Primeiro cheguei eu, o Clayton e Wagner, antes das 10hrs. Logo depois vieram o Fernando, Abade e Dom. E finalizando, o Fabio e a Vivi, a única integrante feminina da trupe. Tds ali, enfim, reunidos no posto da Balança, as margens da Mogi-Bertioga naquele sabadão q amanhecera frio, encoberto e nada promissor, perfeito pra ficar sob as cobertas. Ainda assim, a motivação geral pra estarmos ali era ir atrás de uma tal “Represa Andes”, mais uma dica interessante do folclórico Seu Geraldo, q tb se encontrava ali e complementara as infos q tínhamos à mão. Com seu indefectível chapéu puído e palito pendendo dos dentes, nos dizia q aquele era um local q apenas ele conhecia e valia a pena visitar, entre outros vários outros já devidamente anotados pra outra ocasião.
Após um breve desjejum na base de salgados e goles de café fresco, pusemos pé-no-asfalto as 10:30, no mesmo instante em q a inicial garoa fina dava trégua pra gente e um sol tímido dava às caras no céu. Não havia pressa alguma, uma vez q Seu Geraldo garantia q estaríamos no referido local após umas 2hrs de caminhada. No entanto, ele não mencionara q esse tempo era saindo da casa dele e não levava em conta os obstáculos q surgiriam no trajeto.
Dois km e meio depois, deixamos o asfalto em favor de uma precária estrada à esquerda, as 11hrs, marcada por uma antiga cancela e uma guarita abandonada. A partir dali acompanharíamos a mesma sinuosamente serra adentro um bom tempo, inicialmente transpondo um enorme buraco provocado pelas intensas chuvas. Após uma casa abandonada, transpomos o “Rio do Lobisomem” por sobre as pedras, de onde podemos avistar a casa do Seu Geraldo, no alto de um morrote próximo.
A pernada prossegue no mesmo compasso, chapinhando através de brejo e lama, sempre adentrando cada vez mais nas entranhas serranas, sem gde variação de altitude. A precária estrada começando cada vez a se estreitar mais ate se tornar praticamente uma picada cercada de mata. Varias bifurcações surgem, mas o bom senso nos mantém sempre na trilha principal, e assim tb cruzamos as escorregadias pinguelas sob os “Córregos Água de Rola” e “Córrego do Cagado”, quase q sequencialmente. O aroma onipresente de cera de mel de abelha vindo de algum lugar em meio à bananeiras, embaúbas e eucaliptos preenche o ar de forma onipresente durante boa parte daquele inicio de dia, enqto o céu alterna janelas de bom tempo apenas pra escondê-las na seqüência, dando inicio a uma fina garoa a fustigar o rosto.
As 12:21 ignoramos a entrada pra trilha da “Pedra do Sapo”, à nossa esquerda, e então mergulhamos de vez na mata fechada, fresca, densa e úmida. No caminho, pequenas penas espalhadas desordenadamente sugerem o infortúnio de algum macuco devorado por algum predador, ate q surge mais um riacho, o “Rio Ponte de Ferro”, q cruzamos cautelosamente por cima de trilhos e vigas q outrora sustentaram uma ponte. , Uma ponte pela qual já circularam veículos, o q pode ser atestado pelos cortes verticais na encosta q denunciam estarmos no q já fora uma estrada com mto transito, hj totalmente em desuso e tomada pelo mato. Raízes, troncos, bambus e arbustos não se fazem de rogados e abraçam boa parte do trajeto, reclamando a floresta pra si, nos forçando em alguns trechos a agachar e esgueirar por entre a mata.
Mas eis q antes das 13hrs tropeçamos com o raso e largo Rio Sertãozinho, q aqui marulha mansamente suas águas frias. Não há ponte alguma e a picada prossegue do outro lado. Pois bem, aqui nos dividimos: enqto eu, Abade e Fernando cruzamos por cima de um tronco de firmeza duvidosa pra afundar a coxa inteira no rio, os demais atravessam o rio um pouco mais acima, com água ate o joelho. Na outra margem nos brindamos com uma breve parada pra secar os pés e colocar novamente as botas, alem de fazer uma boquinha rápida, claro! Com direito até a miojo e chá, por parte do Dom.
Nossa jornada prossegue logo depois, onde equivocadamente tomamos o ramo da esquerda q apenas nos levou a armadilhas e arapucas mata adentro. Percebido o erro, retornamos pra seguir o ramo da direita, isto é, q simplesmente acompanha o Rio Sertãozinho pela sua margem esquerda, ora próximo ora afastado. Felizmente este trecho esta (quase) bem roçado e o avanço é rápido e ágil, apesar de cruzarmos pequenas depressões e barrancos por onde deve circular mta água em tempos de chuva. O inconfundível odor de carbureto aqui é forte e inunda nossas narinas boa parte do caminho.
Mas não demora pra picada ganhar alguma declividade e descrever um ziguezague sinuoso, eventualmente desviando do caminho principal pelas pedras e lajotas úmidas de um caminho d água, ate finalmente dar no aberto, em meio a um descampado de capim e arbustos. Mas logo adiante damos no alto de um morrão de cume rochoso-poroso ligeiramente abaulado, com jeitão de mirante. Infelizmente a paisagem ao redor esta tomada por neblina e nosso raio de visão não ultrapassa os 50m, mas praticamente já estamos ao lado da tal represa/lago. Só não o enxergávamos.
Prosseguindo pela trilha em meio a alguma mata de altitude, principalmente voçorocas de pequenas bromélias e samambaias, a picada nos leva por sobre uma pequena crista, da qual já podemos avistar o enorme lago ao lado. Dali bastou desescalaminhar algumas pedras pra enfim fincar pé em sua margem forrada de pasto e brejo as 14:40. Pausa novamente pra relax, descanso e mais comilança. Com direito agora a um delicioso chá-de-coca q serviu pra complementar os salgadinhos, sandubas e bolachas q foram mastigados. Apesar de convidativo, as águas estavam ligeiramente frias pra banho, embora isso não intimidasse o Wagner, q foi o único q deu tchibum no mesmo.
O tal Lago (ou Represa) é enorme, mas seu perímetro era impossível de precisar por conta da neblina q baixara naquele momento. Mesmo assim, o visual enevoado do lugar lhe confere um ar q beira o misterioso e o jurássico. A impressão q dava era q a qq instante surgiria o brontossauro ou ate mesmo o “Monstro da Lagoa Negra” dele! Pelas infos de Seu Geraldo o mesmo foi resultado das escavações da “empresa Andes Celulose” na instalação de tubulações q não chegaram a ser concluídas. O enorme buraco ficou e foi com o tempo enchendo com as chuvas e demais córregos q o atravessavam. O solo, q se alterna argilo-rochoso e a descoberta de pedras c/ antigos tijolos espalhados ao largo do local corroboram estas informações. O fato é q ali, no alto dos 750m daquele platô serrano havia um improvável lago cercado de mata por tds lados. Sinais de fogueira no chão de capim atestam q o local é ideal pra acampamento, coisa q deve resultar num agradável programa de verão. Dica anotada pruma próxima empreitada.
Mais acima a picada continuava e dividia-se em duas: a da esquerda provavelmente contornava o lago enqto a da direita descia íngreme em direção a Mogi-Bertioga. Ate cogitamos retornar por ela, mas a presença maior de mato cortante nela (q nos deixou boas marcas na breve exploração) e a perspectiva de retornar um bom trecho por tedioso asfalto nos convenceu mesmo a voltar pelo mesmo caminho.
Com o tempo fechando cada vez mais e a garoa engrossando tomamos o caminho de volta por volta das 15:20, antes tb q a escuridão tomasse conta total do trecho de pernada na mata fechada. Caminhada esta sem pressa chafurdando na lama, q nos distanciou uns dos outros, mas nada q dificultasse a navegação dos retardatários. No caminho, mais uma descoberta de trip so q desta vez não tão agradável, sob a forma de uma conhecida coceirinha: carrapatos estavam grudados em nossas roupas tal qual imigrantes ilegais e indesejados. Paciência, nem td é perfeito.
Desembocamos no asfalto num piscar de olhos, pra depois alcançar a Balança na sequencia, exatas 18hrs. Lá, em meio o som forrozeiro da Tupi FM e dos veículos da Mogi-Bertioga, fizemos uma horinha pra fazer mais um lanche e bebemorar o passeio. Alem de dar continuidade à prosa com Seu Geraldo, claro, q àquela altura já tava bem “alegrinho” com seus colegas nos proporcionando boas risadas, com o simpático matuto oferecendo inclusive seus serviços de “exorcista”. Pois é, ate o pessoal da roça anda buscando “especialização”.. Mas o comecinho de noite sabatina estava apenas começando, e assim nos despedimos uns dos outros pra então retornarmos pra Sampa, onde cada um dirigiu-se à sua respectiva balada (ou apenas indo pro aconchego de casa) fechando com chave-de-ouro um fds q apenas começava.
Por estas e outras q vale muito a pena estreitar laços com os personagens típicos onde quer q se vá. Nunca se sabe dos recantos secretos q estão à nossa espera aguardando p/ serem descobertos. Lugares q fogem ao tradicional arroz-e-feijão q podem revelar-se verdadeiras pérolas em meio à mesmice. Personagens como Seu Geraldo, q por sua vez já nos prometeu levar noutro “lugar paradisíaco”, segundo suas próprias palavras. Bem, se ele estiver sóbrio e lembrar disso, ótimo. Senão, basta apenas soprar a dica q a gente faz o resto. E assim um fds não será nunca igual ao outro. É, a nossa sempre enorme e incomparável Serra do Mar esta sempre nos dando boas e belas surpresas.
Texto e fotos de Jorge Soto
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