Os primeiros europeus a desembarcarem em terras americanas já as encontraram povoadas por nações nativas em conflito permanente. Inimigos perigosos dominavam pela força o território em que viviam e inocentemente aliaram-se ao invasor no combate aos vizinhos desafetos, guiando-os pelas trilhas primitivas e ensinando-lhes a sobreviver na floresta.
Do primeiro núcleo em Cananéia (1501), as bandeiras chegaram ao planalto curitibano pelas trilhas marginais ao Rio Ribeira, e por mar atingiram a Baía de Paranaguá cruzando o Varadouro à procura de índios para escravizar. A seguir subiram a serra através das picadas usadas há séculos pelos nativos. Os portugueses rapidamente dominaram o litoral e o primeiro planalto, enquanto os espanhóis, utilizando-se do Rio Paraná, avançavam pelo interior fundando vilas e reduções, aproveitando principalmente a competência dos padres jesuítas.
É bastante improvável que houvesse viagens transcontinentais pelo território paranaense antes da chegada dos europeus. Isto devido à extrema belicosidade dos povos residentes e pela própria inexistência de comércio ou intercâmbio significativo entre as nações. Mas, com certeza já existia uma extensa rede de caminhos e picadas ligando aldeias, campos de cultivo, de caça e de coleta de alimentos sazonais, a qual mais tarde foi inteligentemente aproveitada e interligada pelos invasores, que lhe deram orientação e as transformaram em estradas.
Os caminhos que cruzavam a serra do mar em território paranaense tiveram em comum esta origem, e muito se falou do Peabirú. Este supostamente iniciava-se em São Vicente e margeava o Rio Ribeira até os Campos Gerais, onde encontrava-se com um ramal vindo da baía da São Francisco, pelos Ambrósios, ou da ilha de Santa Catarina, subindo ao planalto pelo vale do Rio Itapocú, procurando o poente. Cruzava para o Paraguai na altura das Sete Quedas, e na Bolívia integrava-se à rede de estradas incaicas para atingir Cuzco e o oceano Pacífico nas costas peruanas.
Baseados em lendas indígenas, contava-se que mesmo antes da chegada dos jesuítas, teria passado por ele o apóstolo São Tomé chegado a América andando sobre o mar. A única certeza é que de fato existiram algumas vias gramadas e escavadas no solo a uma profundidade de 40 cm e largura média de 1,5 metros, pelas quais em 1524 passou Aleixo Garcia, náufrago da expedição de Solis, que com numerosa escolta indígena chegou às fronteiras do império Inca 8 anos antes de Pizarro, e morreu durante o retorno em confronto com os índios Paiaguás ao cruzar o Rio Paraguai, carregado de saques ou presentes.
Cabeça de Vaca as percorreu com relativa facilidade em 1541 tomando um ramal que o levou até as Cataratas do Iguaçu antes de chegar a Assunção, deixando um detalhado relato desta aventura. A trilha seguia para uma “Terra sem Males”, talvez numa referência tardia às reduções jesuíticas da República Guarani que, antes de serem destruídas pelos bandeirantes paulistas e curitibanos, fizeram uso constante destas vias, percorrendo-as à moda índia, de pés descalços.
Durante o século XIX as vias ainda tiveram importante desempenho na colonização do oeste paranaense. Depois, com a mecanização das lavouras destruiu-se quase tudo, restando apenas alguns poucos trechos concentrados principalmente nas zonas rurais dos municípios de Sta. Maria do Oeste, Palmital e Pitanga, onde Cabeça de Vaca mediu a posição 24 e ½ graus abaixo do trópico. Também ali se identificou uma ramificação em direção ao Rio Iguaçu sinalizada numa inscrição rupestre e outros importantes vestígios.