Foi uma temporada atípica. Poucos cumes no Makalu, Manaslu, Kangchenjunga, Cho Oyu e Shishapangma. Algumas outras montanhas foram palco de enormes ondas de conquistas, caso do Lhotse, Annapurna e Dhaulagiri (neste dois alpinistas concluíram os 14 cumes 8000: o italiano Mario Panzeri e o japonês Hirotaka Takeuchi). A atipicidade ficou mais evidente no Everest. Com um clima muito seco e problemas na rota (seracs na cascata de gelo e quedas de rocha na subida do flanco do Lhotse), tivemos os primeiros cumes quase um mês após o que normalmente ocorre nas temporadas regulares. Vários times retornaram para casa devido ao grau de periculosidade, o que inclui a expedição comercial mais badalada de todas: a australiana Himex. Quando, após muitos atrasos, a equipe de sherpas fixou a rota toda, houve um verdadeiro “estouro da boiada”, com engarrafamentos monstruosos na via nepalesa (há várias fotos divulgadas na internet mostrando um congestionamento caótico). Apesar dos atrasos e dos congestionamentos, meus registros preliminares são de quase 600 cumes, mas estou ainda em fase de compilação.
Do nosso continente, não conseguiram cume Waldemar Niclevicz (tentou o Annapurna); Badia Bonilla & Maurício Ahumada (tentaram o Annapurna também); Javier Perez & Hector Sanchez Torres (a empresa deles – Himex – cancelou a tentativa no Everest); Angel Armesto (tentou o Everest); Ariel Perinetti (tentou o Shishapangma); expedição chilena ao Kangchenjunga, liderada por Luis Alvarez.
Todavia, registre-se que foi uma temporada extremamente proveitosa para os alpinistas latinos, como se vê da – extensa – lista de cumes abaixo:
ANNAPURNA
20.04 – Cleo Weidlich (BRA) [1º cume brasileiro]
06.05 – Richard Hidalgo (PER) [1º peruano]
CHO OYU
26.05 – Maximo Kausch (ARG) (Summitclimb) [4x Cho Oyu]
26.05 – Ralph Jaiser (CHIL) (Summitclimb)
DHAULAGIRI
26.05 – Cleo Weidlich (BRA) (1º cume brasileiro)
EVEREST
18.05 – Rodrigo Jordan (CHIL) [2x Everest]
18.05 – Philip Olea (CHIL)
18.05 – Juan José Varela (CHIL)
18.05 – Sebastián (Pollo) Varella (CHIL)
18.05 – Pedro Vidal (CHIL)
18.05 – Ernesto Olivares (CHIL) [2x Everest]
18.05 – Sebastian Irazzával (CHIL)
18.05 – Gabriel Becker (CHIL)
18.05 – Paulo Grandy (CHIL)
18.05 – Christopher Hurtado (CHIL)
19.05 – Jose Luis Peralvo (ECU) [Alpine Ascents] [4x Everest]
25.05 – David Israel Refizo (MEX) [IMG]
25.05 – Willie Benegas (ARG) [Patagonian Brothers] [11x Everest]
25.05 – Hernan Carracedo (ARG) [Patagonian Brothers]
25.05 – Fernando Grajales Jr. (ARG) [Patagonian Brothers]
25.05 – Pablo Betancourt (ARG) [Patagonian Brothers]
25.05 – Warner Rojas (C RICA) [Jagged Globe] (1º costa-riquenho)
26.05 – Joshua Jarrín (ECU) [Peak Freaks]
LHOTSE
19.05 – Damián Benegas (ARG) [Patagonian Brothers]
26.05 – Tomas Ceppi (ARG) [Patagonian Brothers]
26.05 – Luciano Badino (ARG) [Patagonian Brothers]
OBSERVAÇÕES
1 – Cleo Weidlich foi uma das sensações da temporada atual. Ela fez as primeiras ascensões absolutas brasileiras tanto ao Annapurna quanto ao Dhaulagiri. Assim, ela é a primeira brasileira a escalar Gasherbrum I, Manaslu, Kangchenjunga, e os dois acima citados; cinco primeiras ascensões nacionais, o que a torna a líder absoluta dessa estatística. Ademais, Cleo chegou à metade dos 8000 culminados. Com sete oitomil no currículo, ela está entre as oito mulheres com mais desses cumes em todos os tempos. Ademais, a brasileira tornou-se a primeira mulher na história a fazer esse double-header (dobradinha) em uma temporada.
2 – Está aberta a “estação de caça verde-amarela ao Broad Peak”. E isso porque, com as conquistas de Cleo este ano, o Broad Peak é o único 8000 que ainda não foi escalado por brasileiros. O alpinista que fizer essa montanha entrará para a história como aquele que completou os catorze 8000 para o Brasil (antes que alguém venha com ressalvas, sim o Nanga Parbat foi culminado em 1999).
3 – Outra sensação foi a equipe chilena liderada por Rodrigo Jordán e que escalou em comemoração aos vinte anos da primeira incursão chilena ao Everest. A expedição foi um primor de organização e de estratégia. Em uma temporada bem difícil em termos de clima, os chilenos foram os primeiros a chegar no cume após terem sido instaladas as cordas fixas. Pisaram no ponto mais elevado dez chilenos e dez sherpas, num total de vinte cumes, em uma manhã histórica para a América do Sul: nunca uma expedição sulamericana botou tantos alpinistas de uma só vez no cume de um 8000. Os dois mais experientes – Rodrigo Jordán e Ernesto Olivares – fizeram cume pela segunda vez. Todos os demais, pela primeira vez, o que inclui alguns soldados do exército. Diversos dos que fizeram cume haviam participado da exitosa expedição chilena ao Lhotse há alguns anos atrás.
4 – Há três gigantes na região do Khumbu: Everest (8850m), Lhotse (8516m) e Nuptse (7879m). Escalar os três é um privilégio para poucos. Esse desafio se chama “Trilogia do Khumbu”, e até hoje só foi completado com sucesso por dois escaladores: Andy Lapkass (EUA) e Gerlinde Kaltenbrunner (AUT). A expedição comercial Patagonian Brothers/Benegas Brothers foi ao Nepal para tentar completar, coletivamente, os três em uma única temporada, na expedição La Herradura del Khumbu. Até agora, o time colocou quatro integrantes no cimo do Everest (25 de maio) e três no Lhotse (19 e 26 de maio). Nesse momento, Damian Benegas está escalando o Nuptse. Se obtiver sucesso, será o terceiro escalador da história a fechar a Trilogia do Khumbu, e fará o time voltar para a Argentina coberto de glória.
5 – O speed climber equatoriano Ramiro Tisalena (vulgo Pato) está no Everest tentando uma ascensão-relâmpago, no seu projeto Everest En Un Día.
6 – Os guias sulamericanos ampliaram o seu currículo de escaladas. José Luis Peralvo, do Equador, escalou o Everest pela quarta vez, mais do que qualquer outro de seu país. Maximo Kausch, da Argentina (e que morou a maior parte de sua vida no Brasil), fez seu quarto cume no Cho Oyu, um recorde sulamericano nessa montanha. Por fim, Guillermo (Willie) Benegas, lendária figura no Everest, fez cume pela 11ª vez, sendo suplantado apenas pelo Americano David Hahn, que tem 14 cumes. Ou seja, o argentino é o segundo ocidental com mais cumes no Everest, o que é impressionante.
Rodrigo Granzotto Peron
texto finalizado até 29-5-2012
* os dados contidos no presente artigo são preliminares e serão revistos no futuro, à medida em que os e-mails enviados aos líderes de expedição retornarem com mais dados e detalhes.