GUARIPU: A OUTRA TRILHA DO OURO

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A Serra da Bocaina, porção generosa de mata atlântica localizada entre SP e RJ, sempre foi sinônimo de “Trilha do Ouro“. Porem, a idéia corrente disseminada pela mídia é q havia somente àquele caminho centenário. Errado. Na época colonial, a Bocaina era gde demais pra se resumir apenas a UM caminho, havia sim um emaranhado de caminhos (oficiais ou não) q alem de descer a serra, serviam de ligação entre as movimentadas cidades e vilarejos no auge do ciclo do Ouro. Um deles é a Trilha do Rio Guaripu, travessia de mais de 53km q em 3 dias percorre quase transversalmente à sua variante + famosa, sentido nordeste. Sai de Campos Novos de Cunha, atravessa a exuberante e intocada Mata Atlântica, cruza com o Mambucaba e conclui em Arapei.


UM DIA TODO ATE&nbsp, CAMPOS DE CUNHA
Saltamos em Guaratinguetá&nbsp, – eu e o Ronald – as 11:30, após 2hrs e meia de modorrenta viagem de sp. Seria um presságio da demorada trip q se seguiria depois? Tivéssemos saído antes… Bem, de Guará saímos às 13hrs p/ Cunha, e após quase 50km sacolejantes feitos no mais profundo sono, chegamos ao nosso destino às 14:30!! Lá fomos informados q o bus das 15:30 p/ Campos Novos não existia mais, apenas o das 18:30, inviável pq nos atrasaria demais. Podíamos ter ido de táxi/van, mas aí sairia $algado demais. Resultado: carona!

Assim sendo, pusemos as mochilas nas costas e iniciamos a pernada rumo à saída da pequena cidade, localizada num “corredor ecológico” formado pelo PN Serra da Bocaina e pelo PNE Serra do Mar repleto de atrações naturebas. Em menos de 10min já deixávamos os limites da mesma, pra ficarmos prostrados à beira do asfalto e tentar a sorte, afinal ainda tínhamos quase 30km ate Campos naquele dia!
Felizmente, as 15:30 conseguimos “carona-parcial” na caçamba de um caminhão, e os quase 18km q se seguiram, trepidantes e sinuosos através da morraria nos deu uma noção da grandiosidade da Bocaina.

Fomos deixados as 16:13 no meio do nada e de lugar nenhum, num pto perdido qq em meio a alguma fazenda. Mas a espera durou pouco: alem de recusarmos oferta de carona com a policia, uma perua escolar nos levou à tira-colo até nosso destino após deixar as ultimas crianças em “bairros” rurais enfiados no meio do nada. Nesse meio-termo, conversando com o jovem motorista soubemos de algumas particularidades de quem vive no marasmo daquela região, como o freqüente atropelamento de vacas à noite e da necessidade de ir ate Cunha fazer qq pagamento bancário.

Pisamos em Campos de Cunha – arraial minúsculo enfiado num vale – pontualmente as 17hrs, e já começamos a pernada sentido inicio da trilha, ou ao menos o mais próximo dela. Da pequena praça logo na entrada tomamos a estrada de terra com a sinalização “Cachoeira Mato Dentro”. Na próxima bifurcação, basta seguir o emplacamento “Bairro Serra do Indaiá – 8km”, ou tb a minúscula plaquinha nos postes indicando “pesqueiro”. Ou seja, quase sempre à direita. Assim sendo, vamos subindo e descendo suavemente estradas de terra, passando por algumas fazendinhas e propriedades, sob o olhar perplexo dos jovens locais, q parecem ter aposentado os cavalos e aderiram as facilidades de pagamento de uma boa moto pra circular pela região. De fato, aqui tem mais moto q cavalo.

Ao começar a subir um ombro de serra e notando a tarde chegar ao fim c/ o sol se pondo sobre as colinas, as 18hrs resolvemos acampar num enorme pasto no alto do morro, a beira da estrada. O frio chegou rapidamente, nos obrigando a encasularmos imediatamente, comer algo e cair no sono logo em seguida. A noite, porem, não fora tão fria conforme o previsto, mas foi iluminada com um céu coberto de estrelas. Dose apenas foi ter como companhia algumas vaquinhas pastando próximas e o barulho de motos da molecada “pé-verméio”, indo (ou voltando) de algum forró no arraial.

CHEGANDO NA CACHOEIRA DO VEADO (O ANIMAL)
Levantamos as 6hrs, assim q o sol começou a cobrir a morraria com cálidos raios naquela manha de sábado. Tomamos café, arrumamos as coisas e reiniciamos a pernada as 7:40. Novamente na estrada, agora começamos a descer a mesma sentindo o amplo e largo vale do Rio Moqueteiro, q aqui é quase um córrego estreito e sinuoso q cruzamos por precária ponte, pra logo acompanha-lo pela direita, em suave subida. Mais adiante, passamos pela escola Guabiroba, algumas cascatas ruidosas (formadas pela corredeira do rio) ate q alcançamos o inicio do Bairro do Indaiá, marcado por algumas casinhas, as 8:30. Nas bifurcações, basta tomar a estrada principal ou seguir as plaquinhas “pesqueiro”.

Estamos a 950m alt. O vale parece se afunilar, se estreitando cada vez mais a medida q subimos, ate q finalmente passamos pelo tributário q era o “pesqueiro” das placas. As 8:50 cruzamos a primeira (de muitas) porteiras do caminho, acompanhada de uma placa “Fazenda Indaiá”. Os morros anteriormente desnudos e cobertos de pasto agora estão forrados de densa mata q passa a nos acompanhar boa parte do trajeto. A estrada de terra torna-se mais precária a medida q subimos a íngreme encosta seguinte, com desnível de 150m! Mas qdo a subida termina, damos de cara com um discreto fio d´água q é a nascente do Rio Guaripu, as 9:20.

Aqui tb um marco de cimento reforça q estamos exatamente na divisa SP/RJ e em mais um pto de descanso, obvio. O caminho daqui é bem bonito: um largo vale q mais parece um corredor entre as montanhas, coberto de pastos, arbustos e salpicado de capões de araucárias, sem falar do sinuoso e calmo Rio Guaripu cortando aquilo td, sentido leste. Ainda acompanhando a precária estrada, alcançamos a Pousada Trilha do Ouro, uns tanques de trutas desativados, e finalmente a Pousada Barreirinha, as 10:08! Andamos uns minutos e, ao invés de atravessar uma pontezinha e continuar pela estrada, saímos antes da mesma tomando uma picada obvia pra direita! Inicio de trilha oficialmente as 10:20! Logo de cara, num amplo gramado fazemos uma pausa pra beliscar alguma coisa e descansar.

A trilha segue boa parte em descida, acompanhando um riachinho escondido – porem audível – à nossa esquerda, através de brejos, trechos enlameados-erodidos ou de pedras escorregadias. Sempre em meio à exuberante e densa mata! O rio parece se afastar, mas apenas por pouco tempo, pq logo depois ele passa a nos acompanhar novamente. Assim, sobe-se um pouco pra em seguida descermos durante um bom tempo. Eventualmente a mata se abre à nossa esquerda possibilitando avistar as famosas e belas cachoeiras do Guaripu, q eram audíveis de longe, e cujo acesso é por alguma picada q sai pela direita da trilha principal.

Após descer um tempão, saímos da mata ainda bordejando o rio. Aqui é a região da Paca, marcada por um tronco servindo de ponte à esquerda (q leva p/ casa do seu Jorge), mas nos seguimos pela trilha, sempre evidente, p/ nordeste. Entramos brevemente na mata pra sair noutro descampado, cobertos por densa floresta arbustiva de samambaias e, ao longe, por enormes palmeiras e araucárias. Novamente na mata fechada, agora subimos (sudeste) bravamente trechos bastante enlameados e escorregadios, ora nos afastando, ora nos aproximando do som do rio à nossa esquerda, lá embaixo. Alguns trechos estão tão enlameados q temos q contornar por dentro da mata mesmo! As 12:30, ao alcançar o alto da crista, buscamos um local seco pra descansar e lanchar alguma coisa, mas nosso merecido pit-stop é breve em função das vorazes mutucas q dominam o pedaço, nos obrigando a seguir em frente, a contragosto!

Iniciando a descida pro outro lado, é aqui q topamos com os restos do histórico calçamento colonial de pedras dispostas irregularmente. A descida, porem, é longa e demorada (desnível de quase 500m!), principalmente pela cautela, seja nos trechos chafurdados na lama, seja pelo cuidado em pisar nas escorregadias pedras do calcamento de pé-de-moleque repletos de musgo. Alguns trechos estão tão erodidos q se anda em meio a enormes&nbsp, (e escorregadias) valas na mata, formados pelo deslizamento das pedras, natural nas estradas em regiões de encostas úmidas. No caminho tivemos uma cena q poderia remeter facilmente ao passado dali: cruzamos c/ um grupo de cinco homens com antigas espingardas (caçadores!) e um cavalo portando enorme cesto de palha, o balaio, q ao invés de carregar ouro provavelmente levava algum mantimento (ou munição, vai saber!) Após rápida prosa continuamos nossa descida, passando por uma bem-vinda bica encravada na encosta esquerda.

Texto Jorge Soto / Fotos Ronald Colombini
Continua…

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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