Piotr Morawski

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Estava a trabalhar quando recebi a notícia por “chat”. Apesar de imediatamente perceber que era verdade, não consegui evitar a pergunta “Are you joking? You must be joking”


Não me conformo, não quero acreditar!

Por algumas horas pesquisei na net “Piotr Dhaulagiri”. Só por força de ver repetidamente a mesma notícia, é que fui obrigada a admitir que não vou ver mais o sorriso de Piotr (que estava a contar ver este ano algures no Paquistão), a não ser nos meandros das minhas recordações.

O verão passado, eu e o Paulo Roxo tivemos a sorte de partilhar o campo base nos Gasherbrum’s com o Piotr Morawski e o Peter Hamor.

Esta dupla, para além de serem excelentes alpinistas, mostraram ser excelentes pessoas.

Recordo-me das trocas de divertidos SMS ao longo da expedição, do bom espírito com que se mantiveram nos duros dias de mau tempo algures no Gasherbrum I, quando estavam num ponto em que descer já não constituía opção.

Soubemos assim, que aqueles dois passaram por um momento de desespero, quando consumiram as ultimas reservas de tabaco de enrolar que levaram para altitude. Salvou-os uma brilhante ideia (ainda hoje não sei de qual dos dois surgiu…não diziam no SMS!), a de fumar as ervas da preciosa bebida que na montanha nos salva a todos da desidratação: chá! A eles, salvou-os de um ocasional ataque de ansiedade.

Piotr… Piotrek para os amigos era quem, pelas noites de campo base discutia os fenómenos de várias religiões com o nosso oficial de ligação.

Era quem nos surpreendia com os conhecimentos que tinha sobre os mais variados assuntos.

Era quem contava as piadas mais risonhas e as aventuras de montanha mais arrojadas, de uma forma tão humilde, que éramos obrigados a lembrar-nos que aquelas aventuras não eram para qualquer um (face norte do K2 invernal?!).

Era quem muito nos fazia sorrir, e quem nos oferecia a tempo inteiro o seu sorriso bonito.

No diário de expedição, estas foram as primeiras palavras que escrevi sobre Piotr: “Piotr é alto e bem constituído. O seu sorriso intenso, algo infantil, transmite a ideia de pessoa feliz. De trato fácil e agradável, faz prever que será bom companheiro de viagem”

De facto, a primeira impressão não enganou, ou melhor, enganou ligeiramente porque descobri uma pessoa melhor do que inicialmente imaginei.

O mundo perdeu um grande alpinista, mas acima de tudo, um grande ser humano.

Tive vontade de escrever algo ontem, ou dizer mais de Piotr neste texto, mas não consegui, o pensamento mais forte, que não consigo abandonar é simplesmente este: não é justo.


Daniela Teixeira, colunista do Altamontanha é escaladora e montanhista de Portugal. Conta com o apoio de Rab, Pod sacs, Faders, Edelweiss, Princeton Tec e Espaços Naturais.

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Sobre o autor

Daniela Teixeira e Paulo Roxo é uma dupla portuguesa que pratica escalada (rocha, gelo e mista) e alpinismo. O que mais gostam? Explorar, abrir vias! A Daniela tem cerca de 10 anos de experiência nestas andanças e o Paulo cerca de 25. A sua melhor aventura juntos foi em 2010, onde na cordilheira de Garhwal (India - Himalaias), abriram uma via nova em estilo alpino puro na face norte da montanha Ekdante (6100m) e escalaram uma montanha virgem que nomearam de Kartik (5115m), também em estilo alpino puro. Daniela foi a primeira e única portuguesa a escalar um 8000 (Cho Oyu). O Paulo é o português com mais vias abertas (mais de 600 vias abertas, entre rocha, gelo e mistas). Daniela é geóloga e Paulo faz trabalhos verticais. Eles compartilham suas experiências do velho mundo e dos Himalaias no AltaMontanha.com desde 2008. Ambos também editam o blog Rocha Podre, Pedra Dura (rppd.blogspot.com.br)

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