Como diria meu grande amigo Marcio Araujo: – Não existe montanha fácil, você que está bem treinado. Não existe caminhada difícil, você que precisa comer menos e correr mais. Melhor dizendo, não existe parceria ruim, você escolheu mal.
Não importa onde vá: uma caminhada no parque perto de casa, trekking no Himalaia ou grandes escaladas na Patagônia estar preparado para sua proposta de empreitada e seus empecilhos deve ser prioridade para um bom passeio. Ainda mais importante é saber que seu limite não é a fome ou o frio. Seu limite é sua capacidade de superar o medo, manter a calma e respeitar as condições que a natureza te propõe.
Deu errado? Improvise. Ficou escuro? Use o bom senso. Se não pode somar estes dois, confie em seu guia ou amigo mais experiente. Se não é capaz de fazer nenhum destes, você não deveria estar ali.
Relendo os textos dos amigos Parofes (Contradições de um grande parque nacional) e Maximo Kausch (Confio em você cegamente), tive a certeza de que precisava rever meus conceitos e, com isso, a idéia de montanha para todos caiu por terra. Gostaria de estar errado ou que alguém me convencesse do contrario, mas acredito que montanha, mar ou céu são para quem precisa deles, para quem admira e se submete às condições impostas pela natureza.
Escalando, mergulhando ou voando, quando a pessoa errada esta ali só por modismo, ou pelo famoso OBA OBA ou o já tradicional UHUW!, quando o bicho pegar, ele vai te dar muita dor de cabeça e fazer da sua vida um inferno. O difícil é saber quem é esta pessoa.
Porque não sou guia? Porque eu não tenho o menor tato com estes tipos, e eles existem nas melhores famílias. Sabendo disso, não me habilito à guia de nada. Cometi o erro de levar este tipo para uma empreitada, e o bicho pegou. Nestas horas você descobre quem é o cara do HU HU! Graças a Deus tudo acabou bem, mas para o cara errado, o problema não acabou. Ele vai continuar culpando alguém por sua frustrada experiência no ambiente outdoor.
Tenho de dar o braço a torcer, o cara errado está certo. Devo comprar uma bola de cristal, um jogo de tarot, uma varinha mágica fabricada por Gregorovitch, mudar para Londres e me escrever em Hogwarts, torcendo para cair em Grifinória. Quem sabe assim eu consiga prever o futuro e resolver contratempos em passes da mágica.
Nestas horas dou cada vez mais valor ao trabalho dos guias devidamente treinados e registrados nos órgãos de montanha competentes. Excelentes profissionais de montanha que são capazes de superar o estresse psicológico que o comportamento destas pessoas gera e tocam para outra empreitada com a moral em dia e o dever concluído com seu cliente. Eu realmente não sirvo para este trabalho, deixo estes para guias como Hauck, Kausch e Marski, estes experientes, e que se enquadram na definição de guia de montanha.
Escalo há doze anos e já passei por bons e maus bocados dentro e fora do país. Já mergulhei nos lugares mais incríveis da America Latina e entendo muito bem os limites do corpo em condições extremas. Fiz escola de vôo livre e pude entender melhor ainda as questões de segurança quando os pés não estão no chão, isso depois de comer muito capim e areia aprendendo a decolar. Em todas estas modalidades eu tentei ser o melhor, dar meu melhor para seguir em frente, não para ser O cara, mas para zelar por minha vida e pelas pessoas que dependem de mim, meus filhos.
O que tiro destas experiências, boas ou ruins, é que existem dois tipos de homens que tentam ir para os esportes outdoor: Os espertos e os corretos. Os espertos são fracos, mesquinhos e culpam os outros por sua incompetência e fragilidade. Os corretos são justos, se calam e escutam os espertos reclamando de sua incompetência e falta de bom senso, sob um julgamento próprio de quem não compreende as condições físicas, psicológicas e técnicas necessárias em atividades outdoor. Estes, os corretos, fazem o que tem de ser feito para todos saírem bem de um dia ruim.
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Força sempre e boas escaladas.
Atila Barros
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