A chuva forte dos últimos dias desestimulara com certa razão a meia dúzia convocada pro bate-volta do ultimo fds. Mas não foi o suficiente pra q alguns gatos pingados encarassem levantar cedo pro bate-volta deste domingo, mesmo q houvesse gdes chances de se tornar um “perrengue anfíbio” no decorrer do período. Q fosse. Dessa forma eu, Tânia, Nando, Vivi e Fabio nos juntamos no Terminal Jabaquara pra tomar o busão pra Cubatão, q zarpou pontualmente as 7hrs. O percurso deu pouco tempo pra maiores confabulações e tds mergulharam no mundo dos sonhos, mesmo qdo o nosso transporte rasgava a Via Anchieta naquela manha, já com gdes vistas da Baixada Santista na descida da serra.
Chegamos na minúscula rodoviária de Cubatão as 8hrs fustigados por finos respingos no rosto, enqto um céu cinza claro – porem isento de nuvens + carregadas – insistia em forrar o firmamento sob nossas cacholas. Ainda assim, nossa empolgação em pernar serra acima era maior q o desânimo, ainda mais qdo conseguíamos divisar claramente a “Muralha” bem a nossa frente, em td seu esplendor e imponência, siluetada pelo céu plúmbeo mencionado.
Imediatamente tomamos os trilhos da estrada férrea próxima, mas a dificuldade de andar sobre os dormentes úmidos nos forçou a rumar pra serra pelo asfalto da Rod. Piaçanguera-Guarujá, com cautela pelo acostamento e atentando pra sinalização do parque. Após o trevo, foram quase 3km de caminhada apreciando a serra à nossa esquerda, onde víamos claramente a recortada crista q percorreríamos naquela tarde. Pra contrastar com td aquele cenário natureba, não poderíamos de nos consternar com a principal característica de Cubatão: inúmeras fabricas de seu pólo petroquímico, torres de alta tensão e chaminés pontilhando tanto a planície como alguns contrafortes serranos, onde enormes dutos de óleo corriam serra abaixo.
Ao chegar próximo da Industria Carbocloro, tomamos a deserta Estrada do Perequê por quase 1,5km e meio, já com menos sinais de industrias e mais verde efetivamente, onde o silencio era apenas quebrado por súbitos apitos de dutos fumegantes à nossa esquerda. Mas logo nos vimos acompanhando um largo rio q marulhava mansamente ao nosso lado. Era o Rio Perequê, q possui vocação turística já há muito tempo, pois desde o início do século XX era procurado por banhistas. Ainda pela estradinha, uma hora depois desembocamos no simplório portão do Pq Ecológico do Perequê, marcado por um guardinha e uma grade, sem sinalização alguma.
Antes, porem, tivemos nosso desjejum com um dos únicos ambulantes circulando, q lamentava a ausência de fregueses naquele dia devido ao tempo. Contudo, o parque costuma receber mta gente em dias de sol e fica bem muvucado por ser um esquema bem mais família. Explico: já no comecinho tem uma área bem ampla, onde ha uma enorme piscina formada pelo rio ao lado de um gde espaço na grama com bancos, quiosques e churrasqueiras feitas de concreto. Passamos batido, claro.
Com as montanhas cada vez mais próximas siluetando um céu alvo de nebulosidade clara, a estradinha finalmente se transforma numa picada e mergulhamos numa bucólica florestinha, sempre acompanhando o rio pela direita. O exuberante verde da mata só é salpicado por uma arvore q lembra uma quaresmeira, além de helicônias, umbaúvas e manacás. Este inicio de trilha é bem tranqüilo e bem roçado, com varias saídas pela esquerda ora pra alguma praia fluvial, ora pra algum poçinho raso em seu leito. O GPS do Nando marca exatos 15m sobre o nível do mar.
Mas logo somos obrigados a cruzar o rio, já q a trilha prossegue na outra margem, em meio a mata bem mais densa. Cuidadosamente e por entre pedras escorregadias, cruzamos o largo Perequê com água ate o joelho, a passo de lesma-com-preguiça. Primeiro obstáculo vencido! A picada agora já não é tão roçada e obvia, mas não tem muito erro: ou se vai pela trilha, q bordeja o rio, subindo e descendo íngremes encostas, ou se vai pelo leito pedregoso do mesmo, interceptando a picada nas margens. Vamos pela opção mais adrenada, isto é, a segunda! E dessa forma vamos adentrando pelo Vale do Perequê, tb conhecido como “Vale das Cachus” com td propriedade, pois sempre passávamos por alguma mini-cachu com algum poço enorme.
Assim avançamos sem gde dificuldade, indo cautelosamente pelo leito de pedras ou escalaminhando raízes/rochas nos trechos mais verticais, pra em seguida cair novamente na trilha ou sobre as pedras, algumas por sinal bem escorregadias! As 10hrs caímos num convidativo poção ao sopé de duas gdes cachus quase q seguidas, e foi ali q fizemos nosso primeiro pit-stop pra descanso, lanche e claro, tchibum! Q o diga a Vivi, q não resistiu à água e entrou com roupa e tudo! Donos absolutos daquele piscinão natural na cota dos 140m, curtimos o suficiente pra poder prosseguir a pernada, meia hora depois.
Daqui o trajeto aperta um pouco. Após bordejar pedras lisas e escalaminhar raízes, surge um trecho vertical q é vencido mediante uma corda disposta no local justamente pra essa finalidade. Mas após este curto trecho pirambeiro a picada arrefece em meio à mata e nos leva a outra enorme surpresa, a cachu Véu da Noiva, onde o rugido de sua queda aumenta a medida q nos aproximamos. Mas assim q emergimos da floresta, as 10:45, a cachu surge em td seu esplendor, com águas despencando do alto de 70m e borrifando em tds as direções, nos ensopando de sopetão.
Pausa apenas para um breve descanso, cliques e damos prosseguimento a pernada, agora subindo a encosta esquerda da cachu, onde uma íngreme, escorregadia e lamacenta picada nos leva outra vez à mata fechada. Escalaminhamos algumas raízes ganhando altura num piscar de olhos, ignorando algumas bifurcações ate continuar em nível no topo da cachu, onde desembocamos nos lajeadões superiores da grandiosa queda. São 11:30 e estamos a 240m, e aqui nos presenteamos com mais um bem-vindo pit-stop. Do alto da Véu da Noiva a vista não poderia ser melhor: o verde predomina em td parte, recortado apenas pelo rio, q por sua vez se afunila em quedas e cânions pra depois serpentear td trajeto percorrido ate ali. Olhando rio acima, a vista não é menos inspiradora, onde vemos o Perequê despencando em mais e mais quedas sucessivas, espremido por íngremes paredões q formam lagos e piscinões pra tds os gostos! , Quem sabe isso não resulta numa futura e adrenada descida de rio?
Descanso e divagações a parte, damos adeus ao Perequê e voltamos até uma das bifurcações supracitadas, onde passamos a acompanhar um pequeno tributário do rio, serra acima. Devido ao terreno ser extremamente acidentado, a sola da bota da Tânia começa a descolar, mas torcíamos mentalmente pra q ela guentasse firme pelo menos ate o final do dia!
Após coletar td água possível em nossos cantis, agora é q vem a parte mais punk da pernada, q se traduziria numa escalaminhada constante durante um bom tempo. E tome pé fazendo raiz de escada, mão se segurando em tronco como apoio, ou ambos fazendo de qq saliência em rocha uma agarra! A subida aperta mesmo e tds distanciam-se entre si, principalmente nos trechos quase verticais, ou naqueles onde a chuva tombara enormes arvore sobre a trilha! Nando, Vivi e Fabio disparam na dianteira, mas eu prefiro ficar atrás e acompanhar a Tânia, não apenas pelo fato dela estar desacostumada a este tipo de perrenge típico de lagartixas, mas principalmente pra q, atrasada, não tomasse a trilha errada!
Pouco demorou e ficamos ensopados de suor e cansaço, e várias paradas foram necessárias pra subir aquela piramba interminável! Contudo, nossa subida era constante, e se havia algum beneficio de não haver sol era justamente dele não nos desgastar em demasia, já q na mata predominava um certo frescor e não aquele calor abafado, quase palpável, com sol e umidade juntos! Mas após um tempo q parece nunca passar, a picada nivela suavemente numa encosta pra em seguida prosseguir evidente numa crista florestada, com mato caindo de ambos lados! Ufaa! Janelas na vegetação nos davam uma idéia do qto havíamos subido e chegávamos a conclusão q a altura era considerável!
E as 13hrs emergimos da mata e alcançamos o descampado q marca a base de uma torre de alta tensão, no alto dos 650m da crista da serra, onde desabamos de cansaço, exauridos! O pessoal já nos esperava faz tempo, entre goles de Gatorade e nacos de sandubas, salgados e bolachas. O visu panorâmico compensava o perrengue ate ali, nos presenteando com belas vistas tanto da Serra de Paranapiacaba , do Vale do Mogi e Quilombo, como de td Baixada Santista, recortada em mangues, canais, industrias e pólos habitacionais! E lá no fundo, o porto de Santos!
A pernada prosseguiu 30min depois de forma mais amena e desimpedida sempre em trilha pela crista, porem, ao contrario do interior da mata, sob um calor abafado de um sol forte ameaçando sair por entre as nuvens naquela tarde de domingo! Pois é, apesar de ser no aberto, com vistas soberbas (seja da planície costeira e do planalto paulista) e sem gde desnível, o desgaste aqui foi mais em virtude do sol q logo nos fez suar em bicas, alem de fritar nossos miolos. Sem vento algum, qq brisa soprando no rosto era tida como benção! Imperceptivelmente, fomos ganhando altitude a medida q avançávamos, principalmente qdo pudemos ver a continuidade da crista serrana culminar numa pequena construção similar a uma cúpula, no alto de uma montanha, q nada mais é a Casa de Válvulas da Usina Henry Borden, logo abaixo.
Mas um tempo depois a picada começou a se afastar da crista pra adentrar o planalto, em meio a campos abertos de capim e enormes brejos, onde pelo menos encontramos uma nascente q molhou nossa goela seca! Chapinhando, ignoramos uma saída pela esquerda q nos levaria à Cachu da Torre, a 1ª gde queda do Rio Pereque serra abaixo. Mas as 14:30 tomamos uma bifurcação à esquerda, ignorando o outro ramo q já nos deixaria num pto de bus em SBC, bem mais adiante. Como estávamos adiantados no horário, resolvemos fazer alguns ataques a atrativos próximos e após acompanhar as torres de alta tensão em meio a gdes charcos no capinzal, terminamos dando novamente na crista, as 15hrs! Estávamos precisamente nos 759m do pto mais alto da serra, num lugar chamado de Monumento do Pico, assinalado por um pequeno obelisco e um mirante de tirar o fôlego, com visu de São Vicente a Praia Grande! Nova pausa pra descanso e fotos!
Aqui tb começa a Calçada do Lorena, um antigo trilho indígena q fora “pavimentado” com a mais alta tecnologia do período colonial, isto é, com pedras e q unia o planalto ao litoral no trafego de mercadorias em lombo de mulas! O trabalho no assentamento dessas pedras foi artesanal e está muito bem preservado! E foi por ele q descemos cuidadosamente em meio a mata, já q o limo e umidade depositado nas rochas as tornavam lisas feito sabão! Aqui novamente eu e Tânia ficamos na rabeira, buscando os lugares menos escorregadios do caminho, de preferência as beiradas cobertas de mato, mas isso foi insuficiente pra q meu popô saísse incólume de belas carimbadas de limo!
Assim fomos perdendo altitude, em ziguezagues bem acentuados, ate dar no Belvedere Circular, as 16hrs, uma construção circular com um longo banco em seu interior, já na cota dos 561m. Esse é o primeiro ponto onde a calçada cruza o Caminho do Mar, isto é, a rodovia SP-148 (ou Estrada Velha de Santos), atualmente interditada e q tb liga a planície ao litoral, mas q faz parte do pólo ecoturistico da região. Uma pequena pausa onde nos esparramamos gostosamente nos bancos, um gole d água e seguimos adiante.
Como tínhamos q voltar ao topo da serra e não queríamos retornar pelo limo da calçada, decidimos voltar pelo asfalto da Caminhos do Mar a passo largo, principalmente qdo notamos um negrume se adensar no céu pros lados de Paranapiacaba! Mas como o calor tava de rachar, tivemos mais uma breve parada pra nos refrescar num dos vários córregos encachoeirados q descem as margens da estrada! Imortalizada numa famosa canção pela dupla Roberto e Erasmo Carlos, a estrada tb oferece um belo visu tanto do litoral como dos contrafortes do Pq Est. Serra do Mar (Nucleo Itutinga-Pilões), onde esta localizada. Uma nevoa ameaçava encobrir td, mas assim como o tal iminente temporal, ficou apenas na ameaça… Menos mal.
Subindo do km 45 ao 43 pelo asfalto, passamos por alguns atrativos arquitetônicos e mais mirantes ate chegar numa bela e charmosa Casa de Pedra (ou Pouso de Paranapiacaba), onde havia ate um painel azulejado retratando o mapa rodoviário colonial. Mais adiante literalmente termina a Serra do Mar, ao passar pela guarita e portão de acesso à estrada, onde aguardamos o busão as margens da bela Represa Rio Pequeno, as 17hrs.
Meia hora depois tomávamos o busão “Alto da Serra”, q agora retornava como “Rudge Ramos”, apreciando na paisagem emoldurada pela janela o povo pescando as margens da represa Billings. Não tarda pro visu de simples rusticidade transformar-se radicalmente ao chegar ao transito tedioso da Anchieta, q nos fez pegar no sono facilmente. Mas as 18:30 saltamos no terminal rodoviário de Ferrazópolis, onde ao invés de pegar a condução sgte (pro Jabaquara) fomos no bar da frente, lógico! E entre caiporas, brejas, mocotó, salgados e algumas baforadas, comemoramos a empreitada realizada com sucesso! Somente bem mais tarde, após mais 3 conduções, é q cheguei em casa um pouco antes da meia-noite!
Para muitos, é quase impossível imaginar que em Cubatão, que já possuiu o título de cidade mais poluída do Brasil, existe um lugar cheio de verde e belezas naturais, como o Pq Ecológico do Rio Perequê. Trilhas ecológicas, visus deslumbrantes, piscinas naturais e espaço até pra “muvuca consciente” fazem do parque um local com muitas opções para quem quer passar um dia diferente em meio à natureza e perto de casa. E pra quem busca algo mais adrenado as opções são inúmeras e variadas, tanto de caminhadas qto na pratica de rapel. Travessias então nem se fala, seja percorrendo o rio como aquelas q palmilham sua recortada crista em tds as direções. Portanto, se Cubatão já deteve o pouco honroso titulo acima citado, é reconfortante agora pensar q agora com o parque ecológico, opções q celebrem a preservação deste gde patrimônio, a nossa tal querida Serra do Mar, tb facam parte do cenário da cidade.
Jorge Soto
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