Cheguei a Curitiba bem cedo na sexta-feira dia 09.04.2011 e o Pedro me pegou na rodoviária logo em seguida. Sabe como é, esperar efetivamente pelo inverno não dá então a gente encara mesmo com previsão ruim… Acontece que o tempo não estava pra montanhista mesmo, então decidimos escalar o açougue mais próximo deixando a preguiça e o prognóstico ruim de chuva (mesmo sem constatação empírica) vencerem.
Fomos ao carniceiro que como um , mercador da idade das trevas nos proveu de algumas porções da saudosa sangrenta, me desculpem os vegetarianos e cia., mas eu sou carnívoro inveterado! Como animais esfomeados traçamos até a última pelanca ajudados pelo felino Bob que se encarregou de limpar os ossos. No final da comilança aconteceu o Concílio de Nicéia e nele o imperador Constantino converteu-se ao cristianismo (começava ali o maior negócio privado do mundo que perdura ate hoje).
Impressionada com os fatos e cheia de boa vontade a vizinha do Pedro nos convidou a assistir um registro filmográfico sobre o assunto: O último dos Templários. Olhem, me perdoe Ariane e Lurdes, mas foi o pior filme que vi nos últimos doze meses…acontece que o filme era tão ruim e sem noção que chegava a ser engraçado. Diante disso continuamos assistindo porquê estava divertido, as risadas fluíam naturalmente. A certa hora do século vinte e um, Lurdes e Ariane se cansaram de nossas observações pejorativas sobre a pelicula e abandonaram o barco pulando ao mar, abriram mão de um funeral digno tornando-se malfazejos, almas penadas errantes. Uma das desonras mais temidas no medievo. Acabamos ficando nós três pra ver aquela produção desgraçada, assumindo assim o papel de os últimos cavaleiros templários. Que ironia… O filme era tão ruim que acho que nem se classificou a framboesa do ano de 2009 AD (risos).
É claro que desligamos as parafernálias e chegamos à democrática decisão de sair pra comer uma pizza. Era 21h30minh quando saímos. Olhando pro céu notamos estrelas! A pizza foi deixada de lado e rapidamente chegamos ao consenso de comprar lanches e ir dormir em alguma montanha. Pintou a idéia de culminar o Araçatuba, comumente conhecido como Araçapurna pelos Nativos da região. Uma das montanhas mais frias de toda serra do mar paranaense.
Arrumamos as vestimentas, afiamos as espadas, selamos os cavalos e saímos para a escuridão completa perseguidos pela instituição como cachorros sarnentos, caçados até o último homem. Chegando às encostas do Araçapurna descemos dos cavalos a 907 metros de altitude. Era 01h00minh da madrugada. Imediatamente iniciamos nossa jornada ao sombrio e escuro brejo ao lado de moradas de alguns camponeses.
A caminhada é fácil, mas logo os pulmões ociosos cansam, normal. O bom da subida do Araçapurna é a trilha límpida bem marcada. Chegando à marca dos 1.200 metros o caminho transforma-se em campo de altitude até o topo da montanha. A mais ,ou menos 1.450 metros uma bruma úmida nos envolveu e não se foi mais. A visibilidade não passava dos três metros, talvez fantasmas de homens de legiões antigas que tombaram em batalha num passado distante.
O tempo seguia relativamente bom, úmido porém sem chuva, um bom presságio. Caminhar sem luz do sol e sem chuva é realmente um privilegio de poucos se tratando do local. Com mais facilidade do que imaginamos após 2h e 25 min de árdua caminhada por causa dos armamentos, armaduras e provisões, chegamos ao topo daquela montanha.
Não tínhamos visão alguma. Tudo que podíamos vislumbrar era tendas de outros viajantes que ali estavam, cinco delas em silêncio total que foi quebrado com nossa chegada. O frio era obviamente mais forte então tratamos de fazer acampamento o mais rápido possível, e antes mesmo de entrarmos em nossas barracas, o céu estrelado nos desejou uma boa noite. Visão privilegiada a 1.680 metros de altitude. Infelizmente não víamos ao redor somente acima, e não durou mais que dez minutos. Adormecemos exaustos de sono já era quase quatro da matina.
Despertei com a conversação dos vizinhos sobre o nascer do sol. A princípio era visível, mas cinco minutos depois não mais. Até abri a barraca tentando vislumbrar mas sem sucesso. Voltei a me deitar e cochilei mais um pouco. Abri os olhos em definitivo cerca de sete horas. Pedro e Camila continuavam dormindo então nem os incomodei a princípio. Vesti minha armadura e andei pela relva fotografando e curtindo o frio, mais parecia um zumbi zanzando pelo largo cume da montanha. O ciclo da oitava hora do dia se completou então chamei pelos meus companheiros.
Depois do café da manhã arrumamos nossas coisas bem mais rápido que os outros que lá estavam, e também começamos a descer antes de todos. Durante a descida pudemos ver todo o caminho percorrido durante a madrugada. Que bela vista, campos de altitude e mais campos de altitude. Rochas sobre rochas, formatos inusitados, boulders pra todo lado. Muito me agradou o Araçapurna!
Uma chuva chata caiu por cerca de dez minutos, forte até, mas insuficiente pra vencer o isolamento que cada um tinha consigo. Como de costume naquela região onde há diversas trilhas criadas por montanhistas e gado pastando, rolou um perdido por algum tempo, mas sempre com a orientação visual, pois não havia bruma alguma a nossa frente ou abaixo de nós. Reencontramos a trilha principal sem problemas e continuamos com tranqüilidade e calor até os cavalos.
Em virtude das chuvas este tipo de coisa vem acontecendo comigo e com amigos (como exemplo o próprio Pedro e o Tacio), os planos não rolam e acaba-se optando pelo plano B, outras atividades ou outras montanhas. Torço para que as águas retrocedam e para que este inverno seja diferente do último, que seja mais seco.
O engraçado que comentei com o Pedro e com a Camila: Não sei se nós é que estamos bestas/ idiotas demais, mas toda vez que nos encontramos algo cômico acontece pra racharmos o bico de rir o tempo todo…rs
Mas, só podemos torcer mesmo.
Ariane e Lurdes desculpem pelas piadas e espero que não guardem mágoas minhas nem da Camila nem do Pedro, mas é que o filme era ruim mesmo! (risos)
Abraços a todos