Perdidos na Serra do Mar leva autoridade a falar em crimes ambientais

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Os recentes casos de resgate na Serra do Mar de São Paulo suscitaram uma discussão sobre os motivos que levam as pessoas a se perderam nas trilhas da Mata Atlântica. Major da Polícia Ambiental fala que entrar no Parque Estadual pode ser crime.


Com quase um caso grave de perdidos por mês, a Serra do Mar de São Paulo bate um recorde negativo. No entanto, quais seriam os motivos que levam grupos inteiros a se perderem no interior da mata fechada?

De acordo com o capitão do Corpo dos Bombeiros Valdir Pavão, os grupos que se perdem na Mata erram em tudo. Não se preparam, não conhecem a região, não tomam os devidos cuidados ao avisar os bombeiros ou a direção do Parque Estadual da Serra do Mar, dizendo aonde vão entrar e nem aonde vão sair. Pavão ainda afirmou, em entrevista ao Portal Terra, que as trilhas abertas pelos Palmiteiros confundem os excursionistas. De acordo com ele, estas trilhas clandestinas não são mapeadas.

A Serra do Mar paulista encontra-se no interior de uma Unidade de Conservação de proteção integral, o Parque Estadual da Serra do Mar, que compreende uma área de 315 mil hectares de mata, entre a divisa do Rio de Janeiro e o Paraná. É um dos maiores parques do Brasil, divididos em diversos núcleos, pontualmente localizada e parca infra estrutura, tanto de pessoal, como de material. O P.E da Serra do Mar é pouco divulgado e mesmo tendo mais de 315 Km de trilhas (apenas as catalogadas), não figura entre os principais destinos de Ecoturismo do Estado. Rios cristalinos, cachoeiras, montanhas e trilhas em meio a vegetação natural da exuberante Mata Atlântica atrai montanhistas e excursionistas em busca de aventura. Na contra mão, Palmito, animais e madeira atrai palmiteiros, caçadores e madeireiros.

O Parque Estadual não consegue controlar e nem mesmo ficar sabendo dos grupos que entram na Mata em procura de aventura, muito menos os grupos que entram para fazer extrativismo. Denuncias e investigações, no entanto, já levou somente neste ano à apreensão de 4 mil Palmitos Juçara na região.

Para o major da Polícia Ambiental, Amaury Kruel Moutinho, os extrativistas não são os únicos criminosos, os excursionistas também:&nbsp, “Estes espaços, como o Parque Estadual da Serra do Mar, são especialmente protegidos e entrar neles sem autorização é considerado crime“.&nbsp, O major atenua o caso dos resgatados, “Claro que se o cidadão está perdido e debilitado na mata, o policial terá o bom senso de não multá-los. Mas já tivemos casos de pessoas que não tiveram autorização e acabaram sendo multadas“. A simples entrada em área de preservação pode render uma multa entre R$ 1 mil e 10 mil reais, dependendo do caso. &nbsp,

Perdidos na Serra do Mar

De um lado as autoridades dizem que entrar no Parque Estadual é crime, de outro, dizem que não avisar dificulta as buscas. O ponto em comum da fala entre as autoridades é único: Os extrativistas são um grande problema e não há um controle efetivo contra eles.

Talvez aí esteja o problema que dificulta a busca dos perdidos, que com medo de serem multados, não avisam as autoridades das trilhas que pretendem percorrer. Ao mesmo tempo, a ineficiência do Parque não consegue barrar a abertura de trilhas clandestina dos extrativistas, que salpicam as trilhas de bifurcações e confundem os visitantes que não degradam o meio ambiente.

Enquanto a visitação de áreas mais remotas continuarem a ser considerado crime, dificilmente a situação será contornada. As autoridades têm grande dificuldade em entender que atividades de aventura não acontecem em trilhas monitoradas, mas sim nas trilhas naturais, que são mais freqüentadas por extrativistas do que por aventureiros propriamente ditos. Por mais que existam pessoas despreparadas, não há uma estatística que mostre a quantidade de pessoas preparadas que realizam as trilhas e nunca se perdem, tão pouco qual é a popularidade e a penetração da cultura de aventura que levam pessoas a procurar a Serra do Mar.

O fato é que o Parque Estadual da Serra do Mar perde muito com a política de cerceamento de visitação que fica concentrado em núcleos com trilhas curtas monitoradas. Para além destes locais pontuais de turismo de massa, há muita natureza que já atrai bastante gente. O parque perde a chance de promover uma visitação consciente, promover a valorização da paisagem natural e combater os casos de extrativismo ilegal. Dificuldade para o visitante, facilidade para o meliante. Aonde não vai montanhista está o vigarista.

Fonte:&nbsp, Portal Terra

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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