UCs – Proibições

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Numa coluna recente fiz uma avaliação sincera e honesta do que encontrei na trilha que dá acesso ao Pico Paraná, noutra expus os nós que devem ser desatados para prosperar a iniciativa da FEPAM de aumentar sua representatividade e na última descrevi a montanha ideal sob o ponto de vista de alguns clubes de montanhismo. Nesta ilustro as razões para o montanhista não confiar nos poderes do Estado em resolver questões ambientais e o dever de avançar para além das proibições nas UCs.

Aqui mesmo, nos relatos do “Sua Aventura”encontramos inúmeros exemplos de montanhistas audazes que diblaram tais proibições e encontraram provas de crimes ambientais praticados debaixo dos bigodes das autoridades encarregadas de coibi-los, muitos patrocinados pelo próprio Estado. Situação que me leva a questionar se estas proibições não existem apenas para que tais crimes permaneçam ocultos da imprensa e desconhecidos da sociedade, ou numa hipótese mais branda para esconder a ineficiência dos órgãos de monitoramento.

O criminoso não preenche cadastro, o crime não respeita a lei. Apesar de óbvio muita gente, a maioria, não se dá conta deste “detalhe” e prefere proclamar a sua própria fantasia a viver na realidade. Toda quadrilha relativamente “bem sucedida” tem ramificações na política, proteção de pessoas infiltradas nos órgãos de segurança pública e age nas áreas de sombra. Mas os criminosos como os vampiros não sobrevivem a luz.

Eu mesmo e o AltaMontanha vínhamos a vários anos denunciando a ocupação do Parque Estadual Saint´ Hilaire-Lange, no litoral do Paraná, por uma quadrilha que extraia, de forma quase industrial, suas riquezas naturais em tese “protegidos” pelo todo poderoso Estado. A quadrilha, desbaratada esta semana pela Polícia Federal, era chefiada por autoridades deste mesmo Estado e faziam parte dela o ex-prefeito do município, o atual vice-prefeito, o chefe da Circunscrição Regional de Trânsito, um fiscal do Instituto Ambiental do Paraná – IAP, um oficial da Força Verde – Polícia Ambiental do Paraná e outros, todos agindo impunemente dentro de uma Unidade de Conservação -UC- protegida por uma infinidade de leis e patrulhada por seus próprios subordinados.

Dos habitantes da região nos vieram notícias até de assassinatos de pequenos extrativistas e pessoas consideradas “dedo-duro”. Eliminar estas zonas de sombra onde os crimes ambientais prosperam é uma das formas mais eficientes de combater estas práticas e não aumentá-las com a criação de novas UCs viciadas, cadastros inúteis e mais proibições de acesso as pessoas de bem.

Mas não podemos ficar de braços cruzados assistindo a destruição me dizem alguns, notadamente representantes de alguns clubes. Poder até que podemos, mas não deveríamos e aí vai uma grande distância entre fazer alguma coisa inútil baseada numa fantasia criada para nos distrair das coisas importantes ou fazer o certo assentado na realidade que nos cerca. A oportunidade de se fazer o correto que indubitavelmente beneficia a nós montanhistas e ao meio ambiente sempre existe, apesar de constantemente boicotada por nossa histórica desunião e infindável batalha de egos super desenvolvidos.

E agora novamente se apresenta na atitude da atual diretoria da FEPAM ao propor se transformar num organismo amplo de representação do pensamento de todos os montanhistas e não somente dos clubes que a fundaram. É velho, é chavão, mas é verdadeiro: a união faz a força e a nossa desunião só interessa aos poucos que dela tiram proveito.

Muito importante para se conseguir transparência de propósitos e concentração de esforços é estabelecer corretamente o sentido das palavras e a validade dos conceitos. O método mais notório daqueles que usam a tática do “Dividir para Dominar” é subverter o significado das palavras para relativizar os conceitos. Esta prática é intensamente usada apesar de brilhantemente descrita na “novalíngua” – ler 1984 de George Orwell – onde palavras chaves adquirem significados ocultos ou diferentes daqueles que as pessoas reconhecem.

Assim Federação Paranaense de Montanhismo induz a se acreditar que se trata de uma organização que representa a síntese do pensamento dos montanhistas do Paraná, mas a verdade ainda é outra bem diferente, pois a federação foi fundada e é mantida pelos clubes de montanhismo do Paraná e representa apenas os seus conceitos, como seria mais do que justo. A inverdade está no nome que atribui uma abrangência que a entidade não tem, uma vez que os clubes não representam nem ao menos a maioria numérica dos montanhistas do Paraná. Então é mais apropriado usar o bom e velho português nomeando-a apenas de Federação Paranaense dos Clubes de Montanhismo, o que lhe confere sua real dimensão.

Acredito que a iniciativa da FEPAM em abrir-se para a participação direta – extra clube – ensaie um movimento na direção de corrigir esta dicotomia agregando maior representatividade ou no mínimo possibilitando que no futuro ela venha a existir. Caberá a verdadeira federação defender, representar e promover o montanhismo e os montanhistas no Paraná, mas muitos irão se surpreender com o real significado que estas palavras devidamente torturadas podem adquirir em bocas e mentes ardilosas. Então cabe primeiramente a FEPAM esclarecer nos estatutos e divulgar a todos o que considera ser o significado de MONTANHISMO, MONTANHISTA, CULTURA DE MONTANHA, detalhar os DEVERES e os DIREITOS dos federados e desenhar um horizonte ideal e possível que valha a pena lutar para vê-lo realizado.

Defendo que montanhismo é AVENTURA e RISCO com responsabilidade individual e intransferível e que o montanhista tenha direito irrestrito a adentrar todo e qualquer ambiente – público ou privado – natural para praticar seu esporte e cultura centenárias e tem também o dever de se portar de forma ética e respeitosa com o meio ambiente e a propriedade alheia. Negociar convênios e encontrar as fórmulas que viabilizem este horizonte ideal deveria ser a meta primeira de qualquer agremiação que se intitule representante do montanhismo.

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Sobre o autor

Julio Cesar Fiori é Arquiteto e Urbanista formado pela PUC-PR em 1982 e pratica montanhismo desde 1980. Autor do livro "Caminhos Coloniais da Serra do Mar", é grande conhecedor das histórias e das montanhas do Paraná.

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