Eram 9:30 qdo tomei o latão “Taiaçupeba” apinhado de gente na Pça da Bandeira, em Mogi das Cruzes. As brumas daquele inicio de domingo logo deram lugar a um céu azul limpo e isento de qq vestígio de nuvem, ideal pra cair no mato ou , coisa q o valha. Enfim, não demorou pro busão refazer td trajeto do “Manoel Ferreira” – linha obrigatória pra maioria das aventuras na Serra do Mar mogiana , – onde num piscar de olhos deixamos a cidade pra então cair no asfalto da SP-98, mais conhecida como Mogi-Bertioga. O trajeto é basicamente o mesmo, exceto qdo a certa altura abandonamos a pista principal em favor de uma q sai pela direita, a SP-102, devidamente sinalizada de “Taiaçupeba – Sertão dos Freires”. Na horizontalidade da paisagem apenas destoam alguns morrotes, mas desperta-me a atenção a gde Barragem do Rio Jundiaí, mostrando seu enorme espelho d´água q reflete o azul impar do firmamento.
Meia hora após embarcar saltei na agradável Taiaçupeba, observando apenas busão dar meia-volta, apanhar um punhado de gente no pto e retomar sua rota pra Mogi. Taiaçupeba é um charme de bairro rural e se limita basicamente a uma movimentada rua principal, com o resto de ruelas menores transversais e algum comércio orbitando a dita cuja. De cara chama a atenção uma simpática igreja matriz, a Sta Cruz Capela do Ribeirão, cujo interior está decorado por talhas e pinturas de um tal de JBC, um gde artista sacro popular.
Pois bem, após um rápido desjejum na padoca iniciei a pernada propriamente dita, buscando infos de como chegar na “Estrada da Adutora”. Bem, bastava seguir apenas a avenida principal (ainda a SP-102) sentido sul, nada mais, deixando as casas pra trás. Logo o asfalto deu lugar a uma bucólica estrada de terra atravessando chácaras, onde um elétrico esquilinho se diverte saltando por entre o arvoredo. Aqui uma placa diz agora diz “Pq das Neblinas”. Mas após passar por casas da Sabesp e um campo de futebol finalmente alcanço o cruzamento da principal com a “Estrada da Adutora”, q nada mais é uma precária estrada de chão (a SP-43) acompanhando um trecho da tubulação. Se seguisse reto iria dar no Sertão dos Freires e na base do Pico Itaguacira, já próximo das nascentes do Rio Anhangabaú, um local q preciso fuxicar noutra ocasião.
Mas meu destino hj é outro e então passo por baixo da tubulação, tomo uma trilha ao lado e ganho o alto da mesma, onde os dutos estão enterrados formando um chão bem compacto. Mas não tem segredo, tem mesmo uma trilha q o acompanha em td sua extensão, as vezes nítida e outras não. Mas o sentido é mais q óbvio: sempre pro oeste! Pra leste a picada segue tb bem batida serpenteando a morraria rumo o bairro de Manoel Ferreira, um ótimo programa q acredito seja melhor aproveitado por bikers.
E assim inicio as 10:40 propriamente a pernada rumo Quatinga, acompanhando uma trilha em nível e ladeando morros pela direita sem gde dificuldade. Até q pouco depois me deparo com uma enorme descida, onde os dutos enfim se revelam em td sua extensão morro abaixo, pra depois subir a montanha sgte, sempre reto. A picada acompanha os dutos ao fundo do vale, onde some por completo, o q me obriga agora a ir pelos tubos. É aqui q uma ponte me dá acesso ao alto dos mesmos e por eles dou continuidade a pernada, agora subindo o morro sgte, com os tubos as vezes afastados do chão a uma altura considerável.
Depois de cruzar córregos – provavelmente as nascentes do Ribeirão da Vargem Gde, q cruza Taiaçupeba - , e algumas ruínas de antigas construções engolidas pelo mato, desemboco no alto da montanha onde a pernada novamente nivela rumo o vale sgte, agora chapinhando numa trilha enlameada e com os tubos outra vez enterrados, isto é, em chão firme. Vale revelar q neste trecho inicial há sempre alguma estrada de chão próxima, eventualmente cruzando ou tangenciando os dutos.
Mas logo a trilha transforma-se numa alta ponte de concreto q ando por cima ate sua outra extremidade, onde o mato alto me obriga a subir o morro sgte na base do vara-mato. Bem q tentei buscar alguma picada, sem sucesso, mas felizmente a vegetação aqui não é mto fechada, espessa ou compacta, bastando apenas desviar de algumas voçorocas de arbustos com a mão sem gde dificuldade, apesar de alguns espinhos. Já no alto da montanha me deparo com a enorme baixada com vista das montanhas sgtes a transpôr, mas por sorte rastros de capim e mato amassado indicam por onde descer. E lá vou eu descendo cautelosa e vagarosamente através daquele capim alto em terreno acidentado, q esconde traicoeiros buracos ansiosos pra torcer um pé.
Uma vez na baixada respiro aliviado ao andar em nível, mas isso não significa q a pernada seja mais fácil tendo em vista a gde qtdade de mato alto no caminho, q afasto com as mãos. Um capim avermelhado é presente por td caminho e atravessá-lo na marra é pedir pra sair td imundo com seu fino pólem escuro. Mas após cruzar nova ponte de concreto – esta a uma altura considerável – sobre um riacho num fundo vale, as 11:50 a pernada aparenta nivelar em definitivo, cruza uma estrada (q dá acesso a um tal Sitio Cantão) e segue sinuosa pela morraria sgte de forma desimpedida. Mas é aquela coisa: com a trilha tomada pelo mato razoavelmente alto, de onde é inevitável sair imundo de capim.
Com o sol das 12:15 fritando a cachola e a sede pegando, amaldiçôo a mim mesmo por ter esquecido o cantil em casa, acreditando na idéia de encontrar algum córrego pra molhar a goela. Até tem, mas estão no fundo dos vales e a trilha passa sempre afastados deles ou alto, por cima de pontes. Minha garganta ta pra lá de seca, mas eis q minhas preces foram atendidas e as 12:20, qdo o som borbulhante de água brotando de uma captação ao sopé de um pé-de-limão me permite uma breve pausa pra descanso e refresco da garganta.
A pernada tem continuidade em nível mais um pouco ate q tropeço outra vez com uma enorme baixada, q por sua vez é feita novamente por sobre a tubulação sem maiores problemas. O único som q me acompanha até então é o das arvores ao redor sendo remexido pelo vento, embora eventualmente consiga tb escutar alguma moto ou carro andando em algum lugar, perto dali. No alto da outra montanha a caminhada nivela um tempo, mas sempre com mato alto no caminho, desta vez úmido por conta de agora estar espremido no meio do corte vertical do morro.
Td vai bem até q surge surge uma piramba forrada de mato como obstáculo, as 12:40, o q me obriga a vencê-la pela encosta da direita q se mostra menos íngreme. Do outro lado a coisa não parece melhorar, e sem trilha nem nada não me sobra opção senão desesalaminhar a piramba oposta na base do vara-mato, desta vez um emaranhado de samambaias espinhentas, me firmando bem na vegetação e sabendo bem onde pisar. Uma vez em terra firme, a pernada prossegue em nível por mais um tempo, cruza uma estrada, e sobe um novo morrote pela encosta direita. O mato está sempre tomando conta da trilha, desta vez em menor qtidade mas mesmo assim bem incômodo pra avançar. Até ali já estava bem esfolado nas pernas e bastante sujo de capim.
Mas eis q dou numa nova e enorme baixadona, e com mato cada vez mais alto e espesso. Avalio se sigo por ali e digo “não” a mim mesmo, até pq havia uma precária estradinha q aparentemente acompanhava a tubulação pela esquerda. E é isso q faço, indo comodamente pela estrada sem perder de vista os postes onipresentes na tal “Trilha dos Tubos” e de vez em qdo conferindo a direção apontada pela bússola. Mas logo a estrada em q estou, após cruzar uma velha porteira, se transforma numa trilha q segue no sentido desejado. Visivelmente devo estar dentro de algum reflorestamento dada a qtdade de eucalipto e pinheirais ao meu redor. Mas q o caminhar aqui era mais agradável e desimpedido era o q importava mesmo.
A picada bordejou uma gde montanha pela direita até cair num aceiro de manutenção, de onde podia avistar a “Trilha dos Tubos”. Ao ir de encontro dela qual minha surpresa q a encosta onde estava era mto alta, mais precisamente um alto paredão vertical, pra alcançar novamente os tubos. Até q tentei desescalaminhar a piramba me firmando no mato mas a idéia logo diluiu-se qdo quase despenquei dali. Sozinho, preferi optar pela segurança e voltei à picada do reflorestamento, q ia sempre no sentido desejado, descendo suavemente a encosta da montanha eventualmente desviando de enormes gigantes da floresta tombados no caminho.
Às 1:45 terminei dando nos fundos de uma enorme e antiga serralheria, torcendo pra não haver cachorros no local. Pra minha sorte estava td desativado, o q se constatava no material td detonado e corroído pelo tempo. Dogs, nem sinal, ainda bem. Dali cai numa estrada de terra de onde via a tubulação ao norte, não muito longe, perto do Sitio Eldorado. “Quer saber, agora vou pela estrada mesmo!”, pensei, afinal já estava nos finalmentes e desejava chegar “apresentável” à Quatinga.
Dito e feito, não deu nem meia hora de estrada de chão bem sinalizada até q alcancei meu destino, o pacato bairro de Quatinga, com direito a vislumbre do domo rochoso da Pedra Grande reluzindo ao sol da tarde, ao sul. Lá avistei novamente a tubulação, agora exposta, rasgando a vasta planície sentido oeste. Encostei no boteco em frente à Igreja Nossa Sra da Piedade e mandei ver duas brejas naquele meio de tarde quente, enqto removia espinhos e algum mato pelo corpo, e aguardava o busão pra Mogi.
À semelhança de Taiaçupeba, Quatinga tb tem um pacato e manso estilo de vida, onde td se resume a uma rua principal, as pessoas te cumprimentam sem te conhecer e onde se ouve de td um pouco. Sertanejo e axé de um lado, funk e pagode no outro, e por ai vai. Isso qdo não tem um canto evangélico escapando de alguma casinha. Bem, nessas horas me finjo de surdo. Mas dose mesmo foi depois encarar a via-sacra da volta, demorada e tediosa, q procurei fazer no mundo dos sonhos. Isso sem contar o trem abarrotado de gente devido a manutenção de uma linha. Dane-se…
Os aqueodutos se estendem ainda por muitos kms até Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires, isso sem contar o pedaço q vem de Manoel Ferreira e se espicha até as proximidades de Salesópolis, cruzando um trecho repleto de montanhas forradas de Mata Atlântica e o melhor, sem estradas ao redor. Quem sabe qdo novamente me veja sem opções de pernadas vá dar uma conferida nessas outras direções apontadas pelos enormes tubos de água. É verdade q durante mto tempo torci o nariz pra este tipo de programas menos selvagens por serem um tanto rurais e nada excepcionais.
Contudo, a “Trilha dos Tubos” não deixa de ser diversão descompromissada por apenas nos oferecer um fácil desafio com alguma ralaçãozinha, onde durante 4 horas podemos nos desprender dos problemas urbanos atentando pura e exclusivamente a não despencar do tubo ou buscar um meio de contornar a mata fechada se interpondo no caminho. E assim deixar o sol e o vento soprarem do pensamento as preocupações do dia-dia.
Texto e fotos: Jorge Soto
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