Valores ligados à ética, à responsabilidade social, à proteção do ambiente e ao respeito ao próximo, bem como à sua ideologia, gênero, crença, raça, opção sexual e pensamento pautam o ideal civilizatório contemporâneo.
Por isso mesmo, empresas, políticos e personalidades públicas buscam alinhar suas imagens a tais pressupostos.
Mas há pessoas compulsivas quanto a ênfase de sua indefectível conduta "politicamente correta" e das bandeiras da organização que lideram ou representam. E aí, exageram no discurso, tornam-se patrulheiras e donas da verdade, acabam prejudicando as nobres causas que pretendem defender.
A cada conversa, condenam qualquer frase de seus interlocutores que possa, mesmo que na mais inimaginável analogia, sugerir mínima transgressão àqueles preceitos.
Interagir "numa boa" com tais indivíduos é, a rigor, a mais desafiadora prova de tolerância, pois eles próprios, contrariando suas doutrinas, tornam-se radicais, intransigentes e incapazes de ampliar o foco de suas análises.
Perdem o pluralismo e trocam o diálogo pelo monólogo. Em seu hermetismo, são incapazes de ouvir e refletir sobre a opinião dos outros. Por princípio, consideram incauto e equivocado quem ouse pensar o contrário ou questionar qualquer um de seus argumentos.
Todos nós sofremos com frases ácidas dos vigilantes da sociedade, sempre ditas sob a predisposição de julgar em vez de perguntar; também ouvir, em vez de só falar. O proselitismo eloquente e incontido caracteriza o perfil desses cidadãos que se perdem no radicalismo. Na prática, contradizem o seu próprio repertório teórico. São a marca da intolerância e da incoerência.
É lícito e legítimo que pessoas e empresas guiadas por valores socioambientais corretos e protagonistas do voluntariado e de projetos no âmbito do terceiro setor exercitem o chamado marketing social.
Isso, entretanto, não significa que seus programas, idéias e ações sejam melhores e mais certos do que os dos outros. Afinal, o fato de cumprirem seu dever de cidadania não lhes dá o monopólio da verdade e da prática do bem.
Cá entre nós, quem, de fato, é politicamente correto não precisa salientar tal condição, descendo às minúcias de cada frase, gesto e olhar de seus interlocutores, para os depreciar e, assim, se autoafirmar.
Devemos ser intransigentes e não aceitar em hipótese alguma a discriminação, o preconceito, a falta de ética, a improbidade e a devastação ambiental. Para tanto, mais do que a palavra, é importante a atitude, inclusive a indulgência quanto à condição inerente ao ser humano: somos todos falíveis.
Texto de Josué Gomes da Silva publicado em 30/10/2011
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