Privado involuntariamente de cair na serra já a algumas semanas por conta tanto de alguns afazeres particulares como pelo constante mau tempo, neste domingo não deixei por menos e me mandei pra Paranapiacaba ao menos pra sentir um pouco do cheiro de mato e desenferrujar as juntas. Com tempo apertado e tendo q retornar cedo á “Terra da Garoa”, lancei mão de um roteiro q tinha exatamente pra esta ocasião. Na verdade, uma dica soprada pelo Nei (da ecocultural) q já a algum tempo despertava alguma curiosidade em conferir e o melhor, estava situada bem próxima do vilarejo do Taquarussu! E por ser um bate-volta relativamente breve e, em tese, tranqüilo, nesta ocasião tive a companhia da minha vizinha Carol e sua filhota espoleta, a Sophia, mais conhecida como Sossô.
Dessa forma, chegamos sem pressa à Paranapiacaba por volta das 9:20hrs, qdo já desembarcávamos de um ônibus repleto de turistas naquela fria manhã de domingo. Com um céu azul e poucos vestígios de nuvens prometendo um sol radiante pro resto do dia, cruzamos a vila inglesa de cabo a rabo, q por sua vez recém despertava pra receber sua população efêmera de andarilhos, bikers, motoqueiros e td sorte de visitantes. Após um rápido aceno à folclorica Dna Francisca – q encostada na varanda de sua casa previa algum faturamento pras suas artesanias naquele dia movimentado – e uma breve parada numa bica pra encher os cantis, começamos oficialmente a pernada ao deixar a vila inglesa pra trás e adentrarmos nos domínios da Estrada do Taquarussu.
A caminhada pela bucólica estrada de chão foi embalado com muita conversa, principalmente pelos causos escolares da Sossô, q tagarelava pelos cotovelos animadamente. Pra já começar a descontrair já aquele comecinho de manhã, tomamos uma discreta picada pela esquerda q em pouco tempo nos levou à “Cachu da Bica”. Com mais jeito de bica q cachu, no alto daquela minuscula queda a Sossô teve seu primeiro pit-stop pra hidratar seu mirrado corpo com sua pet de 500ml. Na sequencia seguimos por uma trilha na mata q aparentemente retornava pra estrada, mas não sem antes cruzar um trecho repleto de barro e brejo, onde bastou chapinhar aqui e ali. O curto trecho q nos separava, enfim, da estrada era tomado por enormes voçorocas de lírios-do-brejo no caminho, mas q era facilmente vencido apenas forçando a passagem. E assim a Sossô sobrevivia à sua primeira varação de mato, com louvor.
Uma vez na estrada bastou seguir por ela no mesmo compasso anterior, ate o momento em q paramos na frente da entrada da trilha da Cachu Água Fria. Vamos ou não? Claro q sim! Afinal o dia mal havia começado! Adentramos outra vez no frescor da mata úmida por meio de uma picada bem batida e logo nos deparamos com o córrego Agua Fria, q bastou cruzar com cautela atá a outra margem. Dali bastou acompanhar o curso dagua pela direita durante um tempo até q tivemos q cruzá-lo novamente, saltando de pedra em pedra. Aqui a Sossô teve a ajuda da mãe coruja em virtude do limo visguento acumulado nas rochas, o q as deixava um verdadeiro sabão. Num piscar de olhos tropeçamos com a pequena queda q empresta o nome do córrego, agora totalmente descaracterizada devido ao deslizamento de uma enorme pedra da frente da cachu.
Cruzando outra vez à margem esquerda, teve um pequeno trecho de escalaminhada de pedras onde a Sossô mostrou suas extraordinárias habilidades de lagartixa profissional, deixando até a gente pra trás. Mas uma vez na picada principal, mais precisamente aquela q leva á Comunidade, tomamos o sentido contrario e em menos de 5min emergíamos da mata pra cair novamente na bucólica Estrada do Taquarussu. Detalhe, sempre guiados pela nossa cia mirim na dianteira! Mas não sem antes este q vos escreve carimbar o traseiro ao resbalar na trilha, no vão do chão batido e a pedra molhada, diga-se de passagem!
Novamente na Estrada do Taquarussu as 10:30hrs, bastou seguir em frente e agora indefinidamente. Mas foi ali durante aquele trajeto sombreado e envolto de espessa e densa vegetação q tivemos as primeiras queixas da nossa pequena integrante. “Falta muito?”, perguntava ela no alto dos seus 8 anos bem vividos, já demonstrando algum cansaço. Claro q enrolamos dizendo q não, mas aquele já era um sinal q teríamos q fazer uma nova parada na vila-presépio. Dito e feito, as 11hrs pisamos no vilarejo do Taquarussu onde encostamos o esqueleto na sombra à frente da simpática Igreja Sta Luzia, onde além de encher novamente os cantis mastigamos um saboroso sanduba, engolimos algumas goiabadas e bebericamos suco de caixinha. Eu aproveitei pra conferir as anotações e croqui da localização exata do vale q visava conhecer ainda naquele dia.
Refeitos, retomamos a pernada estrada abaixo, sempre sentido nordeste, agora bem mais dispostos. E dispostas. O sol agora brilha sobre a mata da morraria ao redor, composta em sua maioria por reflorestamentos de eucaliptos. O descanso fez bem à Sossô, q acompanhou nosso ritmo de caminhada sem nenhum problema. Tb pudera, pois sempre havia alguma coisa q lhe chamava a atenção e a mantinha ocupada, fosse o ruído de algum bicho no mato, alguma frutinha no chão ou qq detalhe significativo do caminho. Vale destacar a impagável coreografia da Macarena em dueto com sua progenitora, a qual tive o gde privilegio em presenciar ao vivo.
Brincadeiras a parte, simultaneamente eu ficava de olho na geografia a nossa volta de modo a reconhecer algum dos detalhes das infos q dispunha. Pois bem, devíamos ter andado um pouco mais de um km desde nossa ultima parada, no Taquarussu, qdo a estrada faz uma curva fechada pra esquerda. Eram exatamente 11:30hrs e ali podia ver perfeitamente duas trilhas bem óbvias e próximas, saindo de locais diferentes da estrada principal: uma um pouco antes da curva, rumando pro sul; e outra saindo depois, indo sentido leste. Nossa picada era a primeira, e ela nos levaria á base do cânion, teoricamente.
E lá fomos nos embrenhando por aquela trilha desconhecida, percorrendo a encosta de um morro de reflorestamento e chapinhando atraves de chão de terra, capim e brejo. Muito brejo, do qual desviávamos pelos lados. Inicialmente a rota seguia pro sul, mas logo depois vimos q a trilha praticamente contornava o morro em nível, pq depois a rota derivou pra leste. Mas subitamente a trilha desembocou numa enorme clareira de pasto, e sua continuidade tendia ainda pra leste, bem evidente, cruzando um límpido córrego q descia a serra pra oeste. Contudo, aqui havia q abandonar essa vereda e tocar pra nordeste, atraves de outra picada não tão obvia qto a principal. Na verdade não havia nem trilha e sim algum vestígio de mato rasteiro amassado.
Trilha ou não, aquele era sim o caminho pq dali já dava perfeitamente avistar o q parecia ser um desfiladeiro se afunilando pro norte. E la fomos de encontro ao tal cânion, sinal q já estavamos nos domínios do Vale do Veado. Se ate então a Sossô tava td serelepe e animada pela trilha bonitinha e batida, aqui ela já ficou ressabiada ao se ver obrigada a atravessar capim alto e algum mato q tanto pinicava como arranhava seus bracinhos descobertos. “Ai!” e “Ui!” torna-se a exlamação recorrrente da nossa aventureira-mirim, enqto adentrávamos cada vez mais o interior daquele “cânion” , q não esconde sua origem como uma velha e antiga mina de extração em desuso, porém coberta de mato.
Não demorou e um pouco antes do meio dia nos encontrávamos espremidos quase no vértice daquele improvável desfiladeiro.
A “trilha” enfim, havia chegado ao final. A partir dali o mato espesso e agreste tomava conta completamente da muralha a nossa frente, enqto o imponente paredão de rocha granítica de mais de 30m á nossa direita era o q mais se assemelhava a uma parede digna de ser rapelada, conforme as infos davam conta. E olhando bem, de fato podiam ser avistados um par de grampões no alto.
Pois bem, fim da linha? Q nada. A íngreme encosta a nossa direita era passível de ser escalada perfeitamente, desde q se agarrasse com força no mato, feito corrimão! E lá fui eu, avançando naquela escalaminhada, seguido pelas duas aventureiras de fds, sendo q a pequena não parecia acreditar no q estava fazendo áquela alturado campeonato, dado o grau de “esbugalhamento” de seus dois pequenos olhinhos. “Sossô, segura na mochila q eu te carrego piramba acima!”, dizia a Carol, na frente da própria cria, q por sua vez se segurava nela e ia ganhando altitude, aos poucos.
Uma vez no alto, um patamar acima mais nivelado, pudemos apreciar melhor o desfiladeiro (e td sua envergadura) de uma perspectiva mais privilegiada. De fato, avançar ao alto do seu vértice era possível sim, mas demandaria uma ralação e perrengue no mato desnecessárias, principalmente pra nossa pequena e inexperiente integrante, cujo semblante não se envergonhou de deixar claro q preferia andar por trilha bonitinha a varar-mato! “Mãe, não to gostando! O mato ta espetando!!”, falou a Sossô, agora verbalizando em alto e bom tom o seu desconforto. Eu bem q queria prosseguir cânion acima, mas a situação agora era bem diferente de td q já havia passado. Tinha q estar ciente q as motivações de uma criança são bem distintas das q nos movem e fatalmente entrarão em conflito com nossa determinação de vencer algum desafio q envolva algum perrengue. Eu e a Carol poderíamos facilmente encarar o vara-mato, mas a Sossô tava ali de carona, interessada apenas na caminhada, e portanto esta deveria ser o mais agradavel e prazerosa possível, coisa q àquela altura não tava sendo.
Sendo assim, o jeito era voltar. Mas não desescalaminhando td q aquela piramba q havíamos subido e sim pelo patamar nivelado em q nos encontrávamos, q visivelmente voltava td o trajeto, porém atraves da encosta íngreme com capim baixo tomando conta do q parecia ser uma vereda. E por ela retornamos tranquilamente, mas não sem antes bater algumas fotos bacanas q pareceram esboçar novamente um sorriso na nossa pequena perrengueira. Mas o sorriso durou pouco pq logo a trilha deu num amotoado de restos de mineração, com predominância de mato e mais mato. Foi aqui q deixei a Carol cuidadando dela e fui atrás de algum rastro da trilha perdida, q não tardei em encontrar em questão de menos de um minuto.
Dito e feito, pois não varamos nem de 50m de capinzal alto sentido sudeste q caímos, enfim, na picada principal. A Sossô respirou aliviada pois agora o mato não a espetaria ou arranharia mais, e mto menos teria q passar por baixo de grudentas teias de aranha com suas agigantadas proprietárias de oito patas espiando nossa passagem. Uma vez na picada principal poderíamos perfeitamente tocar pra direita e retornar td caminho percorrido, mas ai significaria terminar a trip de forma inglória. Sendo assim, tomei a liberdade de decidir “democraticamente” de q tocaríamos pra esquerda pra ver onde diabos daria aquela bem-vinda e erodida vereda.
E lá fomos nos, subindo suavemente o q parecia ser o alto de um morro, derivando aos poucos pro norte. A picada encontrava-se bem erodida e não escondia sua vocação de trilha off-road, o q ficou patente pelas marcas de pneus de moto. Erodida e lisa feito sabão como ela só, não tardou pra Sossô escorregar e carimbar seu popô apenas pra fechar de vez a cara e fazer bico, mas bastou apenas um olhar da mãe nela q ficou “sorridente” novamente.
Uma vez no alto da montanha seguiu-se uma descida interminável, agora bordejando a encosta de um vasto reflorestamento de eucaliptos q, de forma geral, dava a volta pelo Vale do Veado. Enqto avançávamos podíamos ouvir o som de água em profusão correndo no fundo do vale a nossa direita, provavelmente do Rio Taiaçupeba. Ate q tropeçamos com uma bifurcação q nos obrigou a conferir a bússola e a carta q trazia a tiracolo. Ao ver a bússola a Sossô pareceu se animar novamente e passou a comandar a caminhada, dando as coordenadas pra gente qdo solicitada. Resumindo: tocamos pro ramo da esquerda (leste) pq a bifurcação da direita descia reto pro norte, e decerto desembocaria próximo do Camping Simplão, ou seja, longe da vila inglesa. E la fomos dando continuidade aos finalmentes do nosso intrépido circuito, agora guiados pela navegadora Sossô, q não desgrudava os olhos da bússola em suas mãos.
Conforme previsto, as 12:45hrs desembocamos na Estrada do Taquarussu e iniciamos a longa jornada de volta pra vila inglesa. No caminho, fizemos uma parada a beira de estrada bem na frente da entrada da trilha do cânion. Enqto as meninas descansavam eu fui bisbilhotar a outra picada, curta e íngreme, q subia ao alto do cânion, de onde tive uma outra perspectiva do desfiladeiro emoldurada por tds as verdejantes serras do entorno. Alem, claro, da rara vista de cima dos vertiginosos paredões descendo verticalmente ate sua base, coberta de mato.
Retornei de encontro as meninas pra começar nossa looonga jornada pra Paranapiacaba, td em subida, já prevendo q provavelmente pararíamos a cada 10min pra dar tempo da Sossô descansar. Mas parece q nosso santo estava iluminado naquele domingo pq não caminhamos nem 10min conseguimos carona no valente fuscão do Seu Luiz, q tinha uma propriedade perto da Estrada de Furnas e ia no mesma direção q a gente. Uhúúúú! Melhor q isso, impossível! Enqto o veiculo vencia bravamente, aos solavancos, a estrada feito o carro do folclórico Zé Pescocinho (aquele da Bocaina), o simpático senhor nos colocava a par da bicharada q era possível avistar na região, pois em borá conehcesse bem ali dificilmetne se esgueirava por trilhas, quinem a gente.
Chegamos em Paranapiacaba as 13:45hrs, q estava bastante movimentada, inclusive com gente trajada de forma pitoresca q parecia saída do filme “O Senhor dos Aneis”. “Que porra é essa?”, me perguntei. Daí caiu a ficha q na vila sediava a “9º Convenção das Bruxas e Magos”, com exposições, quisques, cursos esotéricos, danças e tals. Com tempo livre, a Sossô foi bisbilhotar uma dessas dancinhas malucas alem de se esbaldar no parquinho local. Na sequência, estacionamos no Lgo dos Padeiros afim de bebemorar nossa empreitada, além de beliscar pasteis, fogazzas e salgados. So zarpamos da vila por volta das 17hrs, no exato momento em q as brumas se debruçaram ali trazendo um friozinho junto, q nos obrigou a trajar agasalhos. Logicamente q a viagem de trem foi feita no mundo dos sonhos. Afinal, após um perrenguinho light como esse a Sossô, q tirou de letra a trip proposta, merecia finalmente seu descansinho merecido.
E assim transcorreu nosso simplório e prosaico bate-volta nos arredores do Vale do Veado, um bucólico lugar q se não oferece maior dificuldade de acesso ao menos possibilita matar o tempo a tiros de trezoitão. Acredito q o melhor mesmo seja emendar esse programa com outro pela região, por exemplo, a Pedra Grande de Quatinga. Ou pra quem curte escalar, tai a chance de tentar explorar melhor aqueles paredões graniticos praticamente isentos de visitação alguma e próximos da vila, com possibilidade de acampar bem ao lado com água farta. Ou quem sabe, tentar buscar a possibilidade futura de uma travessia direta rumo o Vale do Rio Taiaçupeba. Resumindo, aos poucos e avançando cada vez mais, temos mais opções de pernadas sendo vislumbradas a cada passeio dado pela pitoresca vila de Paranapiacaba. Com a criançada ou sem.
Jorge Soto
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1 comentário
Olá Jorge, fiquei bem interessado em explorar esse vale, mas pelas infos q consegui fiquei um pouco confuso, se trata de uma continuidade do vale do Rio Quilombo? A trilha q vc descreve me parece mto com a q segue sentido cachoeira do Anhangabaú, está correto, pela carta de Santos o córrego Taiaçupeba é q nasce desse vale.