Por Waldyr Neto
A recomendação acima é parte da Declaração do Tirol sobre a Melhor Prática em Esportes de Montanha, promulgada pela Conferência sobre o Futuro dos Esportes de Montanha em Innsbruck, em 8 de setembro de 2002, contém um conjunto de valores e máximas que proporcionam uma orientação sobre a melhor prática em esportes de montanha. (Leia na íntegra a versão traduzida da declaração do Tirol)
A Declaração do Tirol estabeleceu, na frase que abre esse artigo, o limite ético que deve orientar montanhistas e unidades de conservação quanto às intervenções nas trilhas, paredes de montanhas. Pra ilustrar, apresento abaixo alguns exemplos da clássica Travessia Petrópolis – Teresópolis, que está dentro da UC Parque Nacional da Serra dos Órgãos.
Na foto acima está o trecho conhecido como “Elevador”. Trata-se de uma rampa bem íngreme com uma fina camada de solo e vegetação. Como o uso da trilha a capa de solo cedeu, expondo a rocha. Para manter o traçado da trilha e evitar o desgaste da vegetação das laterais, foi instalada uma escada de tachões.
Na foto mais afastada é fácil ver como a escada limitou o desgaste à linha da trilha, o que não acontece imediatamente acima do último degrau, onde já é visível o alargamento do caminho, expondo a rocha.
Está foi, portanto uma intervenção desejável, pois a intenção foi proteger o solo e a vegetação da encosta.
Outra boa intervenção, um trabalho voluntário do montanhista petropolitano Endre de Gyalokay. Num grotão bem no final da Travessia o solo arenoso estava se desfazendo. O terreno, desprovido de rocha, não suportava o tráfego de caminhantes. O Endre então projetou e levou a escadinha da foto acima, interrompendo o processo erosivo.
A foto acima é a do lance mais famoso da Travessia, o lance do Cavalinho. É um lance exposto e íngreme, fácil de passar de mochila leve, mas um pouco trabalhoso de cargueira.
Houve muita pressão por parte de condutores comerciais, no sentido de montar uma escada ali. A idéia era facilitar e tornar o lance mais seguro.
O assunto foi amplamente discutido na Câmara Técnica de Montanhismo e Turismo do Parque, e a conclusão foi de que o lance era uma dificuldade natural da trilha, sem erosões ou desgastes que justificassem alguma intervenção. A única concessão foi a manutenção de um grampo “P” no topo do lance, permitindo ao guia dar segurança aos seus participantes. Assim, o tradicional “lance do cavalinho” foi mantido na sua forma natural, o que foi bastante comemorado pelos montanhistas.
A foto acima não chega a ser uma intervenção propriamente dita, mas é a forma feia de sinalizar uma trilha. Pra piorar, a seta desta foto ainda estava apontando para o caminho errado…
Fica muito mais integrado ao ambiente sinalizar trechos de laje com marcos ou totens de pedra, como na foto acima.
Podemos citar também como exemplos de boas intervenções:
– Calçar com pedras trechos lamacentos
– Manter a trilha aberta, para evitar que pessoas se percam e abram novas trilhas
– Fechar atalhos
– Colocar pedras em erosões, interrompendo o processo
E como exemplos do que se deve evitar temos:
– Colocar cruzeiros em topo de montanha
– Colocar cabos, cordas ou escadas, em trechos de escalaminhada na rocha (onde não existe desgaste).
– Pintar setas
Como resumo de todo o que foi dito, vale a máxima:
“As montanhas são como são. Nunca tente rebaixar o nível da montanha para o seu nível. O correto é elevar o seu nível para o nível da montanha”.
Fonte: Blog A Magia da Montanha
Sobre o autor:
Waldyr Neto, nascido em São Paulo em 1969, reside me Petrópolis desde 1977. Iniciou no montanhismo em 1984 ao integrar o Centro Excursionista Petropolitano – CEP. Começou a escalar em 1991 e desde 1993 vem guiando excursões pelo CEP, tendo sido presidente do clube de 2003 a 2006. Autor do Guia de Trilhas de Petrópolis e de diversos artigos técnicos, publicados em revistas e sites especializados. Waldyr é autor do guia de trilhas de Petrópolis e co autor do guia do Parque Nacional da Serra dos Órgãos.