Festival de Filmes de Montanha – Dia 2

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O segundo dia do Festival de Filmes de Montanha do Rio de Janeiro teve seu último dia da parte da mostra de filmes nacionais, reservando os mais fortes concorrentes.


Por Luciano Fernandes

Em um dia em que a grande maioria dos filmes eram grandes concorrentes despertou maior interesse do público para conferir quem pode ser o melhor filme. Com isso o cinema Odeon ficou com a sua lotação máxima, existindo até mesmo pessoas sentadas no chão. O sacrifício vale para um evento que acontece uma vez por ano.

Vamos aos Filmes :

“E as vias da Lapinha?”

Seguramente um dos melhores filmes do festival. Com roteiro linear lento, e falando de dados históricos. Traçando uma linha histórica de como a escalada em Minas Gerais cresceu, e se instalou por lá. Com várias declarações de personalidades da escalada mineira, foi-se construindo toda a situação que culminou na proibição, até certo ponto arbitrária, de escalar na Gruta da Lapina.

O filme retrata também, mas de forma muito sutil, a importância da criação (e existência) de uma Federação mineira de escaladores. Mostranto de forma direta, e muito eficiente como devem agir os escaladores agora que a federação exitem. Abordou, embora de forma bem sutil, que a briga de egos entre escaladores (muitas vezes por questões de vaidade) também, colaborou para o fechamento de um dos lugares considerados o melhor de Minas Gerais.

O filme se preocupou em não possuir declarações contundentes, nem apontar culpados. Procurando uma linha imparcial, escutou todos os lados da história, e evidenciou de que por mais “bacana” que seja sair escalando, há de se estar respaldado politicamente. Principalmente por escaladores de verdade, com consciência de fazer o jogo político , sem entrar para politicagem não corporativista.

Dentre todos os vídeos, o “E as vias da Lapinha” é um dos grandes favoritos ao prêmio de melhor filme do festival. Não será surpresa para ninguém se este filme for premiado.

“Entre Nós”

Dos mesmos criadores de Uruca, a animação era aguardada com grande ansiedade, e pelo trailer muitos detalhes técnicos tinham sido melhorados pelos produtores.

Usando basante o recurso de Flashbacks, porém sem marcar o tempo (recurso muito utilizado pelo seriado “Lost”), conta a história de uma escalada de uma menina com seu pai. O pai de Luísa faz um procedimento errado, e despenca, deixando Luisa aterrorizada e pensando que seu pai morreu.

A premissa do filme foi muito simpática, porém não repetiu o mesmo êxito de Uruca. Talvez por entrar na linha dramática, deixando a comédia de lado, possa ter desagradado o público fã de “Uruca”.

Acredito que não seja desta vez que a animação vá abocanhar algum prêmio. Por ter uma concorrência forte de outros filmes, este deve ficar como referência para outras animações. Ficou evidente que para um público que espera uma comédia, e de repente se depara com um drama mais profundo e angustiante, não ficou muito no gosto do público como Uruca.

“7 Dias na Favela”

O filme retrata os bastidores de um evento realizado em uma favela do Rio de Janeiro, em que pessoas desceriam de bicicleta. Foi feito uma expectativa grande do evento, porém não foi mostrato o evento em si. A preocupação foi retratar as pessoas da favela na realização do evento.

Talvez tenha sido neste ponto que o filme não apresentou nada de esportes, e sim o dia a dia de pessoas sofridas que moram na favela, e mesmo assim apresentando a felicidade de sempre dos cariocas.

O grande pecado do filme, na minha opinião, foi mesmo o fato de que não houve ação, ou seja o esporte propriamente dito. A criação da espectativa deste talvez tenha decepcionado o público, e deixado o filme com cara de incompleto.

Não é favorito a ganhar nenhuma categoria na minha opinião. Mas talvez pela edição muito bem feita ganhe algum prêmio técnico.

“XC-Open World Series 2009 – Mundial de Paragliding”

O filme retrata os bastidores de um mundial de parapente na cidade de Araxá em Minas Gerais.

Os produtores dos filmes cometeram os mesmos pecados do filme de alta montanha do dia de ontem. Fizeram um filme editado para somente os amigos e parentes ver, e não um público não conhecedor do esporte nem de como foi uma competição.

Com uma edição com efeitos um pouco amadores e que se assemelhavam aos efeitos do PowerPonint do Windows conseguiu ser, mesmo com poucos minutos, se tornar maçante a quem assistia.

O ponto positivo foi mostrar como a natureza de Araxá é exuberante, e que merece atenção de vários praticantes de esportes de natureza. As imagens mostradas foram muito bonitas da região e deveria ter tido mais atenção dos produtores do que algumas questões colocadas no vídeo.

“Dias de Tempestade”

O filme retrata de forma documental, e sem narrador, a epopéia de tres escaladores que foram conquistar uma via no inóspito Monte Roraima, no extremo norte do Brasil.

Após a exibição do filme, que conta a aventura de Eliseu Frechou na abertura de uma via no Monte Roraima foi de encher os olhos e qualquer escalador. Mesmo que uma pessoa não ligada ao esporte pode acompanhar toda a aventura pelas imagens feitas em HD.

Ao final do filme, tamanho o impacto das imagens, o público do cinema ovacionou o filme, por duas vezes, e não serie exagero dizer que foi aplaudido de pé por todos. Uma reação que, após quatro edições de Festival de Filmes de Montanha do Rio de Janeiro, não vi igual.

Somente por esta reação fica desnecessário dizer que “Dias de Tempestade” é franco favorito para levar o título de melhor filme pelo público.

Retratando de forma linear, com roteiro bem escrito, iniciado por declarações pessoais de cada participante da aventura, e sem muitos efeitos especiais de edição, o filme retrata de forma crua como é a escalada de expedição. Pode-se acompanhar de forma bastante explícita o entusiasmo dos escaladores ser tomado pelo cansaço e esgotamento de cada um dos paticipantes até chegar no cume.

Um filme obrigatório para toda e qualquer pessoa que se vangloria de fatos isolados na escalada, e esquece muitas vezes como é amplo o universo de montanha. Retratado pelo filme, a realidade de lidar com escorpiões, chuvas torrenciais, salto de helicóptero, serpentes e pedras soltas , somente em filmes de produção hollywoodiana se pensaria em tantas “roubadas” seguidas.

Na minha opinião, junto com o “E as vias da Lapinha” é um dos grandes favoritos ao prêmio especializado e de público.

“Platô”

A produção do filme retrata de maneira bem direta a escalada no “Platô da Lagoa”. Um local polêmico por possuir “agarras cavadas”, que era uma prática utilizada a muitos anos atrás, e expressamente condenada nos dias de hoje.

O filme retrata escaladores dialogando sobre o local, e principalmente sobre a utilização ou não das vias de agarras cavadas.

O filme foca muito o lado filosófico da zona de escalada, e mostra que há muitos pontos e vertentes filosóficas sobre este assunto. Uma discussão que , com certeza, vai muito além de um simples filme.

Com edição de imagens de excelente qualidade, efeitos especiais discretos e elegantes evidencia que a produção de vídeos de escalada no Rio de Janeiro já possui uma linguagem e identidade próprias.

Apesar de ter ótimos closes, e imagens e entrevistas de extremo bom gosto, por possuir grandes concorrentes como “Dias de Tempestade” e “E as vias da lapinha” deve abocanhar apenas premiações técnicas.

Porém tal fato não diminui a qualidade do filme, sendo dos filmes cariocas um dos que mais me impressionou pela maturidade tanto de edição de imagens, quanto de roteiro. A qualidade mostrada somente vi em filmes vindos da Europa, que possui linguagem mais humanista da escalada (focando a vida, e sentimento, de escaladores e não as cadenas) do que a americana (focada na vitória do ser humano sobre a natureza).

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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