguna Lejia, que estava parcialmente congelada. Fazia -4 graus quando chegamos lá e bebemos um chá de coca antes de subir…

Começamos a subida sem nenhum problema. Dessa vez somente eu e o guia. Lentamente avançamos, ganhando altitude pela parede sul do vulcão, a mais fria.

Uma hora e meia apenas após o início da subida estávamos a 4.975 metros, e apesar de andarmos bem lentamente, desenvolvemos bem porque a inclinação é de cerca de 35 a 40 graus, apesar do caminho ser em rochas vulcânicas soltas… isso significa dois passos para frente, um para trás. Putz…

Mas a minha determinação estava muito boa, e não vacilei a nenhum momento. Não há muito a dizer… após 4 horas chegamos à cratera do vulcão, que fica a 5.500 metros de altitude. Um absurdo… Lindo demais, um cheiro de enxofre fortíssimo, muitas fumarolas. O guia me explicou que a paisagem da cratera modifica toda semana, pois ele está bastante ativo e uma erupção pode ocorrer a qualquer momento. Não pude ver o magma, mas vi o inferno de lá! É sensacional, uma cratera que nem é das grandes, mas tem 500 metros de largura e 400 de profundidade. Sem palavras.

Ai começou a dificuldade. Subimos o tempo todo com temperatura negativa, pois o tempo estava nublado, incrível! No Atacama são mais de 320 dias de puro sol por ano, e hoje estava completamente fechado o tempo, nem era possível ver o vizinho, o vulcão Águas Calientes (AKA: Simba) e seus lindos 5.924 metros! Nem era possível ver o Chiliques com seus imponentes 5.778 metros, logo atrás da laguna.

Por alguns momentos, uma leve neve caiu. Porém os flocos eram tão pequenos que não foi possível fotografar, nem tampouco filmar, mas isso me deu uma energia extra! he he he

Enfim, a parte final e o problema. A inclinação aumenta e o ar contaminado com gases tóxicos piora a situação. Não são tóxicos de imediato, mas a longo prazo não sei não hein…podem causar sérios problemas respiratórios ou até mesmo a morte.

O lance é que o oxigênio já e pouquíssimo, e além disso fiquei inalando aquele vapor do inferno após os 5.300 metros. A respiração piorou consideravelmente.

O Christian (guia) me perguntou se eu estava bem para ir até o cume, e claro que eu disse que sim! E estava mesmo!

Esses últimos 92 metros foram os piores de minha vida. Fora de série. Tinha que fazer uma força tremenda para me manter em pé, frente aos ventos de (sem exagero) uns 50 km/h. Isso fez com que a sensação térmica piorasse ainda mais as coisas. O enxofre, fumarolas, inclinação… faltava o quê? Nada!

Cheguei. O cume é exposto demais, o vento aumentou mais ainda, a temperatura no cume era de -4 graus, mas a sensação térmica de no mínimo -15 graus. MUITO FRIO. Ok, não para por ai. É normal no Atacama termos uma secreção constante das narinas porque o ar aqui é tão seco, que provoca irritações respiratórias incríveis. Eu tinha uma linha de muco descendo, quando cheguei ao cume ela congelou em um minuto e me queimou a “zona bigodal”. Pra melhorar as coisas, meus lábios também foram queimados pelo frio. Quase que instantaneamente.

Putz… rs

Mas tudo bem, isso é só um problema de junta.

Cume conquistado em pouco menos de 5 horas, desnível total de 1100 metros aproximadamente.

Vulcão Lascar, mais ativo do norte do Chile
132 km de San Pedro de Atacama
5.592 msnm
Temperatura no cume sem vento: -4 graus, Com vento: cerca de -15 graus Celsius.

11.196 metros concluídos! Todas as minhas conquistas são dedicadas a minha mãe (in memoriam).

Abraços a todos!

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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