O que fiz antes, não lembro. Tudo foi apagado ao ver do restaurante em Morretes uma árvore centenária caindo perto do local onde há pouco tinha estacionado.
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No carro? Não, deve estar há uns 30 metros da árvore pelos meus cálculos. Respondi, tentando acalmar a dona do carro, que já queria correr através da tempestade de raios e vento para se certificar.
Os minutos de espera pelo fim da chuva de verão foram de uma calma aparente, uma quietude rompida pelas lembranças da grande árvore caindo e jogando seus galhos cheios de história para os ares.
Com o fim do vento, o confronto inexorável, numa esquina, me levou a uma tensão ainda maior: a parte de trás do carro estava intacta, mas e a frente, o que seria dela? Um homem olhando exatamente para o ponto de encontro entre a árvore e o carro, não poderia ser um bom sinal.
Acelerei o passo deixando todos para trás com suas próprias dúvidas. Os 30 metros que me distanciavam de saber o que havia acontecido mostraram-se 300. Quantas coisas pensei naqueles poucos segundos, quanta tensão. Enfim, chegando, o homem me pergunta:
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O carro é seu?
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…
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Eu queria fazer um jogo na Loto com você!
Mesmo sem ver como estava, a frase daquele homem tirou a própria árvore das costas do carro.
Por felicidade, a árvore escolheu duas testemunhas para seu esperado fim. Na rua deserta, dois carros, por um simples palmo de distância, presenciaram o fim daquilo que duas charretes e o Imperador viram o começo.
Que as fotos digam o que as palavras não disseram. Só não perguntem o que fizemos antes, foi sublimado abaixo de séculos de madeira de lei.